tag:blogger.com,1999:blog-25504392368517668052024-03-13T00:14:08.269-03:00Maratona Werner Herzog.ver e comentar todos os filmes de werner herzog em ordem cronológica.Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.comBlogger50125tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-86473328633847366182021-10-22T17:28:00.006-03:002021-10-23T18:02:10.024-03:00 (2009) My Son, My Son, What Have Ye Done<div><div><div style="text-align: justify;"></div><span style="font-family: verdana;"><br /></span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-family: verdana;"><b>EUA (filmado também no México, no Peru e na China) | 91min | HDcam | cor</b><br /><b>Roteiro:</b> Herbert Golder e Werner Herzog<br /><b>Direção</b>: Werner Herzog<br /><b>Produção</b>: Jimmy Balodimas, Eric Bassett, Herbert Golder, Bingo Gubelmann, Keith Kjarval, Benji Kohn, David Lynch, Giulia Marletta, Ken Meyer, Julius Morck, Stian Morck, Paul E. Noack, Chris Papavasiliou, Jeff Rice, Ali Rounaghi, Jack Sojka, Rick Spalla, Austin Stark<br /><b>Montagem</b>: Joe Bini e Omar Daher<br /><b>Som</b>: Greg Agalsoff, Alex Bushe, David A. Cohen, Ronald Eng, Luke Gibleon, Dean Hurley, Mark Jennings, Willard Overstreet, Robin Harlan, Klint Macro, Sarah Monat <br /><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger<br /><b>Música</b>: Ernst Reijseger<br /><b>Elenco</b>: Michael Shannon, Willem Dafoe, Chloë Sevigny, Udo Kier, Grace Zabriskie, Loretta Devine, Irma P. Hall, Michael Peña, Brad Dourif, Dave Bautista, James C. Burns, Noel Arthur <br /><br /></span></div><span style="font-family: verdana;"><br /><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><i>“Um filme de terror sem sangue, motosserras ou sangue coagulado, mas com um medo estranho e anônimo tomando conta de você</i>.<i>”</i> <span style="font-size: xx-small;">1</span><br /><br />É assim que Werner Herzog, em seu site oficial, define <i>My Son, My Son, What Have Ye Done</i> (em português, ‘<i>Meu Filho, Olha O Que Fizeste!</i>’), filme inspirado na história verídica do assassino Mark Yavorsky, que, em 1979, matou a mãe golpes de sabre.<br /><br />Estudioso e jogador de basquete promissor, Yavorsky também tinha futuro promissor em artes dramáticas na faculdade, até abandonar o campus e sair do elenco do drama de <i>Orestes</i>, o matricida de Eurípedes, em aparente surto psicótico. E assim se deu o crime, tal e qual na encenação.<br /><br />E o filme já começa introduzindo esses elementos reais e mais uns imaginados: o detetive que chega à cena do crime de matricídio (com direito a reféns na casa) – cometido por um homem que enlouqueceu após ‘ouvir a voz de Deus’ durante uma estada no Peru e resolver imitar a peça teatral que encenava –, a passiva esposa e o eloquente professor de artes cênicas do criminoso.<br /><br />Willem Dafoe faz o investigador que conecta as duas linhas do filme: o presente, com os policiais negociando com o assassino vivido por Michael Shannon e buscando pistas/explicações com a esposa, Chloë Sevigny, e o professor, Udo Kier; o passado, com a mãe do protagonista, interpretada por Grace Zabriskie, superprotegendo e atormentando seu filho à exaustão e na mesma medida, culminando na união cruel entre talento artístico e pulsão de morte.<br /></span><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"><br /><br /></span><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-vrIRloWi1yQ/YXMaCidZhCI/AAAAAAACcrA/Ib0j_yBIqXsXAEA58E6Eg9F1NetfsZ-CQCLcBGAsYHQ/s1023/4650.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="553" data-original-width="1023" height="205" src="https://1.bp.blogspot.com/-vrIRloWi1yQ/YXMaCidZhCI/AAAAAAACcrA/Ib0j_yBIqXsXAEA58E6Eg9F1NetfsZ-CQCLcBGAsYHQ/w380-h205/4650.jpg" width="380" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: verdana;">Michael Shannon, ótimo como Yavorsky<br /></span></span></td></tr></tbody></table><br /></span><br /><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;">Embora incensado como uma parceria
entre Werner Herzog e David Lynch (que eu nem curto, mas enfim), a
realidade é bem menos empolgante: Lynch é só um dos produtores, e na
prática é mais uma oportunidade que o alemão usou pra conseguir dinheiro
que financiasse seus projetos mais pessoais.<br /><br />Então, no geral, <i>My
Son, My Son, What Have Ye Done</i> navega pelas águas fílmicas como um <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2021/08/2009-bad-lieutenant-port-of-call-new.html" target="_blank"><i>Bad
Lieutenant: Port Of Call New Orleans</i></a>, só que sem um filme original para
comparação e com uma história bem mais interessante.<br /><br />Como diz o crítico
norte-americano de cinema Jeff Shannon: “<i>É também uma bagunça
principalmente incoerente, mas isso não o impede de ser uma curiosidade
divertida como a obra anterior de Herzog, </i>Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans. (...) “<i>É tudo alimento para um passeio sem rumo, mas
amigável, através das preocupações estabelecidas de Herzog, incluindo um
desvio do homem contra a natureza para o Peru.</i>” <span style="font-size: xx-small;">2</span><br /><br />O jornalista
britânico especializado em cinema Zan Brooks acrescenta: “<i>O diretor
parece mais interessado em pegar um gênero de filme - neste caso, o
thriller de investigação policial - e reduzi-lo a seus componentes
básicos; quebrar o molde para deixar a estranheza sangrar. O ritmo é
glacial e as emoções que existem vêm da estranheza</i>.” <span style="font-size: xx-small;">3</span><br /><br />Sabemos a
preguiça que Herzog tem com filmes ‘de estúdio’ e que ele não é
exatamente hábil com narrativas convencionais. Há bons momentos no
filme: tem flamingos, de verdade e de mentira, e flamingos sempre são
bem-vindos; Michael Shannon entrega um personagem convicente e cheio de
camadas (ainda que mal exploradas); a direção crua, feito documentário,
encaixa na história, e o tom geral da projeção é cinzento e melancólico.<br /><br />Porém,
é tudo muito estereotipado: o policial experiente, sempre com ar de que
sabe tudo e viu tudo nessa vida de crimes; o diretor de teatro entre o
afetado e o paternal com seus alunos; a esposa unicamente como vítima
das circunstâncias, que nada pode contra as desrazões do marido ou da
sogra; a mãe superprotetora que trata o filho como um bebê crescido; o
protagonista que endoidece com ares de ‘sabedoria que ninguém atinge’ – e
seu enlouquecimento é episódico (por meio de flashbacks) e mal
resolvido.</span></span><br /><br /><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;">Como afirma Zan Brooks, esse ir e vir de
acontecimentos, cenários e personagens, tudo meio frouxo (tal como em
<i>Bad Lieutenant...</i>), “<i>engana e exaspera em igual
medida. A experiência é mais ou menos como assistir a um filme barato na
TV enquanto toma uma medicação pesada. Começa-se a fixar-se em detalhes
aparentemente descartáveis ou a detectar uma poesia turbulenta nas
linhas de diálogo mais banais</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4</span> <br /><br />É inegável que, tal como no
filme anterior, Herzog está se tanto divertindo com os clichês quanto
falhando em subvertê-los totalmente: falei bem dos flamingos, mas não
fica explicada a obsessão da mãe [e, conseguentemente do filho] por
eles; outros signos, como espelhos e travesseiros, também parecem
gratuitos; a ligação com o basquetebol aparece jogada no final do filme;
e tem até uma cena absurda/psicodélica? à “cena das iguanas” de <i>Bad
Lieutenant...</i>, além de uma tentativa de
quase-humor no encerramento do filme.<br /><br />Claro que o crítico
norte-americano de cinema Roger Ebert (1942–2013) exagera nas qualidades
da obra, mas não deixa de ter sua razão: "</span></span></span><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;">My Son, My Son, What Have Ye Done</span>, <i>de Werner Herzog, é um exemplo esplêndido de um filme que não
está no piloto automático</i>". (...) <i>por outro lado, confunde todas as convenções e nega todos os
prazeres esperados, proporcionando, em vez disso, o deleite de assistir
Herzog colocar a fórmula do refém x policial no liquidificador de sua
imaginação. É como se ele começasse com o esboço de um procedimento
policial incrivelmente rotineiro e dissesse 'para o diabo, vou pendurar
minha fantasia neste varal</i>'”. <span style="font-size: xx-small;">5</span><br /><br />Enfim, não é ruim como o filme
anterior – até pela ausência de Nicolas Cage – mas faltou mais carinho
com o que o filme tem de bom, além do elenco e do ótimo plot: a
deterioração mental e o pseudomessianismo do personagem e o tom de
inevitabilidade, de tragédia grega, que permeia toda a projeção. <br /><br /><br /></span><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-UN-SHxN7YT4/YXMaOoaATvI/AAAAAAACcrI/OZV-c7k3Re4ZLXVwxwUyCAHyqEqC3kleQCLcBGAsYHQ/s490/MV5BMTgzMzI0NTczOV5BMl5BanBnXkFtZTgwMjE5MzczMzE%2540._V1_QL75_UX500_CR0%252C0%252C500%252C281_.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="268" data-original-width="490" height="210" src="https://1.bp.blogspot.com/-UN-SHxN7YT4/YXMaOoaATvI/AAAAAAACcrI/OZV-c7k3Re4ZLXVwxwUyCAHyqEqC3kleQCLcBGAsYHQ/w383-h210/MV5BMTgzMzI0NTczOV5BMl5BanBnXkFtZTgwMjE5MzczMzE%2540._V1_QL75_UX500_CR0%252C0%252C500%252C281_.jpg" width="383" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Entregue ao papel</span><br /></td></tr></tbody></table><br /></span><br /></span><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;">Pode-se
argumentar que <i>My Son, My Son, What Have Ye Done</i> é coerente com a obra
herzogiana por apresentar um personagem louco e megalomaníaco; isso pode
explicar o interesse do diretor pela história, mas Yavorsky, por mais
interessante que seja, está muito distante da grandeza de um Stroszek,
por exemplo.<br /><br />Como resumiu Roger Ebert: “<i>Ora, a impaciência do diretor com as convenções, é isso</i>”. <span style="font-size: xx-small;">6</span><br /><br />Até o próximo episódio da #MaratonaHerzog, de volta aos documentários, com <i>Cave Of Forgotten Dreams</i>.<br /><br /><br /><b>Curiosidades</b>:<br /><br />–
Durante anos, a sanidade de Yavorsky foi assunto de disputas jurídicas:
um juiz o considerou inocente por insanidade, e o assassino passou anos
no Patton State Hospital, no condado de San Bernardino;<br /><br />– após anos entrando e saindo de abrigos e casas de custódia, Mark Yavorsky morreu em 2003, aos 58 anos;<br /><br />-
o projeto começou com um roteiro do assistente de diretor de Herzog,
Herbert Golder, em 1995, e ficou parado até ser sugerido para David
Lynch num encontro entre os dois cineastas;<br /><br />– Herzog afirmou que
cerca de 70 por cento do roteiro é falso, por ele e Golder desejaram se
desviar dos eventos verdadeiros e, em vez disso, focar no estado mental
do personagem principal;<br /><br />– a casa onde ocorre a “ação presente”
do filme fica em Point Loma, San Diego, perto de onde Yavorsky morou, o
que deixou os Shannon e Zabriskie entusiasmados, embora o produtor Eric
Bassett diga que a escolha do local foi por razões financeiras, e
Herzog, que foi simplesmente questão de conveniência (?); <br /><br />– essa
locação é muito perto do Aeroporto Internacional de San Diego, o que às
vezes tornava as filmagens difíceis, com membros da equipe posicionados
no telhado com binóculos para alertar a tripulação sobre os voos, que
atrapalhariam a captação de som das cenas;<br /><br />– algumas cenas foram
filmadas no Rio Urubamba, no Peru – local apreciado por Herzog e que
apareceu em <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2013/11/1972-aguirre-der-zorn-gottes.html" target="_blank"><i>Aguirre, Der Zorn Gottes</i></a> e <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2015/11/1982-fitzcarraldo.html" target="_blank"><i>Fitzcarraldo</i></a> – em vez do Rio
Braldu, no norte do Paquistão (onde Yavorsky realmente teve uma viagem
que mudou sua vida), por razões de segurança;<br /><br />– a sequência de
Shannon vagando por um mercado ao ar livre lotado (cena sem vínculos
narrativos com o resto da história) foi filmada em um mercado em
Kashgar, região autônoma de Xinjiang Uygur, na China, por Herzog e o
produtor Eric Bassett, ambos com visto de turista e uma pequena câmera
digital, a fim de evitar o longo processo de obtenção de licenças para
fimagem no país; <br /><br />– naquela que é provavelmente a sequência mais
surreal do filme, temos a clássica canção mexicana <i>Cucurrucucú Paloma</i> (Tomás Méndez, 1954) na célebre versão de Caetano Veloso.</span></span></span><br /></span></div></div><div><span style="font-family: verdana;"><br /><br /><b>Bibliografia</b>:<br /><br /><span style="font-size: xx-small;">1</span> <span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.wernerherzog.com/legacy_shop/main/de/html/films/films_details/index.php?film_id=63">https://www.wernerherzog.com/legacy_shop/main/de/html/films/films_details/index.php?film_id=63</a></span><br /><span style="font-size: xx-small;">2</span><br /><span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.seattletimes.com/entertainment/movies/my-son-my-son-what-have-ye-done-a-quirky-matricide-drama-from-herzog-lynch">https://www.seattletimes.com/entertainment/movies/my-son-my-son-what-have-ye-done-a-quirky-matricide-drama-from-herzog-lynch</a></span><br /><span style="font-size: xx-small;">3 4</span><br /><span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.theguardian.com/film/2010/sep/09/my-son-my-son-what-have-ye-done-review">https://www.theguardian.com/film/2010/sep/09/my-son-my-son-what-have-ye-done-review</a></span><br /><span style="font-size: xx-small;">5 6</span><br /><a href="https://www.rogerebert.com/reviews/my-son-my-son-what-have-ye-done-2010"><span style="font-size: x-small;">https://www.rogerebert.com/reviews/my-son-my-son-what-have-ye-done-2010</span><br /></a><br /><br /></span></div>Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-25796495176141615752021-08-19T20:14:00.007-03:002021-08-20T13:21:25.465-03:00 (2009) Bad Lieutenant: Port Of Call New Orleans<p style="text-align: right;"><span style="font-family: verdana;"><b>EUA | 122min | 35 mm | cor</b><br /><b>Roteiro</b>: William Finkelstein<br /><b>Direção</b>: Werner Herzog<br /><b>Produção</b>: Stephen Belafonte, Randall Emmett, Avi Lerner, Alan Polsky, Gabe Polsky, Edward R. Pressman, John Thompson<br /><b>Montagem</b>: Joe Bini<br /><b>Som</b>: Joshua Adeniji, Michael Baird, Robert Dehn, Jason Dotts, Levent Erdogan, Brent Findley, Allie Fitz, Jason Gaya, Judah Getz, Corey J. Grasso, Richard Kitting, Tiffany Lentz, Jay Meagher, Zach Michaelis, Randy Pease, Walter Spencer, Jonathan Wales<br /><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger<br /><b>Música</b>: Mark Isham<br /><b>Elenco</b>: Nicolas Cage, Eva Mendes, Val Kilmer, Alvin Joiner, Fairuza Balk, Shawn Hatosy, Jennifer Coolidge<br /></span></p><p style="text-align: left;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">"<i>What are these fucking iguanas doing on my coffee table?</i>"<br /><br />A #MaratonaHerzog às vezes exige grandes sacrifícios, como ver um filme ‘franquia de produtor’ convencional – e sabemos como o alemão é preguiçoso com filmes ‘normais’, ainda mais quando não são projetos dele –, e estrelado pelo pior ator de todos os tempos.<br /><br /><i>Bad Lieutenant: Port Of Call New Orleans</i> (no Brasil, ‘Vício Frenético’) é uma espécie de reimaginação – picaretagem dos produtores – do cult <i>Bad Lieutenant</i>, de 1992, dirigido por Abel Ferrara e estrelado por Harvey Keitel. Em comum, ambos têm apenas o tema ‘policial on drugs muito louco’; assim como fiz com <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com/2014/08/1979-nosferatu.html" target="_blank"><i>Nosferatu</i></a>, vou analisar o produto herzogiano independentemente do filme original, sem qualquer comparação.<br /><br />O filme começa prosaico e apressado: New Orleans, pós-Katrina, o detetive Terence McDonagh vai salvar um detento que está se afogando em um presídio alagado e acaba lesando a coluna; sem mais explicações sobre o salvamento ou a lesão, o médico lhe prescreve Vicodin® pra vida toda, simples assim. Seu ato de bravura, pelo menos, rende a promoção a tenente. Corta pra um ano depois e ele já está viciado em cocaína. Uma família de imigrantes africanos é chacinada, aparentemente por traficantes de drogas, e Terence é nomeado para liderar a caça aos culpados. E é aí que reside o conflito do filme, pois seu envolvimento progressivo em atividades ilegais – drogas, prostituição, apostas – não apenas vai colocar a missão em risco, como também comprometer seriamente sua bússola moral. <br /><br /></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-L5bSdcOSXE0/YR7koyi77JI/AAAAAAACYhk/3cUVE3IU34Mr2pWbQI9xNAe_vQnLUH0nwCLcBGAsYHQ/s1362/nicolas.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="880" data-original-width="1362" height="207" src="https://1.bp.blogspot.com/-L5bSdcOSXE0/YR7koyi77JI/AAAAAAACYhk/3cUVE3IU34Mr2pWbQI9xNAe_vQnLUH0nwCLcBGAsYHQ/s320/nicolas.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: trebuchet;">Loko</span></span></td></tr></tbody></table><br /><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Além do dinheiro, claro, dá pra
entender o que atraiu Herzog para esse projeto: o protagonista é
imprevisível e caótico, se enrolando cada vez mais devido a sua falta de
limites, e Nicolas Cage, a despeito de suas óbvias limitações, se
entrega ao papel, como um Klaus Kinski de baixo orçamento que não causa
problemas no set de filmagem.<br /><br />O próprio diretor nos conta: “<i>Nicolas
me perguntou: ‘O que o torna tão mau? São as drogas, é o Katrina?’ Não,
eu disse. Existe uma coisa chamada bem-aventurança do mal. Aprecie
isso. Quanto mais vil e degradado, mais você tem que se divertir</i>”. <span style="font-size: xx-small;">1</span><br /><br />Não
tem muito o que elucubrar sobre o filme, que se desenvolve de forma
convencional, até meio frouxa (talvez com meia hora a menos ou melhor
equilíbrio entre os atos do filme); a investigação segue quase de forma
episódica, sem aquela tensão crescente de que o filme precisaria. <br /><br />Basicamente
o protagonista se envolve com bandidos, pede e deve favor a eles,
intimida suspeitos, ameaça testemunhas (mesmo que sejam velhinhas
doentes), achaca usuários de drogas (anônimos ou famosos), faz armações
com prostitutas e apostadores ilegais. Não fossem os exageros de Nicolas
Cage, sempre muitos tons acima (mesmo para um personagem tão
degradado), poderia ser qualquer filme policial dos inícios dos 1990s.<br /></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-_EeXTCGFxrk/YR7k6QK9_DI/AAAAAAACYh0/1LtHSe-5UqYz_z27g_YqOkTrs8DHb_4UQCLcBGAsYHQ/s1372/loko.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="772" data-original-width="1372" height="180" src="https://1.bp.blogspot.com/-_EeXTCGFxrk/YR7k6QK9_DI/AAAAAAACYh0/1LtHSe-5UqYz_z27g_YqOkTrs8DHb_4UQCLcBGAsYHQ/s320/loko.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: trebuchet;">Muito loko</span></span><br /></td></tr></tbody></table><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;">E, claro, exceto por três cenas, a de um tiroteio à <i>Scarface</i>,
que tem desfecho surreal e surpreendente, a de um crocodilo olhando em
primeira pessoa, e pela famosa ‘cena das iguanas’, em que o policial, de
tão alucinado, começa a ver répteis cantando (!) em sua mesa de
trabalho. São dois momentos em que surge o distorcido humor bávaro do
diretor, mostrando que não apenas o ator principal estava se divertindo
na empreitada fílmica.<br /><br />O segundo e mais infame eu até imagino a
cara dos produtores – e donos do projeto episódica – quando isso foi
gravado. Herzog nos conta: “<i>As iguanas, por exemplo, foram ideia
minha. Achei que as drogas estavam destruindo a mente de Terrence.
