Alemanha | 30min | 16 mm |cor
Roteiro e direção: Werner Herzog
Produção: Lucki Stipetić
Som: Christine Ebenberger
Montagem: Maximiliane Mainka
Fotografia: Jörg Schmidt-Reitwein
Música: Popol Vuh
Elenco: imagens de arquivo de
Werner Herzog, Reinhold Messner, Lotte Eisner, Paul Hittscher, Mick Jagger, Klaus Kinski, Thomas Mauch, Beat Presser, Jason Robards, Walter Saxer, Franz Josef Strauß
“Um autorretrato que lida com o seu desenvolvimento artístico e abordagens sobre cinema, artesanato, paisagens, locais, língua, inocência, improvisação, expressão poética, assunção de riscos, música, miragens, roteiro, relação com desastres, condicionamento cultural, determinação, obsessões visões sobre diferentes tipos de filmes e sua preocupação com estéticas.” ¹
Também conhecido como ‘Portrait Werner Herzog’, este é um adorável curta-metragem autobiográfico, como já citado acima, em que o diretor, sempre naquele tom tranquilo/melancólico, conta histórias sobre sua vida e sua carreira até então (já respeitabilíssima, com reconhecimento mundial e 27 filmes em 24 anos).
Temos Herzog na Oktoberfest em Munique, reunido com amigos do ramo cinematográfico, toda aquela ‘riqueza cultural’, etc., etc., muita festa & alegria, só para dizer que ‘odeia multidões’ – e corta para sua caminhada solitária pelos montes bávaros (“Sou o tipo de pessoa que viaja a pé, mesmo por longas distâncias”).
Cineasta & solitude |
Temos uma rápida explicação sobre sua epopeia Caminhando No Gelo, e como toda sua obra é feita ‘a pé’, sempre dura e presencialmente, sentindo tudo e participando de todos os extremos, e então há uma preciosa sequência de arquivo em que Herzog o montanhista Reinhold Messner, de Gasherbrum – Der Leuchtende Berg, discute um futuro filme, que nunca houve, envolvendo Klaus Kinski (1926-1991) e o Himalaia.
Mais um pouco de solidão nos vales, onde Herzog medita sobre sua obra e gosta de escrever prosa, poesia e roteiros, e temos uma explicação mais detalhada sobre Caminhando No Gelo, para que seja introduzida sua entrevista/conversa com a amiga e crítica franco-alemã de cinema Lotte Eisner (1896–1983), em que ela fala de seu encantamento com Lebenszeichen.
Das belas sequências desse sensível filme, conectadas as paisagens oníricas de Herz Aus Glas, o selvagem verdejante de Aguirre, Der Zorn Gottes e a vastidão desértica de Fata Morgana, Herzog, alertado por Lotte Eisner, nota que eles tinham ligação com o romantismo alemão, notadamente as vastas e melancólicas paisagens do pintor Caspar David Friedrich (1774–1840).
Essa ideia de pertencimento à genealogia da arte alemã, especialmente retomando a linha evolutiva do cinema interrompida pelo nazismo, surgiu no diretor à época de Nosferatu, e Herzog a retoma neste momento, falando também sobre como foi crescer na Alemanha do pós-Guerra.
Falando sobre sua infância nas paisagens bávaras, o alemão conta seu sonho de criança: ser um atleta de saltos de ski, um ski-jumper; sonho deixado para trás após o trauma da morte de um amigo. E isso explica a realização de Die Große Ekstase Des Bildschnitzers Steiner: ainda querer ser como Walter Steiner.
Corta para uma viagem de carro por planícies britânicas, com Herzog se indagando sobre as dificuldades de erguer aqueles dólmens e menires celtas à Stonehenge, só para chegarmos nos titânicos desafios de Fitzcarraldo, mostrados em cenas de Burden Of Dreams.
No final, enquanto vemos fotos de tantos outros filmes-desafios, todos eles vividos na pele por Herzog, com sua equipe, não podemos deixar de duvidar de suas palavras finais: "Aqui podemos ver realmente como é difícil fazer um filme; mas esta é a minha vida, e não quero vivê-la de nenhuma outra forma".
Curiosidades:
- tem grátis no YouTube; qualidade razoável, dá pra ver:
- sobre Burden Of Dreams e Caminhando No Gelo, ver o post sobre Fitzcarraldo.