sexta-feira, 6 de setembro de 2013

(1968) Letzte Worte

                                                              Alemanha (filmado em Creta) | 13min | 35 mm  |p & b
                                                                                Roteiro, produção e direção: Werner Herzog
                                                                                                                     Som: Herbert Prasch
                                                                                            Montagem: Beate Mainka-Jellinghaus
                                                                                                           Fotografia: Thomas Mauch
                                                                                              Música: música tradicional de Creta
                                                                                     Elenco: Antonis Papadakis (não creditado)



Ainda hoje é um filme central para mim, me deu a coragem para fazer os filmes que fiz depois.”¹

Filmado em dois dias e editado em apenas um, Letzte Worte ("Últimas Palavras", em alemão) se passa nas ilhas de Creta e Sinalonga, na Grécia, e conta a história de um homem que é levado à força de uma ilhota (que servira de leprosário no passado), evacuada pela polícia, para a ilha principal.

[Não entendi muito bem por que o homem não podia ficar lá sozinho, comendo “lagartos, cacto e tomate”, entalhando seus navios de pedra, esquadra imaginaria que ele dizia comandar.]


O que restou dos antigos moradores da ilha

Esse homem, exímio tocador da chamada lira bizantina (espécie de miniviolino, tocado com arco), todas as noites vai a um bar tocar e cantar (sim, ele canta normalmente) músicas folclóricas gregas, se recusa a dizer qualquer coisa que não seja “Eu não falo nada! Não vou dizer nada! Eu não falo!”.

No papel principal, aliás, está Antonis “Kareklas” Papadakis (1893–1980), o mais célebre instrumentista cretense e um dos maiores tocadores de lira bizantina do século 20.


Kareklas fazendo sua lira bizantina chorar

Para Herzog, Letzte Wortetem muita ousadia em sua forma narrativa e completo desprezo pelas ‘leis’ de narrativa que o cinema tradicionalmente usa para contar histórias”², e sem as estilizações de narrativa desse curta, jamais existiriam filmes posteriores como Fata Morgana ou Little Dieter Needs To Fly (1997), em que essas ‘liberdades’ seriam mais bem desenvolvidas.

Quanto à Ilha no mundo real, após séculos sob o domínio turco-otomano, foi retomada pelos cristãos no final do século 19 e então serviu como colônia de leprosos até o final dos anos 1950s (um dos últimos leprosários a serem desativados na Europa), quando foi abandonada, permanecendo assim desde então.

Já o roteiro é mesmo uma lenda criada por Herzog, como um Kaspar Hauser (que ele filmaria sete anos depois) pessoal em sua ligação peculiar com a linguagem.



Dois policiais patetas que ficam repetindo suas falas

Este filme já é recomendável (embora não imprescindível) para qualquer cinéfilo, não necessariamente um herzogófilo. Vale pelo inusitado tanto da história quanto da narrativa, e um imenso salto qualitativo comparado ao curta anterior (Die Beispiellose Verteidigung Der Festung Deutschkreuz, do mesmo ano).

Herzog sem dúvida já estava pronto para seu primeiro longa (que, aliás, foi feito concomitantemente a este Letzte Worte), que veremos a seguir.

¹ HERZOG, Werner. Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema (Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema, 2008), de Grazia Paganelli. Indie Lisboa, 2009.

² HERZOG, Werner. In: Herzog On Herzog, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.

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