Então, vamos deixá-lo ver iguanas. Vamos fazer a iguana cantar</i>”. <span style="font-size: xx-small;">2</span> <br /><br />Segundo Nicolas Cage, a epifania de Herzog aconteceu em uma festa no meio das filmagens. "<i>Werner
bebeu alguns drinques. Ele disse com uma voz perturbada: 'As iguanas
são a melhor coisa do filme. E devo ter meus cinco minutos de
iguana-time! E se eu não tiver meus cinco minutos inteiros de
iguana-time, nunca mais farei outro filme!</i>’” <span style="font-size: xx-small;">3</span><br /><br />Sem
dúvida, os momentos supracitados são de impacto, ainda que surjam
deslocadíssimos. Se o filme ainda fosse inteiro nessa toada, mas parece
que o diretor apenas fez inserções doidas num roteiro convencional já
pronto (aliás, não parece, foi isso mesmo). <br /><br />A cinematografia é
aquele desleixo estiloso herzgiano de sempre para filmes 'normais'; a
trilha sonora, no geral, não ajuda nem atrapalha, e as atuações são OK.
Mas, é claro, precisamos falar da célebre? atuação de Nicolas Cage, que
virou até memes: já disse acima o que acho desse ator lamentável, e tive
que me encher de boa vontade para este capítulo da #MaratonaHerzog
quando vi que era um filme sob encomenda e com ele pintando &
bordando. Mas sim, fui com Jesus no coração assisti-lo. Nos momentos de
dor, faz cara de prisão de ventre e anda como se tivesse esquecido o
cabide dentro do largo paletó. Quando quer demonstrar alteração por
entorpecentes, arregala os olhos, mostra os dentes, parecendo, sei lá,
que sujou as calças. Ele, inegavelmente, está se divertindo. Werner
Herzog, certamente, também. Eu, já nem tanto.<br /><br />A crítica,
surpreendentemente, elogiou o filme (talvez por condescendência para com
o mítico diretor?); o crítico norte-americano de cultura A. O. Scott,
por exemplo: “<i>Quem precisa de um</i> Bad Lieutenant: Port Of Call New Orleans – <i>por que</i> ‘Port Of Call’<i>?
o que isso significa? – não é uma obra-prima, mas é, sem dúvida, a obra
de um mestre. Por quase 40 anos, o Sr. Herzog perseguiu a loucura e a
irracionalidade em várias manifestações – ele as encontrou, de forma
mais confiável, na pessoa de Klaus Kinski – e às vezes sucumbiu ao
fascínio delas. Ultimamente, ele amadureceu um pouco, examinando almas
obsessivas e motivadas por meio de lentes documentais ruminativas e
analisando suas paixões com um distanciamento irônico e simpático</i>. (...) <i>A
atmosfera está impregnada de corrupção e vício, e por mais maluco que o
filme às vezes seja, sua brutalidade e confusão nunca são usadas para
rir. Tem uma sinceridade distorcida e uma energia que continua e
continua</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4</span><br /><br />Também
o célebre crítico norte-americano de cinema Roger Ebert (2013–1942),
que provavelmente nunca desgostou de um filme do alemão: “<i>Os detalhes
do crime não precisam nos preocupar. Apenas admire a sensação do filme.
Herzog, como sempre, procura os detalhes estranhos. Todo mundo está
falando sobre as fotos das iguanas e do crocodilo, olhando com olhos
frios de réptil. Quem mais, a não ser Herzog, sustentaria seu olhar?
Quem mais os colocaria em primeiro plano, colocando a ação em segundo
plano? Quem, a não ser Cage, poderia olhar uma iguana de lado com um
olhar de suspeita e inquietação? Você precisa ficar de olho em uma
iguana. As desgraçadas estão sempre tramando alguma coisa</i>. (…) Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans <i>não
é sobre enredo, mas sobre tempero. Como a culinária de Nova Orleans,
ela descobre que você pode colocar quase qualquer coisa em uma panela se
adicionar os temperos e pimentas certos e cozinhá-los por tempo
suficiente</i>.” <span style="font-size: xx-small;">5<br /></span></span></span></p><p><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"> <br /></span></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/--C54jgde8rE/YR7lGMgaqrI/AAAAAAACYh4/XBxsPtAOAjgQlLYYKkU5aanrJHtUPunAQCLcBGAsYHQ/s1800/Bad-Lieutenant-Port-of-Call-New-Orleans.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1800" height="160" src="https://1.bp.blogspot.com/--C54jgde8rE/YR7lGMgaqrI/AAAAAAACYh4/XBxsPtAOAjgQlLYYKkU5aanrJHtUPunAQCLcBGAsYHQ/s320/Bad-Lieutenant-Port-of-Call-New-Orleans.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Loko mesmo</span><br /></td></tr></tbody></table><p></p><p></p><p></p><p><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"><br />O diretor também apreciou a recepção dos espectadores: “<i>Nunca
experimentei uma reação tão intensa a um dos meus filmes. O público
pegou todo o humor negro e os detalhes sutis. Houve mais risos no meu
filme do que em uma comédia de Eddie Murphy. O filme não é uma comédia,
mas tem muito humor ácido</i>”. <span style="font-size: xx-small;">6</span></span></span><br /><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"></span></span><br /><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;">Se
o filme vale a pena? Talvez se você for fã do filme original, e quiser
comparar as versões, ou ser gostar muito de Nicholas Cage, ou de Val
Kilmer, ou de Eva Mendes, ou mesmo do rapper (e apresentador do Pimp My
Ride) Alvin "Xzibit" Joiner; fora isso, tem filme policial melhor e mais
bem resolvido na praça (ainda que não seja a porcaria que eu esperava).
Mas talvez eu seja apenas uma réptil amargo, afinal, como disse o
crítico e diretor britânico de cinema Jonathan Romney, “<i>De alguma
forma, Herzog fez um dos thrillers mais divertidos e simples que saíram
dos Estados Unidos em algum tempo. Você teria que ser uma iguana, ou
Abel Ferrara, para não gostar</i>”. <span style="font-size: xx-small;">7</span></span></span><br /></p><p style="text-align: left;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"></span></span><br /><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"></span></span><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"><br /><b>Curiosidades</b>:<br /><br /></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;">–
o próprio Abel Ferrara foi a primeira opção para esse filme, mas se
recusou a trabalhar com o roteiro de William M. Finkelstein, escritor e
produtor de séries como <i>Law & Order</i> e <i>NYPD Blue</i> (no Brasil, “Nova York Contra o Crime”);<br /><br />– o temperamental Ferrara não gostou nada de o projeto continuar sem ele, e, quando o filme foi lançado, disse coisas como "<i>Desejo que essas pessoas morram no inferno, espero que todos estejam no mesmo bonde e ele exploda</i>"; <span style="font-size: xx-small;">8</span><br /><br />– Herzog tratou de se defender, dizendo que não era um remake, que não tinha nem visto o <i>Bad Lieutenant</i> original, e que ainda colocou o subtítulo <i>Port Of Call New Orleans</i> justamente para diferenciar as obras, já que era contra a ideia de dois filmes diferentes com o mesmo nome, e enfatizou que “<i>Ferrara tem o direito de ficar com raiva, mas este não é um remake, ele tem vida própria</i>”. <span style="font-size: xx-small;">9</span><br /><br />–
talvez percebendo que se exaltou com um colega de profissão, Ferrara
ponderou que seu problema era com os produtores, dizendo “<i>Não tenho
problema com Werner; quanto a Nicolas, eu nunca poderia ter um problema
com um ator, sabe o quero dizer?, como diretor, me sinto pai de todos os
atores ou irmão deles</i>”; <span style="font-size: xx-small;">10</span><br /><br />– o alemão encerrou a polêmica com “<i>Gostaria que Abel Ferrara visse meu filme, e se eu souber que ele assistiu ao meu, prometo que assistirei ao dele</i>”; <span style="font-size: xx-small;">11</span><br /><br />– <i>Bad Lieutenant</i> foi rodado em apenas 22 dias, para aproveitar a janela na agenda do protagonista;<br /><br />– Em menos de um ano, o diretor terminou <i>Bad Lieutenant: Port Of Call New Orleans</i>, o também longa-metragem <i>My Son, My Son, What Have Ye Done</i> (próximo capítulo da #MaratonaHerzog), o curta-metragem sob encomenda para a tevê inglesa <i>La Bohème</i>¬ (que mistura Puccini com a vida dura na África e pode ser visto <a href="https://www.youtube.com/watch?v=1Ziyfz-IYew" target="_blank"><b>aqui</b></a>, traduziu para o inglês seu diário fitzcarraldiano – que se tornou o livro <i>Conquest Of The Useless</i> ["Conquista Do Inútil", em português], fez narração para o curta <i>Plastic Bag</i>, de Ramin Bahrani, e ainda lançou seu próprio curso de cinema (Rogue Film School, em Los Angeles);<br /><br />– curiosamente, Herzog fez uma ponta não creditada </span></span><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-family: verdana;">(como ele mesmo, em imagens de arquivo)</span></span> em <i>Dangerous Game</i> (Olhos De Serpente), de 1993, de Abel Ferrara;<br /><br />– apenas uma das iguanas do filme é realmente uma iguana, o outo réptil é uma pogona, também chamada de dragão-barbudo.</span></span><br /></p><p style="text-align: left;"><br /><span style="font-size: xx-small;">1</span> <span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.interviewmagazine.com/film/werner-herzog-bad-lieutenant">https://www.interviewmagazine.com/film/werner-herzog-bad-lieutenant</a></span><br /><span style="font-size: xx-small;">2 6 8 9</span> <span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.vulture.com/2009/09/director_werner_herzog_on_the.html">https://www.vulture.com/2009/09/director_werner_herzog_on_the.html</a></span><br /><span style="font-size: xx-small;">3</span> <span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.latimes.com/archives/la-xpm-2009-nov-15-ca-bad15-story.html">https://www.latimes.com/archives/la-xpm-2009-nov-15-ca-bad15-story.html</a></span><br /><span style="font-size: xx-small;">4</span> <span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.nytimes.com/2009/11/20/movies/20badlieutenant.html">https://www.nytimes.com/2009/11/20/movies/20badlieutenant.html</a></span><br /><span style="font-size: xx-small;">5</span> <span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.rogerebert.com/reviews/bad-lieutenant-port-of-call-new-orleans-2009">https://www.rogerebert.com/reviews/bad-lieutenant-port-of-call-new-orleans-2009</a></span><br /><span style="font-size: xx-small;">7</span> <a href="https://www.independent.co.uk/arts-entertainment/films/reviews/bad-lieutenant-werner-herzog-122-mins-18-1980349.html"><span style="font-size: x-small;">https://www.independent.co.uk/arts-entertainment/films/reviews/bad-lieutenant-werner-herzog-122-mins-18-1980349.htm</span>l</a><br /><span style="font-size: xx-small;">10 11</span> <span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.reuters.com/article/cultura-filme-veneza-herzog-ferrara-idBRSPE5880D420090909">https://www.reuters.com/article/cultura-filme-veneza-herzog-ferrara-idBRSPE5880D420090909</a> </span><br /></p><p></p>Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-39940980235010574762020-12-18T17:41:00.013-03:002021-04-30T20:08:23.993-03:00(2007) Encounters At The End Of The World<div><p style="text-align: right;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><span><b>EUA (rodado na Antárdida) | 99min | HDcam | cor</b><br /><b>Roteiro, direção e som</b>: Werner Herzog<br /><b>Produção</b>: Discovery Films<br /><b>Montagem</b>: Joe Bini<br /><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger<br /><b>Música</b>: Henry Kaiser, David Lindley<br /><b>Elenco</b>: Werner Herzog (narrador)<br /></span></span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><span><br />“<i>Quando ele [Herzog] desceu de um avião de transporte na Antártida para filmar</i> Encounters At The End Of The World, <i>levava consigo as</i> Geórgicas <i>de Virgílio – um livro que lhe trouxe clareza. Esse clássico agora é leitura obrigatória de seus estudantes de cinema em Los Angeles. 'Eu não sabia nada e não conhecia ninguém. Como é que a gente vai explicar um continente todo em seis semanas?' Decidiu-se a fazer o que Virgílio faz: 'Ele não explica nada, não é didático. Ele só fala da glória das macieiras e das colmeias e dos horrores da peste. Eu pensei: Nós vamos falar aqui, no gelo, da glória desta Antártida! E pessoas que nos sensibilizam vão contar algo a esse respeito'</i>. <span>1</span><br /><br />Herzog já chega avisando que este não é “<i>mais um documentário sobre pinguins fofinhos</i>” – como se alguém fosse esperar isso dele. Por mais que haja pinguins, focas [ainda que em situações não exatamente edificantes] e outros animais não tão fofinhos assim [os subaquáticos das profundezas], como também magníficas paisagens de pura vastidão do fim do mundo, permafrost acima e permafrost abaixo, o interesse do bávaro, pra variar, é outro, nunca o óbvio.<br /><br />A pergunta com a qual ele desembarca na feiosa base norte-americana, a Estação McMurdo, é: por que alguém larga tudo por aqui e vai morar no fim do mundo? E o interesse especial não é nos pesquisadores, que passam grandes temporadas na Antárdida, mas em ‘gente comum’ que trabalha e se estabeleceu lá com trabalhos sem glamour. De filósofo a banqueiro, tem todo tipo de pessoa, com história ordinárias ou incríveis, operando escavadeira, fazendo solda ou sendo motorista de ônibus. <br /><br />Como diz a crítica norte-americana de cinema Manohla Dargis, “<i>Herzog abre sua mente, coração e olhos para todos esses viajantes que - apesar da tensão persistente de melancolia que atinge cada pessoa que aparece na câmera - parecem assustadoramente em paz no fundo do mundo. Um dos motivos pode ser que, como Herzog, mais do que alguns evidenciam um profundo pessimismo sobre o presente e o futuro</i>”. <span><span>2</span><br /></span><br />Tudo bem que às vezes o diretor perde a paciência e resume as histórias malucas de como os pesquisadores foram parar lá, mas vamos, no geral, concordar com ela e com o crítico suíço [radicado nos EUA] de cinema Owen Gleiberman: “<i>Ele quer que vejamos como esses pesquisadores peculiares, em sua ânsia de explorar, estão agindo de acordo com um impulso tão primitivo quanto a natureza: a necessidade de se afastar do mundo para encontrá-lo</i>”. <span><span>3</span><br /><br /><br /></span></span></span></span></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-Yr3cs_tgd1A/X90S75TdH8I/AAAAAAACLbc/tY6MDrHvb7w1TFNuIarfzdF_p7O4yU_yACPcBGAYYCw/s600/herzog1.webp" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="280" data-original-width="600" height="174" src="https://1.bp.blogspot.com/-Yr3cs_tgd1A/X90S75TdH8I/AAAAAAACLbc/tY6MDrHvb7w1TFNuIarfzdF_p7O4yU_yACPcBGAYYCw/w375-h174/herzog1.webp" width="375" /></a></span></span></span></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;">planeta-hostilidade</span></span></span></td></tr></tbody></table><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><span><br /></span></span></span></span><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><span>Aqui temos um elemento-chave para talvez compreendermos o cerne do filme. Ninguém dá uma boa explicação do tipo “vim parar aqui por isso e isso”, são sempre várias hipóteses jogadas, como se nem eles soubessem por que estão lá, ou como se fosse absolutamente normal, como qualquer outro destino, físico ou spiritual, da vida. Herzog os define como “sonhadores profissionais”: envolvidos por suas respostas vagas e intrigantes, e vendo o diretor questionar o que levou, leva e levará o ser humano sempre em busca do desconhecido – destaque para imagens da épica expedição de Ernst Shackleton [1874–1922], cuja cabana segue preservada até hoje na Antárdida que ele tentou conquistar – ficamos pensando na repetição de expressões, por parte dos entrevistados, de termos como “cair da borda do mundo” ou “chegar ao final do mapa”. Para eles, é simplesmente pela liberdade de poder estar lá.