Alemanha/Áustria (rodado na Índia) | 85min | 16 mm |cor
Roteiro e direção: Werner Herzog
Produção: Wolfgang Rest
Som: Rainer Wiehr
Montagem: Michou Hutter
Fotografia: Rainer Klausmann
Música: apenas o som ambiente das apresentações
Elenco: André Heller
Com o subtítulo Das Exzentrische Privattheater Des Maharadscha Von Udaipur (O Excêntrico Teatro Privado Do Marajá De Udaipur), Jag Mandir (nome do palácio onde se passa o filme), na verdade, não é muito mais do que isso: a convite do artista austríaco André Heller (1947–), cuja equipe passou um ano e meio viajando pela Índia a fim de catalogar a diversidade cultural do país – a pedido do marajá (na verdade um maharana, título acima) –, Herzog filma mais ou menos dois mil artistas (dos mais de dez mil localizados), entre dançarinos, músicos, contorcionistas e ilusionistas.
Após uma breve explicação de André Heller sobre o que representa o filme, os setenta e tantos minutos seguintes de filme, divididos em três atos, são a apresentação de dezenas, centenas desses artistas, em rituais de grande beleza, dignidade e efeito quase hipnótico, porém, sem qualquer contextualização, o que deve afastar o interesse até dos fanáticos pelo tema.
Segundo o diretor, Jag Mandir é sobre “como as artes na índia são o que ele [o maharana/marajá] chamava de ‘força sustentadora da vida’” ¹, e por isso pretendia documentar, de alguma forma, “a rica herança do país antes que a ‘McDonaldização’ triunfasse sobre tudo” ².
Por outro lado, as intenções do austríaco são minimizadas: “Para Heller, era mais como um show de cabaré, uma reunião de artistas, malabaristas, bufões e engolidores de fogo. Era basicamente isso, nada realmente além disso para ele. Eu fiz isso para um amigo e gostei muito do trabalho e viajar para a Índia, em algum lugar aonde eu não tinha ido antes”. ³
Desfile |
Na verdade, além de eu ter achado o filme bem cansativo e preguiçoso, sem propósito, até, na linha de Huie’s Sermon, ele parece não ter interessado nem mesmo ao próprio diretor: um tema diante do qual ele poderia exercer um de seus eixos temáticos – a oposição entre o antigo/imemorial/primordial em oposição à degeneração trazida pela ação da humanidade/modernidade – não passa do fio de história inventado no começo de Jag Mandir.
Outro problema é que o marajá/maharana, que teria inspirado e evocado a própria razão de ser do filme, sequer tem direito a falas, aparecendo apenas em silêncio pretensamente contemplativo, assim como os artistas, que não são entrevistados. Fica parecendo uma visão distante, pálida e colonialista de dois brancos europeus sobre uma cultura ‘exótica’ que não lhes despertou nenhum interesse profundo.
No fim das contas é um longo e superficial ‘videoclipe’, que não emana nenhum significado profundo sobre essa cultura antiquíssima para quem não seja bastante familiarizado com seus meandros e fundamentos.
Curiosidades:
– apesar de o grosso do filme ser realmente o evento único em um dia só, algumas partes adicionais foram gravadas alguns dias antes;
– a história de que o evento teria sido requisitado ao maharana por um sábio local, que previu o afundamento dos palácios da cidade em um rio, como sinal de deterioração da cultura local, foi inventada por Herzog para dar alguma linha narrativa ao filme;
– esse argumento, aliás, Herzog inventou baseado no musical indiano A Sala De Música (Jalsaghar), de 1958;
– tem no YouTube com legendas em inglês.
1 2 HERZOG, Werner. In.: Werner Herzog: A Guide For The Perplexed, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2014.
3 HERZOG, Werner. In: Herzog On Herzog, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.
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