Alemanha (filmado na Áustria) | 15min | 35 mm | p & b
Roteiro, produção, direção, som e montagem: Werner Herzog
Fotografia: Jaime Pacheco
Música: Uwe Brandner
Elenco: Peter Brumm, Georg Eska, Karl-Heinz Steffel, Wolfgang von Ungerg-Sternberg
“Até ser derrotado é melhor do que nada.”¹
O site oficial de Herzog define este filme ("A Defesa Sem Precedentes Do Forte Deutschkreuz", em alemão) como “uma sátira sobre os estados de guerra e paz, e os absurdos que eles inspiram”.
Considerando o inédito Spiel Im Sand, é o terceiro filme do diretor, e o terceiro curta-metragem.
Fugindo de uma tempestade, quatro rapazes entram na tal fortaleza abandonada, que fica na fronteira entre Áustria e Hungria, e que serviu de base do exército alemão até ser tomado pelos russos, na Segunda Guerra, onde encontram armamento, uniformes e bebidas, e começam a brincar de soldados, defendendo a construção de inimigos imaginários.
[Aliás, estranho que o nome da cidade onde fica a tal fortaleza aparentemente é Deutschkreutz, não Deutschkreuz; não sei se há diferença.]
Este filme também é mudo, porém conta com um narrador, que ao mesmo tempo conduz e confunde a pequena trama, e a trilha sonora limita-se a uns dedilhados ocasionais (e irritantes) de algo que parece ser um ukelelê, e sons que remetem a guerra, como tiros e explosões.
O narrador, como que convencido pelo poder sedutor do militarismo (não deixa de ser corajoso tratar disso menos de 20 anos depois da Segunda Guerra, em plena Alemanha), deixa de explicar o filme para delirar em cima dele, passando de descrições sobre o ambiente e os personagens para uma diatribe sobre o valor das guerras.
Tudo isso enquanto a vida lá fora segue normalmente, com pacatos fazendeiros indo e vindo com seus tratores e ancinhos, e os “soldados” fazem tolices como perseguir um camundongo (que acaba morto, não sei se de estresse ou a furos de baioneta mesmo) ou uns aos outros, se embriagar e fazer um deles prisioneiro, amarrado a um carrinho-de-mão.
Duas características da obra de Herzog surgem neste curta:
– Imagens bizarras aleatórias: nessa confusão (no bom sentido) entre ficção e documentário da mitologia herzogiana, sempre vemos imagens que não têm a ver com a história, mas que acabam entrando no filme porque são legais ou têm impacto. Logo no começo deste, temos um filhote de pássaro agonizando no chão, sozinho.
– Loucura/obsessão: são traços do próprio Herzog – como vai ficar claro em muitos filmes a seguir – que é objeto de interesse em sua obra. Sempre teremos personagens insanos, deslocados, deslocados da sociedade (e até da realidade) por casa de alguma ideia fixa. Neste, temos os rapazes que tornam-se soldados e ficam se precavendo contra inimigos imaginários.
Temos uma evolução de jogo de câmera, de narrativa, de níveis de entendimento... mas, já não temos como assistir a Spiel Im Sand, o abismo entre a primeira experiência cinematográfica, Herakles, e este Die Beispiellose... fica gigantesco.
Dessa forma, é melhor analisar sua evolução com os filmes seguintes, mais convencionais (e todos disponíveis para exibição). E de todo modo, este é mais um filme só para aficcionados pelo diretor, visto que a metáfora, ainda que com o bom recurso da narrativa contraditória, torna-se cansativa logo nos primeiros minutos e o interesse de sua mensagem se esgota ao final da projeção.
O site oficial de Herzog define este filme ("A Defesa Sem Precedentes Do Forte Deutschkreuz", em alemão) como “uma sátira sobre os estados de guerra e paz, e os absurdos que eles inspiram”.
Chegando à fortaleza |
Considerando o inédito Spiel Im Sand, é o terceiro filme do diretor, e o terceiro curta-metragem.
Fugindo de uma tempestade, quatro rapazes entram na tal fortaleza abandonada, que fica na fronteira entre Áustria e Hungria, e que serviu de base do exército alemão até ser tomado pelos russos, na Segunda Guerra, onde encontram armamento, uniformes e bebidas, e começam a brincar de soldados, defendendo a construção de inimigos imaginários.
[Aliás, estranho que o nome da cidade onde fica a tal fortaleza aparentemente é Deutschkreutz, não Deutschkreuz; não sei se há diferença.]
Provando o fardamento e os acessórios |
Aprendendo a usar as armas |
Este filme também é mudo, porém conta com um narrador, que ao mesmo tempo conduz e confunde a pequena trama, e a trilha sonora limita-se a uns dedilhados ocasionais (e irritantes) de algo que parece ser um ukelelê, e sons que remetem a guerra, como tiros e explosões.
O narrador, como que convencido pelo poder sedutor do militarismo (não deixa de ser corajoso tratar disso menos de 20 anos depois da Segunda Guerra, em plena Alemanha), deixa de explicar o filme para delirar em cima dele, passando de descrições sobre o ambiente e os personagens para uma diatribe sobre o valor das guerras.
Tudo isso enquanto a vida lá fora segue normalmente, com pacatos fazendeiros indo e vindo com seus tratores e ancinhos, e os “soldados” fazem tolices como perseguir um camundongo (que acaba morto, não sei se de estresse ou a furos de baioneta mesmo) ou uns aos outros, se embriagar e fazer um deles prisioneiro, amarrado a um carrinho-de-mão.
Vigiando inimigos imaginários |
Duas características da obra de Herzog surgem neste curta:
– Imagens bizarras aleatórias: nessa confusão (no bom sentido) entre ficção e documentário da mitologia herzogiana, sempre vemos imagens que não têm a ver com a história, mas que acabam entrando no filme porque são legais ou têm impacto. Logo no começo deste, temos um filhote de pássaro agonizando no chão, sozinho.
– Loucura/obsessão: são traços do próprio Herzog – como vai ficar claro em muitos filmes a seguir – que é objeto de interesse em sua obra. Sempre teremos personagens insanos, deslocados, deslocados da sociedade (e até da realidade) por casa de alguma ideia fixa. Neste, temos os rapazes que tornam-se soldados e ficam se precavendo contra inimigos imaginários.
Temos uma evolução de jogo de câmera, de narrativa, de níveis de entendimento... mas, já não temos como assistir a Spiel Im Sand, o abismo entre a primeira experiência cinematográfica, Herakles, e este Die Beispiellose... fica gigantesco.
Dessa forma, é melhor analisar sua evolução com os filmes seguintes, mais convencionais (e todos disponíveis para exibição). E de todo modo, este é mais um filme só para aficcionados pelo diretor, visto que a metáfora, ainda que com o bom recurso da narrativa contraditória, torna-se cansativa logo nos primeiros minutos e o interesse de sua mensagem se esgota ao final da projeção.
¹ Uma das últimas falas do narrador
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