<br /><br />Esse “por que não?” reúne tais pessoas num sentido de solitude e desapego semelhante ao de monges enclausurados – não à toa, a trilha sonora é basicamente constituída de música cristã ortodoxa, e o próprio Herzog confirma a motivação: “<i>Alguns dos mergulhadores, antes de entrarem no gelo, falam brincando sobre ‘entrar na catedral’. Há uma sacralidade estranha em algumas dessas paisagens debaixo d'água ou fora dela. É muito, muito estranho, e por meio dessa música do coro da Igreja Ortodoxa Russa você de repente entende e começa a ver. A música nos permite ver isso</i>”. <span>4</span><br /><br />Enquanto essas questões vão e vêm, vemos neste filme um resumo do pensamento de Werner Herzog Stipetić: embora mais solene e menos caótica e despropositada do que de costume, a natureza surge monolítica, impenetrável, solene e hostil. Não é um lugar onde deveríamos estar: somos presas facílimas tanto para as brutais intempéries quanto pras fantasmagorias que nadam sob nossos pés gelados.<br /><br />Temos sequências totalmente bizarras, como o treinamento contra nevasca, que consiste em exploradores com baldes na cabeça [e cada um tem uma carinha desenhada], unidos por uma corda, simulando uma situação de visibilidade próxima a zero e nenhuma noção de espaço e distância; personagens com falas ora profundíssimas, ora nonsense, que nos deixam sempre com a dúvida se são reais ou inventadas pelo diretor; e cenas claramente encenadas como pessoas deitando na neve para ouvir os ruídos das focas “<i>que parecem música eletrônica ou algo do pink Floyd</i>”.<br /><br /></span></span></span></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-tCQop5u_AQo/X90S7-gY3yI/AAAAAAACLbY/P0fHc95mdEUH06_8mNQzmMlx25F-gEU6ACPcBGAYYCw/s400/herzog2.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="226" data-original-width="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-tCQop5u_AQo/X90S7-gY3yI/AAAAAAACLbY/P0fHc95mdEUH06_8mNQzmMlx25F-gEU6ACPcBGAYYCw/s320/herzog2.jpg" width="320" /></a></span></span></span></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><span>homens-balde</span></span></span></span></td></tr></tbody></table><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><br /></span><span style="font-size: small;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><span><span>E todas as pessoas
que parecem no filme, dos finados exploradores Schackleton e Roald
Amundsen [1872–1928] aos trabalhadores das estações de pesquisa, são
claramente personagens herzogianos por definição: grandiosos e absurdos.
O espírito explorador como destino natural do homem. E é por esse
prisma que chegamos à questão final de <i>Encounters At The End Of The World</i>:
falamos do fim geográfico do mundo, falamos do destino de casa pessoa,
agora Herzog começa a discorrer sobre nosso fim no mundo; qual o sentido
de estarmos aqui e fazermos o que fazemos?, e, mais do que isso, como
lidar com nosso deixar-de-existir individual e coletivo, spiritual e
cultural?</span></span></span><span style="font-size: small;"><br /><br /><span><span><span>Estamos aqui e fazemos parte da natureza, inclusive
interferindo nela – é assustadora a simulação por computador de como a
Antárdida deixou de ser um infindável maciço impávido para tornar-se ele
mesmo um iceberg que despeja seus enormes glaciares no oceano – mas
podemos deixar de existir, seja por nossa interferência, ou, como crê o
alemão, por uma catástrofe fortuita como a que extinguiu os dinossauros e
permitiu que surgíssemos e sobrevivêssemos.</span></span></span><br /><br /><span><span><span>Nós, nossos sonhos,
nossa cultura, até nossa linguagem, tudo morreu, more, morrerá. A
natureza, de qualquer forma, permanecerá, se recuperando, como sempre
faz. E é aí que Herzog tem o provável momento de maior humanismo de sua
cinematografia: questiona que, não fossem essas pessoas na infinitude
gélida, aquilo seria apenas um grandíssimo ponto no mapa – mas, ainda
sim, só um ponto – desconhecido. Trata-se, curiosamente, de um ponto de
vista semelhante ao cristão, de que Deus fez o homem para que o conheça e
o ame.</span></span></span><br /><br /><span><span><span>E o que fazer até nossa extinção [individual ou como
espécie]? A [não-]resposta está na amarga sequência em que um pinguim
desnorteado [“<i>enlouquecido?</i>”] se desgarra do bando e vai
continente adentro, se afastando da sobrevivência junto ao mar e à
espécie e abraçando a morte inevitável. </span></span></span><br /></span></span></span></div><div><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><br /></span></span></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><br /></span></span></span></div></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-3LKUS5UyLZ0/X90S70Vg6dI/AAAAAAACLbg/fp2TTwWwUiY2YI1WLsBkE6-W4AN0hy2XQCPcBGAYYCw/s600/herzog3.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="600" src="https://1.bp.blogspot.com/-3LKUS5UyLZ0/X90S70Vg6dI/AAAAAAACLbg/fp2TTwWwUiY2YI1WLsBkE6-W4AN0hy2XQCPcBGAYYCw/s320/herzog3.jpg" width="320" /></a></span></span></span></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><span>pinguim-absurdo</span></span></span></span></td></tr></tbody></table><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><br /></span></span></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span><span style="font-size: small;"><span>Assim como temos personagens herzogianos humanos – o crítico britânico de cinema Peter Bradshaw aponta que talvez “<i>uma
foto antiga do navio de Ernest Shackleton preso no gelo lembrava a
Herzog de um navio a vapor sendo arrastado por uma montanha</i>” <span>5</span>,
temos esse Pinguim-Aguirre, rumando, insano e só, para o vazio e a
última derrota. Talvez estejamos todos rumando, desde sempre e para
sempre, nesse infindável caminho a lugar algum, a qualquer lugar, a
todos os lugares.<br /><br />Melhor filme desta maratona desde <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2019/02/2005-grizzly-man.html" target="_blank"><i>Grizzly Man</i></a>.
Consegue trazer tudo que o diretor tem de melhor. Vai ao mesmo tempo te
entreter e te deixar com muitas questões na cabeça. Recomendo
muitíssimo, é imperdível. E até 2021, que tem mais #MaratonaHerzog<br /><br /><br /><br /><b>Curiosidades</b>:<br /><br />-
Herzog esteve por quase sete semanas na Antártida, mas a primeira delas
foi gasta tanto em burocracia quanto em treinamentos de sobrevivência -
sem os quais você não é autorizado a deixar a base -, então houve um
mês e meio para as filmagens;<br /><br />- a cena de cientistas colocando
seus ouvidos no gelo para ouvir os chamados de focas foi inteiramente
encenada - Herzog pediu que eles se posicionassem de acordo com suas
instruções, e os sons foram previamente gravados por microfones
subaquáticos pelo compositor e engenheiro de som Douglas Quin;<br /><br />- o
filme é dedicado ao renomado crítico norte-americano de cinema Roger
Ebert (1942-2013), que, justamente por isso, não pôde resenhar o fime,
mas escreveu uma carra ao diretor, posteriormente tornada <a href="https://www.rogerebert.com/interviews/a-letter-to-werner-herzog-in-praise-of-rapturous-truth" target="_blank">pública</a>;<br /><br />- <i>Encounters At The End Of The World</i> concorreu ao Oscar de Melhor Documentário em Longa-Metragem de 2009;<br /><br />- executivos do Discovery Channel ficaram descontentes com os comentários do diretor sobre "<i>a abominação dos estúdios de aeróbica e turmas de ioga</i>"
na Antártida, assim como referências ao Darwinismo (!), e, diante da
negativa de Herzog retirar tais trechos, os chefões do canal resolveram
distribuir o filme por um décimo do que havia sido investido;<br /><br />-
Herzog foi atraído para a Antártida depois de ver imagens subaquáticas
filmadas por Henry Kaiser – filmadas tanto em expedições científicas
quanto em seu projeto <i>Slide Guitar Around the World</i> –, que durante os trabalhos na trilha sonora de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2019/02/2005-grizzly-man.html" target="_blank"><i>Grizzly Man</i></a>, estava mostrando a filmagem para um amigo quando Herzog percebeu;<br /><br />- dois anos depois desse ocorrido, Herzog lançou <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2019/09/2005-wild-blue-yonder.html" target="_blank"><i>The Wild Blue Yonder</i></a>, que fez uso proeminente das filmagens de Kaiser.</span><br /></span></span></span></div><div><span style="font-family: verdana;"><span><span><br /></span></span></span><p style="text-align: left;"><span style="font-family: verdana;"><span><span><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: xx-small;"><br />1</span> <a href="http://www.goethe.de/wis/bib/prj/hmb/the/156/pt8622851.htm">http://www.goethe.de/wis/bib/prj/hmb/the/156/pt8622851.htm</a><br /><span style="font-size: xx-small;">2</span> <a href="https://www.nytimes.com/2008/06/11/movies/11enco.html">https://www.nytimes.com/2008/06/11/movies/11enco.html</a><br /><span style="font-size: xx-small;">3</span> <a href="https://ew.com/article/2008/06/20/encounters-end-world">https://ew.com/article/2008/06/20/encounters-end-world</a><br /><span style="font-size: xx-small;">4</span> <a href="https://filmmakermagazine.com/1115-werner-herzog-encounters-at-the-end-of-the-world-by-nick-dawson">https://filmmakermagazine.com/1115-werner-herzog-encounters-at-the-end-of-the-world-by-nick-dawson</a><br /><span style="font-size: xx-small;">5</span> <a href="https://www.theguardian.com/film/2009/apr/24/encounters-at-the-end-of-the-world-documentary-review">https://www.theguardian.com/film/2009/apr/24/encounters-at-the-end-of-the-world-documentary-review</a></span><br /></span></span></span></p></div>Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-66865528025135968062020-06-09T18:18:00.001-03:002020-06-10T20:38:35.327-03:00(2006) Rescue Dawn<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">EUA | 126min | 35 mm | cor</span></b></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Irma Strehle</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Paul Paragon</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Joe Bini</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: Klaus Badelt, Ernst Reijeger, Popol Vuh</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Christian Bale (Dieter Dangler), Steve Zahn (Duane Martin), Jeremy Davies (Gene DeBruin), Marshall Bell (almirante), François Chau (governador da província), Craig Gellis (cabo), Zach Grenier (sargento), Pat Healy (Norman), Toby Huss (Spook)</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>De certa maneira, </i>Rescue Down, <i>a ideia do longa, sempre esteve em primeiro lugar. Quando conheci Dieter, tive a sensação de que essa era uma história grandiosa, com um personagem de dimensões heróicas. Mas, como foi preciso bastante tempo para juntar o dinheiro para o longa, fizemos o documentário primeiro.</i>” <span style="font-size: xx-small;">1</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Lembram de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2017/05/1997-little-dieter-needs-to-fly.html" target="_blank"><i>Little Dieter Needs To Fly</i></a>, documentário feito pra tevê alemã sobre o alemão Dieter Dengler (1938–2001), piloto de avião que se alistou na aeronáutica americana, e em uma missão no Laos, às portas da Guerra do Vietnã, foi abatido e feito prisioneiro, sofrendo cruelmente na mão dos captores até conseguir fugir através da selva?</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Pois <i>Rescue Dawn</i> (no Brasil, <i>O Sobrevivente</i>) é um filme sobre a mesma história, concentrado unicamente no período que compreende sua queda, seu aprisionamento e sua fuga. Não tem muito o que dizer além disso sobre a história, visto que tudo está bem detalhado no post linkado acima, sobre o documentário. Então, pra este texto não ficar repetitivo ou banal, recomendo uma lida lá antes de prosseguirmos aqui. Feito isso, continuemos.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Herzog insiste, em diversas entrevistas à época do lançamento do filme, na necessidade de duas versões da mesma história: “<i>Quando eu assisti ao filme pela primeira vez com Dieter, as luzes se acenderam e ele se virou para mim. ‘Werner’, ele disse sem perder o ritmo, ‘este é um assunto inacabado’. A história de Dieter e Duane sempre foi a que eu queria contar em um filme, uma história de amizade e sobrevivência. Apesar de </i>Rescue Dawn<i> ter ficado em segundo lugar, em espírito foi realmente o primeiro filme. Little Dieter... foi fortemente influenciado por um longa-metragem que ainda havia sido feito</i>”. <span style="font-size: xx-small;">2</span></span></span><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><br />Além disso, o diretor sempre fez questão de justificar a inclusão de <i>Rescue Dawn</i> em sua mitologia fílmica, de modo que não fosse desnecessário ou inadequado à sua cinematografia: “<i>Para mim, as paisagens e a natureza sempre formam uma oposição a nós. Por exemplo, a selva em</i> <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2015/11/1982-fitzcarraldo.html" target="_blank">Fitzcarraldo</a> <i>é
o lugar dos sonhos febris da imaginação, do mistério, do inacreditável.
É como se a selva fosse uma qualidade humana. No caso de</i> Rescue Down, <i>eu
diria que o filme é muito físico. Você vê os prisioneiros que escapam
abrindo caminho em meio à mata mais cerrada, os cipós mais grossos. É
uma selva que é quase impossível de se atravessar. Você olha para ela e
se pergunta como um ser humano conseguirá penetrar nela um metro sequer,
mas eles estão entrando, e a câmera está logo atrás. É quase como se
nós, como plateia, fôssemos mais um fugitivo, ao lado deles. Então é uma
qualidade direta que é muito física, algo do qual gostei muito</i>.” <span style="font-size: xx-small;">3</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-jSHKkuOU2sw/Xt_7ifSE3BI/AAAAAAACBYw/MSS9zsAsnFknBDSvMv9HuTIYs4DTRrOBQCEwYBhgLKs4DAL1OcqwemI3HesgDjRUfM3OpW5TjwhdNXQPruLFJEDz7igMpcF6bto3kA6SOg4uJDx15DmOugm6gKnf9mtFy5npWZ28_dsjmke7Ts2MLJE6gnlacqe1BVQ8jAOEnnSOnrU9UqqVt2tvJ8Zdo9Rli6muzjYBl4nrP3TQ6n_mY_OjXLxHjyOdA5M1r5LAy4Buh9DNumCOIfZKlv4gHTdYDA6k9uarmfUvxcbtJXY7hghd1Dj16YG6XF6djRHChdeS-qKlsDD2zf00M6f4ZfzHuu_NO9_F1I6tnBrqv-P7y5Gc2PqorBDY4dp_s9qG3_AcnFADd7_oSCDBXTZ6SdlJD4ytMXl8_0Up3NJ08NjJ_QltT2hqyCNkvYLjzprL6ParHrH14IRaHo-v1FqLZgvYyLgDWvjbe4qT4z-B4HDnzpXGO5rbIgIlRUkP_8xnZP0ASEqyLKmvKfdswxwpmWeyonr5AL_nenaDp1DqzMvkjC3EgHVVuoPe1eCaZgfPEQ1sBGp8ltxuk3gm6RYkWfUDCMranZ31t5XkHE7p6mqtmxHD_VJj3FTG8gKbtYnbrKuzvmEdbt1ImLA3O4DpDM1fxvgn0nU8xOGSc7OfqW4NJMPP7__YF/s1600/15%2B%2528868%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="551" data-original-width="1024" height="172" src="https://1.bp.blogspot.com/-jSHKkuOU2sw/Xt_7ifSE3BI/AAAAAAACBYw/MSS9zsAsnFknBDSvMv9HuTIYs4DTRrOBQCEwYBhgLKs4DAL1OcqwemI3HesgDjRUfM3OpW5TjwhdNXQPruLFJEDz7igMpcF6bto3kA6SOg4uJDx15DmOugm6gKnf9mtFy5npWZ28_dsjmke7Ts2MLJE6gnlacqe1BVQ8jAOEnnSOnrU9UqqVt2tvJ8Zdo9Rli6muzjYBl4nrP3TQ6n_mY_OjXLxHjyOdA5M1r5LAy4Buh9DNumCOIfZKlv4gHTdYDA6k9uarmfUvxcbtJXY7hghd1Dj16YG6XF6djRHChdeS-qKlsDD2zf00M6f4ZfzHuu_NO9_F1I6tnBrqv-P7y5Gc2PqorBDY4dp_s9qG3_AcnFADd7_oSCDBXTZ6SdlJD4ytMXl8_0Up3NJ08NjJ_QltT2hqyCNkvYLjzprL6ParHrH14IRaHo-v1FqLZgvYyLgDWvjbe4qT4z-B4HDnzpXGO5rbIgIlRUkP_8xnZP0ASEqyLKmvKfdswxwpmWeyonr5AL_nenaDp1DqzMvkjC3EgHVVuoPe1eCaZgfPEQ1sBGp8ltxuk3gm6RYkWfUDCMranZ31t5XkHE7p6mqtmxHD_VJj3FTG8gKbtYnbrKuzvmEdbt1ImLA3O4DpDM1fxvgn0nU8xOGSc7OfqW4NJMPP7__YF/s320/15%2B%2528868%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Um dia especialmente ruim</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em entrevista à estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli, Herzog dá mais uma pista para o que ele considera o filme e o documentário como obras complementares: “<i>'Tivemos muito cuidado para reconstituir e estilizar a realidade de Dieter. Era necessário que se transformasse num ator que representa a si próprio', explica Herzog, a propósito do método de trabalho desse filme, e novamente escolhe intensificar a realidade a inventar histórias sugeridas por pormenores e detalhes reais</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4</span> Grazia acrescenta: “<i>O fato de essa história ter se tornado um filme de ficção clarifica ainda mais o percurso de estilização em que insiste o diretor alemão</i>”. <span style="font-size: xx-small;">5</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O crítico britânico de cinema Jonathan Romney concorda: “<i>Os filmes de Herzog, especialmente onde o homem e a natureza estão envolvidos, geralmente são pessimistas, mas </i>Rescue Dawn<i> marca uma mudança distinta: Dengler, como sabemos, sobreviveu para contar sua história, segundo todos os relatos, com sua mente e sua humanidade intactas. A imagem mais caracteristicamente herzogiana aqui é dos olhos de Bale, olhando ferozmente de um arbusto, mas Dengler é salvo da beira do abismo</i>”. <span style="font-size: xx-small;">6</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A crítica norte-americana de cinema Lisa Schwarzbaum cita um dos motivos pelo qual Dieter Dangler interessaria tanto o cineasta: “<i>Seu compatriota, Herzog disse </i>[ela não diz a fonte da afirmação]<i>, personifica tudo o que o cineasta ama na América: ‘Coragem, perseverança, otimismo, autoconfiança… ele era o imigrante por excelência nos Estados Unidos - um jovem que chegou com um grande sonho e passou a representar o melhor do espírito americano</i>’”. <span style="font-size: xx-small;">7</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Vários críticos ressaltam o cuidado com o ritmo e a preferência pela construção da trama – no caso, o plano de fuga e a relação dos prisioneiros entre si e com seus captores –, em detrimento da ação, o que seria comum num filme hollywoodiano de 2006. Nisso, <i>Rescue Dawn</i> se assemelha mais à produção norte-americana dos 1970s.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Romney, por exemplo: “<i>O filme não é apenas meticulosamente preciso em seu relato do procedimento de fuga, mas também é muito econômico ao evocar o modo como o cativeiro encolhe a alma: vemos Gene ansiosamente olhando por um antigo rótulo de lata de feijão, o equivalente do homem faminto a uma página central da Playboy </i>[foi horrível essa analogia, mas enfim]<i>. A tentativa de Dieter de aumentar o moral compensa no seu aniversário com um brinde de ‘champanhe’ improvisado, feito de larvas de insetos esmagadas</i>”. <span style="font-size: xx-small;">8</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Lisa também ressalta os aspectos opostos ao que esperamos de um filme de guerra ou fuga da prisão: “Rescue Dawn <i>é um filme triunfante de Werner Herzog. É uma destilação madura, realmente, do que o diretor faz da melhor maneira possível, tirando do caminho qualquer decoração desnecessária (nenhuma conversa de prisioneiro a prisioneiro sobre namorados em casa, nenhum comentário político, nenhuma narração autoral destacada emocionalmente em sotaques cantantes) para permitir que atores excelentes reconstituam manobras incríveis que homens reais realmente fizeram.</i>” <span style="font-size: xx-small;">9</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O crítico norte-americano de cinema Roger Ebert, fã declarado de Herzog, completa: “<i>Em</i> Rescue Dawn, <i>filmado nas selvas da Tailândia, nunca há a menor dúvida de que estamos na selva. Não há estrelas de cinema rastejando atrás de arbustos envasados em um lote traseiro. A tela sempre parece molhada e verde, e os atores atravessam a vegetação sufocante com dificuldade. Quase podemos sentir o cheiro da podridão e umidade</i>”. <span style="font-size: xx-small;">10</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Werner Herzog corrobora as análises positivas: “<i>A guerra realmente não leva em consideração o filme. Em cinco minutos acabou. Dieter Dengler foi abatido aos 40 minutos em sua primeira missão. Essa era a verdadeira história por trás disso. E o filme </i>Rescue Dawn<i> não lida com a Guerra do Vietnã. Naquela época, em 1965, a Guerra do Vietnã ainda não era uma conflagração total da guerra. Ninguém acreditava que isso se tornaria um conflito tão grande. E, claro, número um, sou contador de histórias. Número dois, estou tentando analisar profundamente nossa condição humana, entender o coração humano, e é por isso que tento apontar: não se deixe enganar, não pense que este é um filme de guerra. É, como eu disse, um teste e prova de homens. <span style="font-size: xx-small;">11</span> (...) É a fisicalidade da selva que me atrai - a beleza iminente e perigosa nela. Mas nunca usei uma selva como pano de fundo cênico. É sempre como uma paisagem interior, como febre sonha com uma paisagem. </i>[Tem]<i> uma qualidade humana. </i>Rescue Dawn<i> precisava estar em uma selva no sudeste da Ásia e, de certa forma, é o meu filme mais físico. É mais físico que </i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2013/11/1972-aguirre-der-zorn-gottes.html" target="_blank">Aguirre</a>”. <span style="font-size: xx-small;">12</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-tyWXIl6XE0A/Xt_7itI8_fI/AAAAAAACBZE/YCVxpMWfONwQOvRsi6D0iXLUg6V4QDPfQCEwYBhgLKtQDAL1Ocqzc9j_zgaa4GmdCYiZH3CKD1brZx-UimAkB7I0ooPqECY7WojzligmOM8o1G1MUMolqDZ3K0Q5zmnWV6T_H1k76cAViW4oCDIYDIUkwtfoO-pqP8ytbp5Pcw6zE1ytFuVjaJfUtPG4lWouJOAlj9vtJaFvZ2hXvCPfQLV2Gw4V3SpAsdXcXb6fugAy5mM8uIpVmhH7pANGCapZmIpFWFAeoM_NBuMtluDAl_T5Rv0mhAUfVDxjanwz_8tCN3Ge2ViRmB3fQTFwKYDi9EO3sBza2mE0onjEZySiQ3Wg47S4i_LTPtzygM03yZNPatabubJz5lyUxMgYUeQuRzv_DRWnJMPs8PTiGxhXF8EgJmrv0qAPL9k_ImWsfTjibl9BmnB0SnhRGf3du7L3OPv9DlgTPKjmrvHp1Uz2EY7pgB7rLzpdtP4xqnvZXFxmKKegyy4Gas2ZflC2W3fG_SECOfoJYwIMA7XMjV90DIOEXtCc_2dtIbItjq4HXGQZszBYLadgmWGZBZaEtM-ICOm7uf6-qKPmiROdKOoCPxPdoq53gL51salhNHAoldNrLD9eDUVS90gE2niKlbUbpv_6ySTD_IIAB9YUVhL2XiJU6CedpMKr8__YF/s1600/32%2B%2528865%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="551" data-original-width="1024" height="172" src="https://1.bp.blogspot.com/-tyWXIl6XE0A/Xt_7itI8_fI/AAAAAAACBZE/YCVxpMWfONwQOvRsi6D0iXLUg6V4QDPfQCEwYBhgLKtQDAL1Ocqzc9j_zgaa4GmdCYiZH3CKD1brZx-UimAkB7I0ooPqECY7WojzligmOM8o1G1MUMolqDZ3K0Q5zmnWV6T_H1k76cAViW4oCDIYDIUkwtfoO-pqP8ytbp5Pcw6zE1ytFuVjaJfUtPG4lWouJOAlj9vtJaFvZ2hXvCPfQLV2Gw4V3SpAsdXcXb6fugAy5mM8uIpVmhH7pANGCapZmIpFWFAeoM_NBuMtluDAl_T5Rv0mhAUfVDxjanwz_8tCN3Ge2ViRmB3fQTFwKYDi9EO3sBza2mE0onjEZySiQ3Wg47S4i_LTPtzygM03yZNPatabubJz5lyUxMgYUeQuRzv_DRWnJMPs8PTiGxhXF8EgJmrv0qAPL9k_ImWsfTjibl9BmnB0SnhRGf3du7L3OPv9DlgTPKjmrvHp1Uz2EY7pgB7rLzpdtP4xqnvZXFxmKKegyy4Gas2ZflC2W3fG_SECOfoJYwIMA7XMjV90DIOEXtCc_2dtIbItjq4HXGQZszBYLadgmWGZBZaEtM-ICOm7uf6-qKPmiROdKOoCPxPdoq53gL51salhNHAoldNrLD9eDUVS90gE2niKlbUbpv_6ySTD_IIAB9YUVhL2XiJU6CedpMKr8__YF/s320/32%2B%2528865%2529.jpg" width="320" /><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O sempre ótimo Christian e um surpreendente Steve</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">É inegável que temos diversos elementos tipicamente herzogianos aqui (do contrário, o alemão não teria feito dois filmes sobre a mesma história): a luta do homem contra a natureza, sendo esta sempre hostil e enlouquecedora, levando os personagens aos limites físicos e mentais, surge de forma inequívoca aqui. Porém, discordo da comparação com <i>Aguirre, Der Zorn Gottes</i>; tem mais a ver com o ótimo, mas convencional em sua narrativa, <i>Fitzcarraldo</i>, até em seu desfecho anticlimático, até mesmo decepcionante.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />A humanidade com que os personagens são retratados também se estende aos algozes em alguma medida, como nota o crítico norte-americano de cinema [inclusive um dos editores do site de Roger Ebert] Matt Zoller Seitz: “<i>No passado, Herzog foi criticado por sua tendência de tratar os residentes do terceiro mundo como parte do cenário, mas em </i>Rescue Dawn<i> ele tem empatia pelos captores de Dengler. Eles são prisioneiros também. Eles são cruéis porque estão entediados e deprimidos, mas ocasionalmente demonstram bondade. Quando eles consideram executar os prisioneiros e abandonar o campo, Herzog deixa claro que esse curso potencial de ação não é evidência de um mal subumano, mas um plano desesperado elaborado por homens que não têm comida suficiente para alimentar a si e a seus reclusos, e preferem apenas ir para casa para suas famílias</i>”. <span style="font-size: xx-small;">13</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Matt, no entanto, pondera: “<i>O filme não está isento de falhas. A base da história, na verdade, não a previne contra acusações de previsibilidade. A trilha de Klaus Badelt pode ser intrusivamente enfático. E o final triunfante - em que Dengler é recebido de volta à sua frota com aplausos e discursos - é decepcionantemente convencional</i>. <span style="font-size: xx-small;">14</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />A
família de DeBruin não curtiu muito o filme, tanto que Jerry DeBruin, irmão de Gene, fez um site chamado <i>Rescue Dawn The Truth </i>[aparentemente já fora do ar], alegando que
vários personagens e eventos foram falsamente retratados - o que é até
normal por questões de fluidez da narrativa, mas fez com que diversos
atos heroicos dele e de outros prisioneiros (o tailandês Pisidhi Indradat, outro
sobrevivente do grupo, também reclama disso na página) fossem ou
creditados apenas a Dieter ou simplesmente retirados da história.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Por
exemplo, o site afirma que, durante sua prisão, DeBruin ensinou inglês a
seus colegas de cela, compartilhou sua comida e até voltou depois de
escapar para ajudar um colega de cela ferido. Herzog reconheceu que
DeBruin agiu heroicamente durante sua prisão, recusando-se a sair
enquanto alguns prisioneiros doentes permaneciam, mas que não sabia
disso até depois de o filme ser concluído; no entanto, Pisidhi Indradat e
Jerry DeBruin declararam que fizeram várias tentativas de se encontrar
com Herzog para garantir a precisão do filme, mas sem sucesso. </span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-EC22ypF-qmU/Xt_7idl3PDI/AAAAAAACBZA/TSum7mYu_asnQbca6Zhw848oWgFCdo4rQCEwYBhgLKtQDAL1Ocqxx3ZR4Xp66BBK-7CRuf16R1EtBL-YTasMFBze57ikdTlAKpjjkdnv-DXdO8QGtLtPQlVq3e1Dy0oXAFtDnoFss-nSfcra9LpmNBrVQi0K0dJQOMbVaCx84aWI7FGOjXtJXdLNqF4_OKnADnHKLxRj7xoC7AKMDR0FihbFmEMmDgpTz1FWMHotG88oNDWsLEnzwT-UCLJDj1PSfSOa2wWGKu3XSW4Rl-rpZ8SV2cG8XGtZ_fewA7ddU-2uIpoQ011DHwseTIS_TevlRwt3V4qiaq0rU1hglLXlBWuFgtw_Iw_CLwA1jHUjx6Ime8e5xPsIsfKPCZkm54AdZi1P-k6fQSvhjz4dqJ9yhJJJhdHb7pB1PVOsoUXDJ3I0mZNCq2KDLdGrFJDyS39uItTf3l4vMm1JFG_vMnevtSURlc-j0TG8rSUMk_un7wnEh7cDxe9y1-KJIPxSVW-qB01zDbH9Eq4XzalU_iSr1xBGfg2M_KMwqPFoE50EwoHz99WDgzNvAcZ77mU3EGZV9mpCOur_Dd3JwheWfxT1J041JRXA0d6oFt_i1NT25uRUKjX1M8eHL_WZLZdVJEoTb4zyBUMV_RxcshklhKtf-6UrRSiZ8MO_8__YF/s1600/52%2B%2528825%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="551" data-original-width="1024" height="172" src="https://1.bp.blogspot.com/-EC22ypF-qmU/Xt_7idl3PDI/AAAAAAACBZA/TSum7mYu_asnQbca6Zhw848oWgFCdo4rQCEwYBhgLKtQDAL1Ocqxx3ZR4Xp66BBK-7CRuf16R1EtBL-YTasMFBze57ikdTlAKpjjkdnv-DXdO8QGtLtPQlVq3e1Dy0oXAFtDnoFss-nSfcra9LpmNBrVQi0K0dJQOMbVaCx84aWI7FGOjXtJXdLNqF4_OKnADnHKLxRj7xoC7AKMDR0FihbFmEMmDgpTz1FWMHotG88oNDWsLEnzwT-UCLJDj1PSfSOa2wWGKu3XSW4Rl-rpZ8SV2cG8XGtZ_fewA7ddU-2uIpoQ011DHwseTIS_TevlRwt3V4qiaq0rU1hglLXlBWuFgtw_Iw_CLwA1jHUjx6Ime8e5xPsIsfKPCZkm54AdZi1P-k6fQSvhjz4dqJ9yhJJJhdHb7pB1PVOsoUXDJ3I0mZNCq2KDLdGrFJDyS39uItTf3l4vMm1JFG_vMnevtSURlc-j0TG8rSUMk_un7wnEh7cDxe9y1-KJIPxSVW-qB01zDbH9Eq4XzalU_iSr1xBGfg2M_KMwqPFoE50EwoHz99WDgzNvAcZ77mU3EGZV9mpCOur_Dd3JwheWfxT1J041JRXA0d6oFt_i1NT25uRUKjX1M8eHL_WZLZdVJEoTb4zyBUMV_RxcshklhKtf-6UrRSiZ8MO_8__YF/s320/52%2B%2528825%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A selva é a prisão</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Além
disso, no filme, Dengler elabora todo o plano de fuga, mas, segundo
Jerry DeBruin, os prisioneiros esperaram duas semanas antes de lhe
contar o plano, que havia sido elaborado antes de sua chegada. </span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas enfim, <i>Rescue Dawn</i> precisava existir? Não, ainda mais com a existência de <i>Little Dieter Needs To Fly</i>. É um bom filme? Se você esquecer que é obra do Herzog, é um bom entretenimento, apesar do final anticlimático e banal; senão, vai achar tudo convencional demais para os padrões do diretor, a despeito do empenho de Christian Bale e de um surpreendente Steve Zahn, que realmente compraram a história. Também é interessante como é um filme de guerra + sobrevivência na salva totalmente fora dos padrões a que estamos acostumados: não adianta brigar com todo mundo, sair atirando e acabou – afinal, eles se libertam, porém estão no meio de uma selva no Laos, e aí fazem o quê? Como Duane explica a Dengler: "<i>A selva é a prisão - você não entende?</i>" Isso dá um interesse maior à narrativa, mas mesmo assim, é uma obra dispensável pra quem não seja muito fã dos atores ou da temática ‘sobrevivência na selva” – quem foi esperando um filme de ação, vai se decepcionar.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Curiosidades</b>:</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />- o</span></span></span></span> filme foi inteiramente rodado em 44 dias e o primeiro corte tinha quase três horas;</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- o
filme foi filmado em continuidade inversa, de modo que Christian Bale,
tendo trabalhado duro para perder peso para o papel, pareceria mais
magro no final, e então poderia simplesmente ganhar os quilos de volta
ao longo das filmagens;</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- </span></span>Christian Bale perdeu 25 quilos por seu papel, enquanto Jeremy Davies perdeu 15 quilos e Steve Zahn, 18; em
uma demonstração de solidariedade, como muitos de seus atores perderam
peso por seus papéis, o diretor perdeu quase 14 quilos;</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span></span></span><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- todos os guardas do campo de prisioneiros de guerra foram baseados em personagens verdadeiros da história de Dieter Dengler, exceto ‘Walkie Talkie’, que é criação do diretor;</span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- para se preparar para seu papel, Jeremy Davies leu <i>Man's Search For Meaning</i>, de Viktor Frankl, psiquiatra sobrevivente do Holocausto, que escreveu sobre as reações psicológicas experimentadas pelos prisioneiros.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- a cena do acidente de avião é a única cena em que Christian Bale foi trocado por um dublê, Chris Carnel, que sofreu queimaduras leves no rosto devido ao episódio;</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- p</span></span>ara mostrar o quão impotente e desorientado um homem se sentiria depois de ser capturado e passar fome, o diretor insistiu que, embora sendo mantidos prisioneiros, todos os que eram destros devem usar predominantemente a mão esquerda e todos os que são canhotos devem usar a mão direita; em algumas cenas, Bale ficou extremamente confuso, mas o diretor garantiu que todos estavam assim, como desejado;</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">-
na vida real, Dengler falava inglês com um forte sotaque alemão, que
foi reduzido, na composição feita por Bale, ‘para quase zero’;</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- o</span></span>
filme retrata seis prisioneiros no campo, enquanto, na vida real, havia
sete; Herzog diz que achou difícil escrever o roteiro com sete
personagens, e que seis era um número mais gerenciável; </span></span></span></span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">-
Dieter Dengler foi capturado não uma, mas duas vezes na vida real; a
cena em que ele foi capturado enquanto bebia de um rio é baseado em sua
segunda captura; </span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
-<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> quando Dieter é questionado sobre como ele se tornou um aviador naval, ele descreve uma experiência incrível de ver um avião de combate voando muito perto quando era criança na Alemanha em tempos de guerra; a experiência descrita é surpreendentemente semelhante à do personagem de Christian Bale, Jim, dezenove anos antes, em <i>Empire Of The Sun</i> (1987), de Steven Spielberg;<br /><br /><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- </span></span>o final excessivamente feliz retratado no filme realmente aconteceu com Dieter Dengler em seu resgate e, embora possa parecer um final brega de Hollywood para muitos espectadores, Herzog achou que mudar o desfecho não seria um bom tributo ao personagem principal, além de talvez não não combinar com a sensibilidade de alguns membros da platéia;</span></span>
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />- após seu lançamento nos cinemas, em 2007, Rescue Dawn foi indicado para diversos prêmios, como o Golden Satellite Award e o Independent Spirit Award, e Christian Bale venceu o prêmio de conjunto da obra no San Diego Film Critics Society.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">1 </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">3</span> <a href="https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0712200707.htm">https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0712200707.htm</a><br />2 </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Herzog, Werner. In.: </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Werner Herzog: A Guide For The Perplexed</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2014.</span><br />4 5 PAGANELLI, Grazia. <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.<br />6 8 <a href="https://www.independent.co.uk/arts-entertainment/films/reviews/rescue-dawn-12a-760436.html">https://www.independent.co.uk/arts-entertainment/films/reviews/rescue-dawn-12a-760436.html</a><br />7 9 <a href="https://ew.com/article/2007/07/02/rescue-dawn-3">https://ew.com/article/2007/07/02/rescue-dawn-3</a><br />10 <a href="https://www.rogerebert.com/reviews/rescue-dawn-2007">https://www.rogerebert.com/reviews/rescue-dawn-2007</a><br />11 12 <a href="https://filmmakermagazine.com/archives/issues/summer2007/rescuedawn.php">https://filmmakermagazine.com/archives/issues/summer2007/rescuedawn.php</a><br />13 14 <a href="https://www.nytimes.com/2007/07/04/movies/04dawn.html">https://www.nytimes.com/2007/07/04/movies/04dawn.html</a></span></span></div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-8736252054784556022019-09-05T14:50:00.000-03:002019-09-06T13:28:44.796-03:00(2005) The Wild Blue Yonder<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha | 81min | super 16 mm | cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Irma Strehle</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Joe Crab, Eric Spitzer</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Joe Bini</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: Ernst Reijseger, interpretada por Mola Sylla e os coros sardos Tenore e Cuncordu de Orosei</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Brad Dourif</span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>É um filme de ficção científica com um alienígena, Brad Dourif, que eu amo como ator, e que tem algumas das cenas mais extraordinárias já filmadas no espaço, em uma missão espacial realizada em 1989. Os astronautas filmaram eles próprios dentro da espaçonave em celuloide de 35 mm, com uma qualidade tão grande que eu quis criar uma história de ficção científica em volta deles. A segunda parte tem imagens filmadas sob a camada de gelo do Mar de Ross, na Antártida. É um mundo completamente alienígena: se você nada embaixo do gelo é como se estivesse em um planeta diferente, que eu chamei de </i>The Wild Blue Yonder<i> ("Além do Azul Selvagem"), em algum lugar na nebulosa de Andrômeda. É uma fantasia de ficção científica selvagem, com música extraordinária, de Ernst Reijseger.</i>" <span style="font-size: xx-small;">1</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Como diz o próprio site do diretor, <i>The Wild Blue Yonder</i> “<i>é a história de astronautas perdidos no espaço, o segredo de Roswell ‘reexaminado’ e Brad Dourif, em ótima performance, como alienígena, nos contando tudo sobre seu planeta natal – O Selvagem Azul Longínquo – onde a atmosfera é composta de hélio líquido e o céu é congelado. Usando imagens únicas, belas e inéditas, com acesso aos cinco astronautas responsáveis pela missão Galileo, e com música especialmente composta, Herzog criou uma visão espetacular de imagens, sons, música e emoção humana, tudo parte de sua ciência-fantasia</i>”. <span style="font-size: xx-small;">2</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Nada muito modesto, mas o filme é isso mesmo: um arremedo de ficção científica com imagens deslumbrantes do céu e da terra. Sim, isso lembra <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com/2013/10/1970-fata-morgana.html" target="_blank"><i>Fata Morgana</i></a> e <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com/2017/01/1992-lektionen-in-finsternis.html" target="_blank"><i>Lektionen In Finsternis</i></a>, tanto que a estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli sustenta que os três filmes formam uma espécie de trilogia: “Fata Morgana, Lektionen In Finsternis <i>e</i> The Wild Blue Yonder <i>tornam-se etapas sucessivas de um projeto de ficção científica, perseguindo a ideia do olhar alienígena que nos oferece elementos impensáveis e momentos de reflexão sobre a criação, sobre a vida e sobre a morte. Precisamente, fragmentos de uma trilogia de ficção científica, que se inicia nos desertos africanos, com o mito do Popol Vuh, quando a Terra não tinha forma, quando tudo era silencioso, céu e água, continua pela fúria ardente dos poços do Kuwait, na hostilidade cortante de seres desconhecidos, e se conclui nas profundezas sem fim do mar e do céu. Uma volta completa, do céu ao céu, do seu brilho inerte à obscuridade do abismo, da origem ao fim dos mundos</i>”. <span style="font-size: xx-small;">3<br /></span></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-m7Qp5c6HqHw/XXFJYqQuEPI/AAAAAAABu38/saAobfYN2mgefpnJOcdwvE5nlkF1d3a-ACEwYBhgL/s1600/yonder1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="336" data-original-width="605" height="177" src="https://1.bp.blogspot.com/-m7Qp5c6HqHw/XXFJYqQuEPI/AAAAAAABu38/saAobfYN2mgefpnJOcdwvE5nlkF1d3a-ACEwYBhgL/s320/yonder1.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alien</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />O estudioso norte-americano de cinema alemão Brad Prager concorda: “<i>O filme empreende um projeto com o qual Herzog está há muito engajado: alcançar a visão do mundo como um astronauta poderia vê-lo, uma visão da Terra que ele tentou alcançar com </i>Fata Morgana<i> e com</i> Lektionen In Finsternis<i>. Herzog é bastante explícito sobre essa interconexão, considerando que os três estão em algumas variações de nível do filme de ficção científica.</i>” <span style="font-size: xx-small;">4</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O plot é tão livre quão intrincado: uma missão espacial se vê impedida de regressar a Terra porque, devido a uma estranha e letal bactéria, as condições de vida por aqui se tornaram impossíveis; assim, os astronautas se lançam espaço sideral afora em busca de outro lugar para habitar, e julgam tê-lo encontrado na Galáxia de Andrômeda. Tudo isso é contato por um alienígena, justamente desse planeta, que veio a Terra numa fracassada tentativa de contato com a espécie humana, pois seu lar também estava se tornando ambientalmente inviável para sua raça. E os terráqueos, quando voltam para cá, quase mil anos depois [as viagens são feitas via buraco-deminhoca], se deparam com o orbe totalmente desabitado de pessoas, retornado ao seu estado selvagem, primordial.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Grazia Paganelli acrescenta: “<i>Assim, no final de</i> The Wild Blue Yonder, <i>depois da utopia de uma colônia espacial, o regresso dos astronautas a Terra é uma surpresa zombeteira. Ao fim de 820 anos atravessam o túnel do tempo, os seus corpos se dissolvem em partículas e depois em luz pura, mas a Terra já não é habitada, tornou-se um enorme parque natural sem estradas nem aeroportos onde aterrar.</i> 'Regressara à sua beleza originária. Era de novo a Pré-História'. <i>Como penetrar num espelho profundo, depois de tanto viajar, depois de ter enganado o tempo, com a necessidade de recomeçar desde a origem de tudo</i>”. <span style="font-size: xx-small;">5<br /></span></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-Zyj5jPimiKc/XXFJYq35RtI/AAAAAAABu4Q/g9LkUDsClec0p1u-qLU_Lau-oyEdwAv0wCEwYBhgL/s1600/yonder2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="336" data-original-width="606" height="177" src="https://1.bp.blogspot.com/-Zyj5jPimiKc/XXFJYq35RtI/AAAAAAABu4Q/g9LkUDsClec0p1u-qLU_Lau-oyEdwAv0wCEwYBhgL/s320/yonder2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Terráqueos</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sim, é uma confusão, e confesso não ter entendido direito quando vi o filme pela primeira vez, numa mostra de cinema, em meados da década passada [e nem sei se entendi mesmo agora]. Porém, o arremedo de história é contado com diversos artifícios – o alienígena, imagens de cinema mudo, sequências com astronautas em um módulo espacial e tomadas nos mares gelados da Antártida – que dão como resultado um filme muito bonito, ainda que muito mais sensorial do que propriamente disposto a contar uma história. É extático e ora catártico, ora com certo humor deprimido [deve ser o tal ‘humorismo bávaro’ a que Herzog se refere em alguns de seus filmes].</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Além disso, nesse tipo de filme herzogiano, não se pretende que os espectadores se encontrem imersos na história retratada na tela; ao contrário, é exigida uma suspensão de descrença bastante ativa. Afinal, além da história frouxa, o filme não faz nenhum esforço para ser realistas: o tal alienígena narrador não tem qualquer vestimenta, maquiagem ou modo de falar que o diferencie de uma pessoa ordinária; as imagens subaquáticas da Antártida, que aparecem à guisa de planeta natal do ‘Alien’, incluem mergulhadores movendo-se na água e momentos em que se pode perceber claramente mãos com luvas de mergulho seguram a câmera digital que grava as sequências.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Tudo isso dá certa inadequação ao material: a narração do Alien, as imagens do começo do século 20 ilustrando ironicamente suas falas, tudo é deliberadamente feito para que soe estranho e até ridículo, como detalha a estudiosa norte-americana de cultura alemã Laurie Ruth Johnson completa: “<i>Em</i> The Wild Blue Yonder, <i>como em outros filmes, Herzog repetidamente nos dá imagens de coisas que funcionam independentemente das próprias coisas. As coisas podem ter certo sentido, mas Herzog usa imagens de um modo que não enfatiza nem sequer se refere a esse propósito. Não vemos aplicação para as turbinas, o exercício do tanque de água do astronauta é descontextualizado, e nem trens nem caminhões chegam a uma estação, e ainda assim todas as imagens dessas coisas são propositais e ocres dentro de si</i> ”. <span style="font-size: xx-small;">6</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Quanto ao humor, o próprio diretor confirma: “<i>Como em muitos dos meus outros filmes. As pessoas raramente falam nisso, mas quando os vemos na sala de cinema, há sempre alguém que ri porque compreendeu o absurdo total de certos momentos. Rimos mais quando vemos</i> The Wild Blue Yonder <i>do que quando vemos uma comédia do Eddie Murphy. Se pudéssemos cronometrar a duração do riso, estaríamos quites, eu e Eddie Murphy.</i> Em The Wild Blue Yonder, <i>o humor não é calculado como num filme de Billy Wilder, por exemplo. Wilder calculava seu timing de comédia com uma precisão extrema. No meu filme, o humor tem uma qualidade diferente, vem da pura alegria de fazer filmes. Naturalmente que, considerando a forma como nos divertimos, o humor aparece misturado com o gozo espontâneo de todos que participaram do projeto, com o nosso próprio riso (...) Diria que o humor emerge organicamente dos meus filmes. Não há nenhum plano preciso calculado para obter o efeito cômico. Tudo faz parte da alegria pura em contar uma história</i>”. <span style="font-size: xx-small;">7</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-Y5Qhagwh_pA/XXFJYpehU4I/AAAAAAABu4M/7_iSZ0Ghd5Aw-ZYLl7-PrE8Z6LG79pE-wCEwYBhgL/s1600/yonder3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="334" data-original-width="608" height="175" src="https://1.bp.blogspot.com/-Y5Qhagwh_pA/XXFJYpehU4I/AAAAAAABu4M/7_iSZ0Ghd5Aw-ZYLl7-PrE8Z6LG79pE-wCEwYBhgL/s320/yonder3.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Azul & longínquo</span></td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Para além desse tal ‘efeito cômico’, o que realmente impressiona no filme – assim como fora em <i>Fata Morgana</i> e <i>Lektionen In Finsternis</i> – é o uso de imagens da Terra, do lugar onde vivemos, de pessoas como nós, como se fossem polaroides de um lugar ou um futuro muito distantes: essa sensação de estranheza e maravilhamento diante do que, de certa forma, vemos [ou podermos ver] com certa facilidade é um grandíssimo talento de Herzog, e, mais que isso, é mostrar que neste planeta e entre a gente há muito caos e estranheza. Por isso essa opção de fazer ficção quase que somente com imagens documentais. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Essa ideia de que mesmo nosso mundo não nos pertence, que mesmo aqui não sejamos acolhidos, é, de certa forma, compartilhada por Grazia Paganelli: “<i>É a invenção da realidade que reina em</i> The Wild Blue Yonder. <i>Aqui o jogo ainda é mais sutil [que em</i> <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com/2019/02/2005-grizzly-man.html" target="_blank">Grizzly Man</a><i>], o excesso de sentido das imagens da Nasa é contrabalançado por um excesso de ficção. A história dos extraterrestres, exposta na sua dramaticidade vibrante, perde-se no imenso espaço ‘irreal’ das profundezas marinhas e dos abismos do cosmos. Recorda-nos Fata Morgana, a miragem de qualquer coisa que, ao mesmo tempo, existe e não existe, imagem nunca vista que não será mais possível ver do mesmo modo</i>”. <span style="font-size: xx-small;">8</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O filme trabalha com temas caros ao diretor: a ideia de que a existência, a natureza, tudo é extremamente caótico e hostil; a vida na Terra deu errado, a vida em outros planetas dá errado, tudo é selvagem e inóspito; as relações dão errado, até mesmo entre humanos e alienígenas; o Alien é um perfeito desajustado, praticamente um <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com/2014/05/1977-stroszek.html" target="_blank"><i>Stroszek</i></a> interestelar; e, por fim, uma ideia megalomaníaca de conquista falha miseravelmente. Todo sonho de conquista acaba em desolação no universo herzogiano. No Selvagem Azul Lingínquo que há lá fora e dentro de nós.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Para encerrar a análise deste filme que, por mais estranho, eu julgo obrigatório para quem ame cinema [numa tela grande o efeito é bem melhor, mas enfim], se você estiver no clima para embartcar nessa quase-história de melancolia infinita, nada como a frase do crítico inglês de cinema Mark Kermode: “<i>Quanto a Herzog, ele é um bravo soldado do cinema, sem medo de fracassar, sempre pronto para levar a bala enquanto continua audaciosamente aonde nenhum homem foi antes</i>”. <span style="font-size: xx-small;">9</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Curiosidades</b>:</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– sobre o orçamento do filme, o alemão explica: “<i>É interessante como eu financio meus filmes:</i> The Wild Blue Yonder <i>foi feito inteiramente com o dinheiro que eu ganhei com meu filme anterior</i>, O Homem-Urso, <i>que foi um enorme sucesso de público, o maior nos cinemas dos EUA de um filme de não ficção; ganhei algum dinheiro com esse documentário e imediatamente investi tudo nesse outro projeto; provavelmente é por isso que eu nunca vou enriquecer (risos); minha riqueza são meus filmes</i>”; <span style="font-size: xx-small;">10</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– parte da ideia de <i>The Wild Blue Yonder</i> vem do argumento que seria usado, mas acabou descartado, em <i>Fata Morgana</i> – uma história sobre alienígenas de Andrômeda cujo planeta estaria em vias de ser destruído; </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– a trilha sonora é feita e executada pelos mesmos responsáveis pelas músicas de <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com/2019/01/2004-white-diamond.html" target="_blank"><i>The White Diamond</i></a>;</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– sobre as teorias científicas que aparecem no filme, o diretor conjectura: “<i>Se não tivesse começado a fazer filmes, talvez tivesse sido matemático; acho que teria gostado de sê-lo</i>”; <span style="font-size: xx-small;"><i>11</i></span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– a série <i>Futurama</i>, de Matt Groening [que já havia feito piada com <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com/2015/11/1982-fitzcarraldo.html" target="_blank"><i>Fitzcarraldo</i></a> n’<i>Os Simpsons</i>], tem um episódio, de 2009, chamado <i>Into The Wild Green Yonder</i>.</span><br />
<br />
<br />
<br />
<div align="left">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">1 10</span> <span style="font-size: x-small;"><a href="https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2012/11/werner-herzog-a-zh-daria-tudo-para-conhecer-garrincha-3962003.html">https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2012/11/werner-herzog-a-zh-daria-tudo-para-conhecer-garrincha-3962003.html</a></span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">2</span> <span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.wernerherzog.com/main/de/html/films/films_details/brief_survey.php?film_id=52">https://www.wernerherzog.com/main/de/html/films/films_details/brief_survey.php?film_id=52</a></span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">3 5 7 8 11</span> <span style="font-size: x-small;">PAGANELLI, Grazia. <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">4</span> <span style="font-size: x-small;">PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">6</span> <span style="font-size: x-small;">JOHNSON, Laurie Ruth. <i>Forgotten Dreams: Revisiting Romanticism In The Cinema Of Werner Herzog</i>. Cadmen House, 2016.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">9</span> <span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.theguardian.com/theobserver/2007/jun/17/features.review37">https://www.theguardian.com/theobserver/2007/jun/17/features.review37</a></span></span></div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-28910718282500033862019-02-18T21:22:00.000-03:002019-09-12T20:00:05.008-03:00(2005) Grizzly Man<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (rodado no Alasca) | 103min | 35 mm | cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Walter Saxer</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Eric Spitzer</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Joe Bini</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: Richard Thompson, interpretado por ele mesmo e por Danielle de Grutola, John Hanes, James O’Rourke e Damon Smith</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Timothy Treadwell, Werner Herzog, Carol Dexter, Val Dexter, Sem Egli, Frank G Fallico, Willy Fulton, Mark Gaede, David Letterman</span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>Descobri que, para além de um filme de vida selvagem, em seu material havia uma história de beleza e profundidade surpreendentes. Descobri um filme de êxtase humano e a mais escura perturbação interior.</i>”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Esse trecho da narração de Herzog em <i>Grizzly Man</i> (‘<i>O Homem-Urso</i>’, no Brasil) dá a perfeita medida do que se pode encontrar no filme, um documentário sobre o pseudoambientalista norte-americano Timothy Treadwell, nascido Timothy Dexter (1957–2003), um cara claramente com uns parafusos faltando e uma obsessão por ursos-pardos, que, durante 12 anos, visitou anualmente – muitas vezes violando regras de segurança do Katmai National Park And Reserve, no Alasca –, para viver por meses entre as grandes, peludas e perigosas criaturas, até que, no 13º ano, foi devorado, junto com sua namorada, por um dos ursos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Só isso já seria daria um documentário interessante, porém, tudo fica ainda mais incrível quando ficamos sabendo que o próprio Timothy deixou gravadas mais de 100h de material filmado por ele mesmo, onde se revelam muitos aspectos de sua personalidade: seus medos, suas obsessões, seus métodos, suas incongruências, distúrbios de personalidade diversos e mais um tanto de coisas que só podemos supor.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Timothy já era conhecido, tanto pela aparente completa insanidade em morar com perigosos ursos (que sequer precisavam ser protegidos, como especialistas afirmam no filme), completamente desarmado, como por aparecer em programas de televisão, como entrevistado, e por suas visitas a escolas de todos os EUA, dando palestras (gratuitas) sobre ambientalismo e ursos-pardos. Era considerado um “maluco do bem”, inofensivo, embora quase todo mundo esperasse que, cedo ou tarde, ele se daria mal em suas estadias selvagens (os testemunhos de amigos e conhecidos dão conta igualmente desses dois fatos).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A crítica de cinema norte-americana Manohla Dargis reforça este ponto: “<i>Ao longo de</i> Grizzly Man, <i>homens e mulheres prestam testemunho da amabilidade e ingenuidade de Treadwell. Alguns são gentis; outros menos. Cada testemunha parece capturar alguma qualidade autêntica de Treadwell, que, a partir da evidência de seus vídeos e da indagação simpática de Herzog, parecia igualmente gentil e ingênua, corajosa e tola. Em algum momento, essa loucura se transformou em uma confusão de ilusões sobre seu poder de sobreviver ao deserto em que ele tão imprudentemente tentou se encontrar. Sua morte, tão inevitável quanto evitável, poderia significar que ele pode ter mais se perdido que encontrado</i>”. ¹</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas, que fique claro, havia quem não aprovasse seu modo de vida, como lembra o estudioso norte-americano de cinema alemão Brad Prager: “<i>As críticas mais duras a Treadwell sugeriram que ele usou o mito de proteger os ursos para se promover e acumular dinheiro [o que o próprio filme nega], aparecendo em talk shows com Tom Snyder e David Letterman e dizendo ao mundo que ele era a última linha de defesa dos ursos. Ainda outra perspectiva crítica sobre ele sugeria que o principal problema de seu trabalho era permitir que os ursos se acostumassem à sua presença, e que havia boas razões para as regras do parque serem contra se aproximarem deles".</i> ²</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="506" data-original-width="881" height="183" src="https://3.bp.blogspot.com/-gqsnaRBz5Hk/XGtNNjA5-dI/AAAAAAABi60/HBnZE-sytbQ1b_vPMYX8rZDnLPLAmKIswCEwYBhgL/s320/film-grizzly-man-2-900x506.jpg" width="320" /></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"> As normas do parque recomendam 90m de distância dos ursos...</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><br />Enquanto o filme vai pinçando características de Treadwell – além de depoimentos positivos e negativos –, ficamos sabendo, tanto por pessoas próximas quanto por reportagens, que ele era um rapaz que podia ser considerado “comum” (talvez as pessoas simplesmente não notassem que ele precisava de ajuda), aluno OK, bom em natação, sempre gostou de animais (com predileção pelos ursos), fez teste para a famosa sitcom <i>Cheers</i> (1982-1993), mas teria perdido o papel para Woody Harrelson, até que, em algum momento da juventude (anos 1980s), começou a usar muito álcool e outras drogas – o filme não detalha, mas Timothy chegou a ter uma overdose de heroína, quando resolveu canalizar suas angústias para os ursos-pardos, chegando a criar uma fundação, a Grizzly People. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Ainda somos apresentados a diversos momentos do protagonista, sozinho (ou, pelo menos, na maior parte do tempo, pois sabe-se que ele levou namoradas para a reserva em diversos anos), falando em frente à câmera, interagindo com ursos e raposas ou apenas observando a natureza, além de muito falatório, sobre si (às vezes com sentido, às vezes não), sobre sua preocupação com a preservação daquele ambiente (o qual ele considerava ser o único humano digno de frequentar),e sim, sobre o perigo que ele corria a todo tempo – aparentemente, ele pretendia se tornar um urso-pardo, disputando espaço e sendo respeitado pelos bichos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Como nota o especialista norte-americano em cinema alemão Eric Ames, “<i>algumas cenas são até engraçadas, o jeito com que Timothy trata as raposas, que essas sim são amigáveis e dóceis, uma beleza da natureza. Sua voz sempre suave ao falar com os ursos, nos apresentando-os pelos nomes: Sargento Brown, Mickey, Saturno, Mr. Chocolate, e ele não se cansava de dizer o quanto os amava. Ao mesmo tempo sentimos carinho, pena e raiva desse ser humano que quis ultrapassar as leis da natureza. Cada vez mais solitário, percebemos que ele queria estar ali, não havia outro lugar no mundo em que preferisse estar</i>”. ³</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Outras sequências são mais perturbadoras, como sua ira contra os deuses porque estava chovendo pouco e os ursos-pardos estavam com poucos peixes para comer devido ao baixo fluxo do riacho, ou simplesmente porque ele insistia em burlar a regras de segurança do parque nacional, ralhando contra os funcionários que não só o ajudavam como faziam vista-grossa para sua total falta de respeito às regras; ou o modo como seu humor variava dessa raiva desmedida para uma emoção infantil ao ver um grande monte de excremento de urso, recém-expelido, e para uma tristeza de quem perdeu um parente muito próximo ao ver uma de “suas" raposas mortas no gramado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em outra sequência reveladora, ele fica questionando para si e para o mundo porque as garotas não queriam alguém como ele, e que se ele fosse gay, talvez fosse mais fácil de se relacionar e fazer sexo, mas ele dizia não ser gay, e insiste nisso algumas vezes, deixando certa sensação de que ele estava tentando se convencer/afirmar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-lDQzPngswes/XGtNNp7e0II/AAAAAAABi64/q7v32ZCb5lAe0yTee_2tVJIbEIqGYBnXgCEwYBhgL/s1600/film-grizzly-man-900x505.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="505" data-original-width="900" height="179" src="https://4.bp.blogspot.com/-lDQzPngswes/XGtNNp7e0II/AAAAAAABi64/q7v32ZCb5lAe0yTee_2tVJIbEIqGYBnXgCEwYBhgL/s320/film-grizzly-man-900x505.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"> Devaneios e divagações</span><br /><br />Enfim, um poço de contradições, que talvez pudessem ser resolvidas com tratamento psicológico/psiquiátrico – que ele chegou a iniciar, mas interrompeu logo, dizendo que aquele temperamento ciclotímico fazia parte dele, que ele precisava daqueles altos e baixos emocionais para viver. E, assim, ele foi criando sobre si esse mito de grande protetor dos ursos-pardos, enquanto a vida aqui “na civilização”, enquanto não dissesse respeito a esse assunto, pouco interessava; até suas namoradas ele convencia a viver meses em uma região inóspita do parque nacional.<br /><br />Ao mesmo tempo que ele perdia interesse no mundo onde nasceu, que devia lhe parecer degenerado e frustrante, cheio de seus fracassos, a floresta selvagem, cujos perigos ele, embora desafiasse, soubesse exatamente que corria o tempo todo, era onde ele pensava reinar solitário, forte e corajoso, respeitado pelos poderosos ursos, que precisariam dele para sobreviver.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O crítico de cinema Inácio Araújo dá sequência a meu raciocínio, pois chegou a hora de discutir sobre a relação fílmica entre o protagonista e o diretor de <i>Grizzly Man</i>: “<i>Por meio dele, manifesta-se esse estranhamento do mundo que Werner Herzog tanto cultiva, essas situações aparentemente sem explicação (e profundamente, talvez, também), esses seres que buscam o limite da existência, para os quais muito mais importante do que o resultado é a trajetória, muito mais relevante do que a descoberta é a busca</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Primeiramente, Timothy Treadwell é um personagem herzogiano puríssimo: desequilibrado, com delírios de grandeza numa alma quase sempre torturada, e um grande sonho de conquistar a natureza, que, na opinião de Herzog, tem como cerne “<i>o caos, a hostilidade e o assassinato</i>”. Para Herzog, a Criação deu muito errado, e o mundo selvagem onde o protagonista tentou se enfiar e acabou destroçado é só mais uma prova disso: a natureza é um mundo obscuro que não deve ser desafiado, mas sim mantido à parte do nosso, tendo seus limites respeitados.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Como bem lembra Eric Ames, “<i>toda a estruturação do trabalho do diretor alemão Werner Herzog se baseia na obsessão, seja ela sua mola impulsionadora, seja ela sua matéria-prima. (...) </i>Grizzly Man <i>não é simplesmente sobre Treadwell ou sua visão particular da natureza (seja ela qual for); antes, a perspectiva em primeira pessoa de seus vídeos, sua força emocional e aparente imediatismo, o conhecimento público das mortes de Treadwell e Huguenard [a namorada que foi morta junto] - todos esses elementos são colocados a serviço da verificação e autenticação de uma parte central da identidade de Herzog como cineasta: visão pessoal do mundo natural como brutalmente indiferente à existência humana</i>”. <span style="font-size: xx-small;">5</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Além das características pessoais do protagonista, o modo, o método, o olhar que Treadwell tinha sobre o ato de filmar e o que registrar naquela situação absurda (em locais inóspitos e perigosos iguais aos que Herzog visitou tantas vezes) claramente fascina o alemão, que admira muitas de suas características e se identifica com elas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Nas palavras de Brad Prager: “<i>Existem semelhanças entre Herzog e Treadwell: a real sobreposição entre os dois tem a ver com suas afinidades como filmmakers. No filme de Herzog, Treadwell parece singularmente independente - ele produz a maioria de suas filmagens sozinho, sem uma equipe - e também participa da mesma combinação incomum de improvisação e encenação que caracteriza os documentários de Herzog. Treadwell não se importa em permitir que fantasia e invenção participem na documentação da natureza. Herzog nos mostra Treadwell fazendo inúmeras tomadas e o elogia:</i> ‘como cineasta ele era metódico, muitas vezes repetindo takes 15 vezes’. <i>Além de sua inventividade, às vezes inadvertidamente, Herzog fica mais impressionado com as cenas de paisagens silenciosas e juncos ao vento. Ele diz:</i> ‘em seu modo de filme de ação, Treadwell provavelmente não percebeu que momentos aparentemente vazios tinham uma beleza estranha. Às vezes, as imagens desenvolvem sua própria vida, seu próprio estrelato misterioso’. <i>Também vemos fotos inesperadas: em uma sequência, uma raposa entra no quadro, e Herzog diz</i>: ‘Como cineasta, às vezes as coisas caem no seu colo, que você não poderia nem imaginar, há algo como inexplicável magia de cinema'. <i>Herzog claramente encontra um eco de sua própria técnica no trabalho de Treadwell"</i>. <span style="font-size: xx-small;">6</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Herzog chega a dizer, não escondendo o fascínio (e ao mesmo tempo a falta de surpresa) que já viu acessos de fúria estilizados e dramáticos, como os que mencionei mais acima, em cena antes, numa clara alusão a Klaus Kinski; um diretor louco e inconsequente vendo um louco inconsequente em cena e lembrando das atitudes de outro louco inconsequente, com que tanto trabalhou. Ou seja, quanto mais vamos ficando perplexos com aquela espiral rumo às profundezas do ser humano, mais o alemão se mostra à vontade, “jogando em casa”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Para a estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli, “<i>Timothy Treadwell, ao filmar a si mesmo no Alasca com os ursos-pardos, modifica tão sutilmente a situação que lhe confere uma realidade que foge completamente a todos os princípios de realismo. Não se trata apenas de posar diante do objetivo e ‘representar’ um papel, mas, sobretudo, de escolher o que mostrar e como fazer confluir uma verdade absoluta (o lugar tão selvagem e a realidade de sua própria experiência) com o próprio olhar sobre si mesmo e sobre aquele mundo. Herzog efetua um trabalho posterior, sobretudo selecionando o material e depois criando, por meio da montagem, um percurso que se torna, pouco a pouco, cada vez mais hiperbólico, mas que parece cada vez mais autêntico. Trata-se da subversão genial de uma situação impossível de ‘verificar’, é um filme que exclui a mise-en-scène como estratagema de realismo e que, no entanto, nos aparece como uma reconstrução, com a insistência do olhar para a câmera de Treadwell (a quem se dirige?, a quem são dirigidas as suas ‘visões’?) e imagens tão belas que não parecem ‘verdadeiras’. Já não se pode distinguir o verdadeiro do falso, já não há dois territórios puros, há sinais dispersos pelos dois ‘campos’: para lá e para cá da câmera está o cinema visionário e lúcido de Herzog</i>”. <span style="font-size: xx-small;">7</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="321" data-original-width="570" height="180" src="https://3.bp.blogspot.com/-O4kFFTRiWEc/XGtNNuvpByI/AAAAAAABi7A/-rOrAF-k10YkLJRrYPBD83Bcu3F-evevQCEwYBhgL/s320/overwhelming-indifference-of-nature.jpg" width="320" /></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"> A esmagadora indiferença da natureza</span></span><br />
<br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ou seja, Werner Herzog desmembra o material, que já não era totalmente espontâneo, para alcançar sua tão querida verdade extática, manipulando o que já era manipulado. Da mesma maneira, a dissolução do protagonista, enquanto cidadão que recusava dia após dia a sociedade e enquanto personalidade problemática se fragmentando em sentimento conflitante e contraditórios, é mostrada não só com esse deslocamento das imagens e do vaivém cronológico da dramática história, mas também nas muitas vezes em que Timothy é mencionado ou mostrado “aos pedaços” (Herzog também só aparece de costas para a câmera).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Eric Ames explica: “<i>Grizzly Man explora a relação entre Herzog e Treadwell não apenas por meio da figuração, mas também por meio de desfiguração. É habilitado por um princípio de sinédoque, que opera através da narração e do diálogo, bem como através dos procedimentos cinematográficos de encenação, enquadramento e edição. Ao longo do filme, somos confrontados com representações de corpos em pedaços: braços, pernas, mãos, patas, dedos, garras, cabeças, crânios, dentes, ossos - a lista continua. Em cada instância, o objeto é uma parte do corpo que permaneceu em uma relação contígua com um todo ausente que não pode ser reconstruído. Um exemplo é o braço e a mão decepados de Treadwell, que teriam sido encontrados no chão no local de sua morte. (...) Em uma cena, filmada por Treadwell, vemos a mão dele saindo de trás da câmera para tocar o nariz de um urso. Em outra cena, filmada (e ostensivamente encenada) por Herzog, o médico legista do estado abre o que ele chama de ‘bolsa de provas’, remove um relógio de plástico “ainda em execução” e declara: </i>'Isso foi retirado do pulso de Timothy'”. <span style="font-size: xx-small;">8</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Esse “esquartejamento” de tantos elementos no filme serve para nos mostrar que, além do tempo (representado pelo relógio que ainda funciona), as únicas coisas que resistem ao destino e à decrepitude são a própria natureza, enquanto representação da existência inexorável e inescapável, e a memória – seja no que Timothy deixou gravado, quanto nas histórias sobre ele que os entes queridos contam, e sobre nós, que vemos o filme e saímos por aqui e por aí falando dele.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eric Ames concorda: “Grizzly Man <i>também figura a morte como um encontro face-a-face, reenquadrando as imagens de outro cineasta. Aqui está um cenário de espelho que Herzog parece aceitar e até apreciar. Não é um simples reflexo, mas um reflexo do seu eu mesmo assim. Em face disso, Grizzly Man parece ser um filme sobre Treadwell, mas também funciona como um filme sobre Herzog, sobre sua atitude em relação à natureza e questões de vida e morte, e sobre o papel da câmera em sua encenação da subjetividade. A voice-over conclui com uma generalização</i>: 'Treadwell se foi. O argumento de quão errado ou certo ele estava desaparece à distância, em uma névoa. O que resta é sua filmagem. E enquanto observamos os animais em suas alegrias de ser, em sua graça e ferocidade, um pensamento torna-se cada vez mais claro: que não é tanto um olhar para a natureza selvagem quanto uma percepção de nós mesmos, de nossa natureza. E isso, para mim, dá sentido à sua vida e à sua morte'”. <span style="font-size: xx-small;">9</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eu vi o filme no cinema, à época (inclusive tem um post sobre ele <a href="http://avozdomorto.blogspot.com/2007/04/o-homem-o-urso-do-homem.html" target="_blank"><b>aqui</b></a>) e revê-lo depois de tanto tempo foi uma experiência tão perturbadora, e às vezes angustiante, quanto da primeira vez, com a vantagem de que, hoje, mais de uma década e meia #MaratonaHerzog depois, ter muito mais conhecimento dos elementos que a projeção apresenta, para além do óbvio drama pessoal do protagonista. É Herzog em estado bruto, e, a despeito do pouco entusiasmo com o qual ele fala da própria obra, ele não contém sua excitação ao colocar as mãos no material: “<i>Havia imenso material e ele era extraordinariamente complexo. Envolve uma grande tragédia e imensas questões sobre nossa civilização, como nos relacionamos com o mundo natural e como o perdemos</i>”. <span style="font-size: xx-small;">10</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">É obviamente uma história triste e trágica, mas fica o questionamento: o que é a felicidade? Quem pode julgar Timothy por preferir arriscar a vida no meio dos ursos em vez de procurar ajuda médica? Cada um com suas escolhas: driblando todas as suas contradições e vicissitudes, ele viveu intensamente o que escolheu como viga-mestre para sua vida, e morreu, como ele mesmo afirma diversas vezes no filme, onde ele se sentia em casa, onde ninguém lhe frustrava ou julgava. Mesmo calculando melhor os riscos, o próprio Herzog colocou a vida em risco por muito mais tempo, só para filmar o que queria, do jeito que queria. O finado Timothy busca transcender sua finitude insatisfeita protegendo ursos que nem precisavam ser protegidos. Herzog viaja mundo afora registrando os filmes mais absurdos sobre os temas mais idiossincráticos, em busca de suas verdades. E você, qual sua busca? Qual é o porto pelo qual você anseia enquanto navega mar adentro todos os dias?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O alemão não me deixa mentir: "<i>Eu não tenho certeza se o vejo como um personagem triste". (...) "Certamente ele estava cheio de depressão, e ele tinha momentos em que ele chorava e ficava desesperado. Mas ao mesmo tempo você veria essa alegria exuberante da vida, e ele se sentindo grandioso sobre o quão maravilhoso ele é, então ele está cheio de contradições. Ele tem toda a escuridão da alma humana, e ele tem toda a exuberância e alegria</i>". <span style="font-size: xx-small;">11</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não é um filme sobre ursos – e, quando flora e fauna aparecem, nunca são romantizadas, como em <i>Marcha Dos Pinguins</i>, só para citar um filme que surgiu na mesma época, ou aparecem pouco desafiadoras, como <i>Na Natureza Selvagem</i> –, nem simplesmente sobre Timothy ou Herzog: é um mergulho no que este chama de “<i>a esmagadora indiferença da natureza</i>”, e isso inclui nosso obscuro lugar diante e dentro dela.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Uma das maiores experiências que você vai ter na vida. Veja, e nunca mais será o mesmo, para o bem e para o mal. Obra-prima, digna de figurar entre os clássicos setentistas do diretor.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Curiosidades</b>:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Herzog filmou seu material em três semanas – tendo visto até então pouca coisa das fitas de Treadwell – e editou tudo (seleção, montagem, narração) em nove dias;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- o diretor recrutou quatro assistentes que viram a maior parte do material bruto de Treadwell, e selecionaram as partes mais significativas, de acordo com as instruções do ‘chefe’;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Herzog, pessoalmente, viu 10h a 15h das mais de 100h das fitas de Timothy Treadwell;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- sobre a decisão de não mostrar o áudio de Timothy e sua companheira sendo devorados (a câmera estava ligada, porém, com a lente tampada), Herzog afirma: “<i>É um momento muito trágico e para mim ficou imediatamente claro que de forma alguma poderia aparecer no filme. Há um limite que não pode ser atravessado. Mais uma vez dei comigo confrontado com a questão dos limites, uma questão com que tive que lidar desde o início de minha vida profissional. Há um limite que não deveria ser atravessado e o limite consiste na privacidade e dignidade da morte de um ser humano</i>”. <span style="font-size: xx-small;">12</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- o filme ganhou o Los Angeles Film Critics Association Award, o New York Film Critics Circle Award, o San Francisco Film Critics Circle Award, o Alfred P. Sloan Prize e o Toronto Film Critics Association Award;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- quando Herzog descreve a última fita de Timothy Treadwell, e diz a sua amiga para nunca ouvi-la, e, se possível, destruí-la, pois seria sempre "<i>um elefante branco na sala</i>", comete um claro erro, pois “elefante branco" significa um projeto extravagante, mas inútil, então certamente ele queria dizer apenas “elefante na sala", que significa algo não dito que é, no entanto, óbvio (e incômodo);</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- algumas imagens filmadas por Treadwell já haviam sido mostradas nos documentários televisivos <i>The Grizzly Diaries</i> (1999) e <i>Anatomy Of A Bear Attack</i> ( 2004); </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Timothy também tem uma autobiografia, <i>Among Grizzlies: Living with Wild Bears in Alaska</i>, de 1997.</span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">¹ DARGIS, Manohla. In.: <a href="https://www.nytimes.com/2005/08/12/movies/exploring-one-mans-fate-in-the-alaskan-wilderness.html">https://www.nytimes.com/2005/08/12/movies/exploring-one-mans-fate-in-the-alaskan-wilderness.html</a></span></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span>
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">² 6 PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.</span></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span>
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">³ 5 8 9 AMES, Eric. <i>Ferocious Reality - Documentary According To Werner Herzog</i>. University Of Minnesota Press, 2012.</span></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span>
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">4 ARAÚJO, Inácio. In.: <a href="https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0206200618.htm">https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0206200618.htm</a></span></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span>
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">7 PAGANELLI, Grazia. <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.</span></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span>
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">10 12 HERZOG, Werner. In.:<i> Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008), de Grazia Pahanelli. Editora Indie Lisboa, 2009.</span></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span>
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">11 HERZOG, Werner. In.: <a href="https://www.chicagotribune.com/news/ct-xpm-2005-12-30-0512300195-story.html">https://www.chicagotribune.com/news/ct-xpm-2005-12-30-0512300195-story.html</a></span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-35151005617044058752019-01-31T21:02:00.001-02:002019-02-01T14:05:47.400-02:00(2004) The White Diamond<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (rodado na Inglaterra e na Guiana) | 87min| 35 mm| cor</span></b><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro</b>: Annette Scheurich e Rudolph Herzog</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Direção</b>: Werner Herzog</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Walter Saxer</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Eric Spitzer</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Joe Bini</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Henning Brümmer</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: Ernst Reijseger</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Werner Herzog, Graham Dorrington, Dieter Plage</span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A história é bem herzogiana: “<i>O engenheiro aeronáutico Graham Dorrington embarca numa viagem em direção às gigantescas cataratas do Kaiateur, no coração da Guiana, com a esperança de que seu dirigível cheio de hélio consiga sobrevoar o cimo das árvores. Mas sua aventura não está isenta de riscos: doze anos antes, uma expedição semelhante tinha tentando sobrevoar o extraordinário </i>habitat<i> da floresta tropical, culminando na tragédia da morte de Dieter Plage, amigo de Dorrington. Entre os protagonistas da expedição está Werner Herzog, que parte com o novo protótipo de dirigível para explorar o mundo perdido da floresta tropical virgem, um dos territórios menos exploradores do planeta</i>”.<span style="font-size: xx-small;">1</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Já dá pra enxergar alguns temas de apreço do diretor: natureza imponente e indomável, um desafiante/desafio absurdo e traumas revividos na tela. Dorrington é menos blasé na encenação de seu trauma do que os protagonista de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2017/07/1999-wings-of-hope.html" target="_blank"><i>Wings Of Hope</i></a>, <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2016/08/1990-echos-aus-einem-dusteren-reich.html" target="_blank"><i>Echos Aus Einem Düsteren Reich,</i></a> <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2017/01/1991-schrei-aus-stein.html" target="_blank"><i>Schrei Aus Stein</i></a> ou <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2017/05/1997-little-dieter-needs-to-fly.html" target="_blank"><i>Little Dieter Needs To Fly</i></a>, mas, ao mesmo tempo, é pintado como alguém meio bobo e atrapalhado (até no jeito como conta o acidente que mutilou uma de suas mãos na infância).</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Seu desejo é sobrevoar a maior catarata da Guiana com um pequeno dirigível em forma de diamante (ou lágrima, ou coxinha, vai de você), mais fácil de manobrar que os clássicos zepelins, tarefa apoiada apoiada por mineradores</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> rastafáris</span> de diamantes locais - o mais proeminente é Mark Anthony Yhap, que incorpora o clichê do ‘nobre selvagem’ e que batiza o dirigível com o título do filme.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-8B78DIaevgQ/XFODUYQgEEI/AAAAAAABh_g/Azb-T4EakaQLYddizQZyJfQz49cLc-zxACEwYBhgL/s1600/WD%2Bremembering%2BPlage.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1024" height="180" src="https://1.bp.blogspot.com/-8B78DIaevgQ/XFODUYQgEEI/AAAAAAABh_g/Azb-T4EakaQLYddizQZyJfQz49cLc-zxACEwYBhgL/s320/WD%2Bremembering%2BPlage.JPG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Dorrington e suas inquietações</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mais do que uma narrativa, <i>The White Diamond</i> é uma série de impressões motivadas pelo que Herzog sempre perseguiu. Dorrington, piloto do diamante branco, é o alter ego do diretor: toda a sua vida gira em torno de sua inquietude infinita para buscar mistérios, e toda aquela natureza imponente, quase intocada, se apresenta sempre como um mistério ao mesmo tempo fulgurante e impiedoso em sua indiferença diante dos homens.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Após uma brevíssima história do voo de balões/dirigíveis que culmina com o desastre do Hindengurg, Herzog nos apresenta Dorrington, que aparece até meio bobo, desastrado, pelo modo como são mostrados seus traumas, seus sonhos e sua fraquezas diante da tela (embora o diretor nunca tire proveito disso). Entre o conta-não-conta sobre a tragédia que vitimou o cinegrafista Dieter Plage (em 1992), o protagonista vai explicando seu trabalho, seus protótipos e algumas histórias, e o filme só ‘decola’ (ops) mesmo quando vamos a Guiana com o estafe, para os preparativos finais do voo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Gostei do filme, apesar de tudo ser bem simplista mesmo – é mais um filme que não precisava ser longa-metragem –, já que as imagens, que pensei serem deslumbrantes, das cataratas, são bem poucas, e o que seria a grande sacada, o tal esconderijo das andorinhas, é deixado como mistério, a fim de não violar o potencial mítico que a cachoeira tem para os habitantes locais. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">OK, como disse o crítico norte-americano de Cinema Roger Ebert (1942-2013), “<i>é sublimemente típico de Herzog que ele não nos mostre o material médico da caverna, depois que Yhap argumenta que seu segredo sagrado deve ser preservado. O que há na caverna? Muito guano, é meu palpite</i>”. <span style="font-size: xx-small;">2</span> <br /><br />Mas tudo seria melhor se a película inteira não se encaminhasse para grandes imagens que simplesmente não vemos (vislumbramos bem pouco da cachoeira, embora em belíssimas tomadas).</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-77mV8-DF_mE/XFODUa_dvbI/AAAAAAABh_k/CiOHpFuIREsGrvbi0oEFxbQMawZaSLNsgCEwYBhgL/s1600/image-w1280.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="180" src="https://4.bp.blogspot.com/-77mV8-DF_mE/XFODUa_dvbI/AAAAAAABh_k/CiOHpFuIREsGrvbi0oEFxbQMawZaSLNsgCEwYBhgL/s320/image-w1280.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Diamante branco enevoado</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O próprio diretor dá suas razões: “<i>Nesse caso não era tão interessante mostrar o que havia na gruta das andorinhas porque, por trás daquela catarata monumental, naquela caverna gigantesca, estava demasiado escuro. Dois dias depois falamos com o anterior chefe da tribo e ele percebeu que tínhamos filmado por trás da catarata. Pediu-nos que não mostrássemos nada porque, de alguma maneira, iríamos expor certos aspectos de sua cultura e as imagens que tínhamos iriam destruí-los</i>”. (...) <span style="font-size: xx-small;">3</span> “T<i>emos que considerar a catarata em The White Diamond que esconde algo que está para além da nossa imaginação mas não é, obstante, palpável, e é o lar de um milhão e meio de andorinhas que vivem lá atrás. Damos por nós num lugar em que os homens e os sonhos estão de certa maneira reconciliados e estou falando da tragédia de Graham Dorrington. É um ‘lugar bom’ [</i>eu-topos<i>] e fomos lá numa altura boa, e o filme é sobre isso</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4 </span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Talvez o momento mais interessante e superestimado do filme , como bem nota o estudioso norte-americano de cinema Brad Prager, “tenha a ver com o galo de estimação de Yhap, um pássaro banal em contraste com as misteriosas andorinhas, que são os verdadeiros temas do filme. Yhap, que mora e trabalha na Guiana, quer entrar na aeronave de Dorrington, mas quando pressionado explica mais do que enigmático, ele quer que ele leve seu galo voando com ele. (...) <span style="font-size: xx-small;">5</span> Quanto mais amplamente o seu trabalho é conhecido, menos ele pode se debruçar sobre êxtases acidental no curso de fazer seus filmes. <span style="font-size: xx-small;">6</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O artifício de ‘não mostrar algo’ já havia sido usado de forma semelhante em <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2016/05/1984-wo-die-grunen-ameisen-traumen.html" target="_blank"><i>Wo Die Grünen Ameisen Träumen</i></a> e retornaria, de modo muito mais impactante ,e creio eu justificável, em <i>Grizzly Man</i> (2005). Mas, de todo modo, é um filme bacana, que pode te dar uma hora e meia de distração, com uma história diferente, boas imagens e uma trilha sonora muito bonita, a cargo de Ernst Reijseger, que também faria <i>The Wild Blue Yonde</i>r (2005).</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Falando em </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Grizzly Man</i></span>, ele é o próximo capítulo da #MaratonaHerzog, e aí o bicho vai literal e figurativamente pegar, com essa obra-prima, talvez da última do diretor até hoje.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Curiosidades</b>:</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Duas das sequências mais memoráveis – quando perguntam a Mark Anthony sobre o Universo em uma gota de água (que, aliás, nem era água, era glicerina, mais fácil de filmar), e a discussão entre diretor e protagonista sobre quem faria as sequências no dirigível, foram totalmente encenadas (esta, pelo menos, inspirada em uma discussão prévia, real);</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- toda a música em A música em <i>The White Diamond</i> (e, consequentemente, em <i>Wild Blue Yonder</i>) foi feita antes do filme: “<i>Quando rodávamos</i> The White Diamond, <i>pus o diretor de fotografia Henning Brümmer para ouvir a música que iria usar e lhe disse ‘Esse é o ritmo do filme. Quando a câmera fizer uma panorâmica, o movimento terá de ser sincronizado com a música</i>’" <span style="font-size: xx-small;">7</span></span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">1</span> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">7 </span><span style="font-size: x-small;">PAGANELLI, Grazia. <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.</span><span style="font-size: xx-small;"><br />2</span></span><span style="font-size: xx-small;"> </span><span style="font-size: xx-small;"><a href="https://www.rogerebert.com/reviews/the-white-diamond-2005">https://www.rogerebert.com/reviews/the-white-diamond-2005</a><br />3 4</span> <span style="font-size: x-small;">HERZOG, Werner. In.: </span></span><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008), de Grazia Paganelli. Editora Indie Lisboa, 2009.</span></span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">5 6 <span style="font-size: x-small;">HERZOG, Werner. In.: </span></span></span></span><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>he Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>, de Brad Prager. Wallflower Press, 2007.</span></span>Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-11560865234574930252019-01-25T19:53:00.001-02:002019-01-25T20:28:57.658-02:00(2003) Wheel Of Time<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Alemanha (rodado na Índia, na Áustria e no Tibete | 80min | Super 16 mm | cor</b></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Walter Saxer</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Eric Spitzer</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Joe Bini</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: Prem Rana Autari, Sur-Sudha Autari, Lhamo Dolma e Florian Fricke (Popol Vuh)</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Dalai Lama</span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>Documentário sobre o maior ritual budista para promover a paz e a tolerância, realizado por Sua Santidade o Dalai Lama, em Bodh Gaya, Índia, e Graz, Áustria, em 2002, incluindo entrevistas exclusivas com o Dalai Lama e acesso a rituais secretos pela primeira vez em filme, bem como imagens de uma peregrinação ao Monte Kailash, no Tibete.</i>”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Assim o site oficial do diretor descreve este filme produzido para canais alemães e norte-americanos de tevê (ainda que tenha sido lançado nos cinemas nos EUA), e não sai muito disso: no lugar onde se crê que Buda recebeu a iluminação, milhares de budistas de reúnem - alguns chegam caminhando, outros, de joelhos - para o ver a <i>kalachakra</i> (‘roda do tempo’, em sânscrito), que é basicamente uma grande mandala de areia que vai sendo cuidadosamente criada durante o evento, para então ser destruída (a areia sendo devolvida ao rio de onde foi tirada), simbolizando a impermanência.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Esse processo dura 12 dias, durante os quais os monges budistas tibetanos são ordenados, e a criação da mandala é mostrada duas vezes no filme, primeiro em Bodh Gaya, norte da Índia - onde Herzog filmou ele mesmo a maior parte, com uma câmera de 16 mm - em 2002, e no ano seguinte, em uma sala de exposições em Graz, Áustria. Em ambas as ocasiões, o Dalai Lama está presente, embora na Índia uma doença grave impedisse sua participação plena. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-QkrF9dcJVj0/XEt-kYB6OBI/AAAAAAABhyU/xgwkdB16d6QdCmaslo1JeBuBFEZlVDX9ACEwYBhgL/s1600/Wfilmfest05_Wheel_of_Time-1600x800.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1600" height="160" src="https://3.bp.blogspot.com/-QkrF9dcJVj0/XEt-kYB6OBI/AAAAAAABhyU/xgwkdB16d6QdCmaslo1JeBuBFEZlVDX9ACEwYBhgL/s320/Wfilmfest05_Wheel_of_Time-1600x800.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Montando a mandala de areia</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Paralelamente, <i>Wheel Of Time</i> também descreve a peregrinação ao Monte Kailash, montanha tibetana de mais de 6.000 m, sagrada para budistas e hindus. Todos os anos, milhares de pessoas percorrem a rota rigorosa de mais de 50 km ao redor do pico, a uma altitude de mais de 5.000 m, levando dias para completar o trajeto (e alguns chegam a morrer no caminho), em busca da boa sorte que o sacrifício traria.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Herzog inclui uma entrevista pessoal (e não muito interessante) com o Dalai Lama, bem como tibetano ex-preso político Takna Jigme Zangpo, que passou 37 anos em uma prisão chinesa por seu apoio do Movimento para a Independência do Tibete (essa parte seria mais interessante em outro contexto, fica parecendo deslocada do tema ‘espiritualizado’).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A crítica, em geral, foi bem favorável ao filme: o escritor e crítico norte-americano de cinema Stephen Holden, por exemplo, afirma que "Wheel of Time <i>é menos sobre palavras do que sobre mergulhar em um mundo intensamente devocional, sentindo sua força e sentindo sua extrema austeridade. O filme poderia também ter sido chamado de ‘uma imersão no budismo tibetano’. Com uma explicação mínima, coloca você no centro</i>”. <span style="font-size: xx-small;">1</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O especialista norte-americano em cinema alemão Eric Ames exagera (e muito): “Wheel of Time <i>nos leva de volta às paisagens visionárias de</i> <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2013/10/1970-fata-morgana.html" target="_blank">Fata Morgana</a>.” <span style="font-size: xx-small;">2</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Na minha opinião, o filme tem os mesmos problemas de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2017/01/1991-jag-mandir_5.html" target="_blank"><i>Jag Mandir</i></a> e <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2018/02/2001-pilgrimage.html" target="_blank"><i>Pilgrimage</i></a>,
por exemplo, um excesso de êxtase que torna tudo monótono; são três
filmes que poderiam ser média-metragens, de no máximo 40min cada. Também
neste <i>Wheel Of Time</i>, se você não for grande
conhecedor/entusiasta dos cultos tibetanos, vai ficar entre a dispersão e
a impaciência. Como contraponto, <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2018/02/1999-gott-und-die-beladenen.html" target="_blank"><i>Gott Und Die Beladenen</i></a> e <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2017/03/1993-glocken-aus-der-tiefe.html" target="_blank"><i>Glocken Aus Der Tiefe</i></a> funcionam muito melhor sob o mesmo tema de expressões idiossincráticas de fé.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há
vários bons momentos, devo ressaltar, como o peregrino que tem a cabeça
esfolada de tanto tocá-la no chão durante o trajeto, com sucessivos
ajoelhamentos para reverência; ou o fiel que compra pássaros numa
espécie de feirinha, só para libertá-los. Mas são boas sequências
pinçadas de um todo bastante repetitivo – e sim, eu sei que é
intencional, tem a ver com a ‘estética-extática’ do diretor, e até com o
tema de paciência, reflexão e do caráter ao mesmo tempo concêntrico e
fugidio da existência sob a óptica budista. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-iGrr3nvc6vw/XEt-kQX5BYI/AAAAAAABhyQ/yGooLo_8MqMZEJGaw_YyzO7hAPZO9L-4wCEwYBhgL/s1600/Marco_Polo_51.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="796" data-original-width="1200" height="212" src="https://2.bp.blogspot.com/-iGrr3nvc6vw/XEt-kQX5BYI/AAAAAAABhyQ/yGooLo_8MqMZEJGaw_YyzO7hAPZO9L-4wCEwYBhgL/s320/Marco_Polo_51.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Devoção & sacrifício</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O interesse do alemão pelo tema é evidente: “‘<i>Foi uma profunda curiosidade em mostrar uma paisagem verdadeiramente sagrada. Essa foi uma das razões pelas quais eu queria fotografar o Monte Kailash sozinho. Eu era meu próprio diretor de fotografia para essas sequências</i>’”. <span style="font-size: xx-small;">3</span> <br /><br />Não por acaso, é o retorno a um tema recorrente em sua obra: “Em Wheel Of Time <i>há muito </i>pathos<i> [sentimento, sofrimento] humano, muita espiritualidade humana, numa forma entendida pelos gregos antigos</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O estudioso norte-americano de cinema alemão Brad Prager detalha o lugar da obra universo herzogiano: “<i>No filme, Herzog chama a mandala de representação de uma paisagem interior, ligando imediatamente a atividade dos monges ao seu próprio projeto cinematográfico</i>”. <span style="font-size: xx-small;">5</span> (...) <br /><br />A estudiosa norte-americana de de cultura alemã Stefanie Harris vai além: "<i>A razão pela qual Herzog foi atraído para este tópico - além da imagem recorrente de peregrinações - é provável que a mandala de areia possa ser descrita como uma 'paisagem interior', um conceito que geralmente intriga Herzog. Desde seus primeiros momentos como cineasta, voltando a </i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2013/09/1968-lebenszeichen.html" target="_blank">Lebenszeichen</a>, <i>Herzog demonstrou que acredita que há uma relação entre a mandala de areia, que é a representação interna de uma paisagem, e a própria busca de Herzog por paisagens internas e visões internas</i>". <span style="font-size: xx-small;">6</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Apesar disso tudo, não recomendo este filme para quem não tenha interesse específico no tema. Ao contrário de Stephen Holden, não me senti imerso na cultura retratada na obra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Curiosidades</b>:</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- “<i>Parece que o Dalai Lama queria que fosse eu a fazer o filme, ele vê muitos filmes</i>”, declarou Herzog à estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli; <span style="font-size: xx-small;">7</span></span><br /><br /><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- A parte do Tibete, filmada pelo próprio Herzog, foi a primeira vez em que ele se inclui na ficha técnica por esse serviço: “<i>Muitas vezes sou eu que faço a câmera em certas partes dos meus filmes (...) eu pedia a um operador de câmera que pusesse seu nome na ficha técnica</i>”; <span style="font-size: xx-small;">8</span></span><br /><br /><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em 2002, entre <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2018/06/2001-invincible.html" target="_blank"><i>Invincible</i></a> e <i>Wheel Of Time</i>, o diretor participou do longa-metragem coletivo Ten Minutes Older: The Trumpet, projeto do produtor Nicolas McClintock, que reúne nomes de peso [além de Herzog, claro, que participa com o episódio <a href="https://vimeo.com/94263500" target="_blank"><i>Ten Thousand Years Old</i></a>, de 10min] como Bernardo Bertolucci, István Szabó, Jean-Luc Godard, Spike Lee e Wim Wenders, em curtas sob o tema do significado da vida na virada do milênio.</span><br />
</div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">1</span> <a href="https://www.nytimes.com/2005/06/15/movies/with-herzog-inside-a-world-of-devotion.html">https://www.nytimes.com/2005/06/15/movies/with-herzog-inside-a-world-of-devotion.html</a><br /><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">2 3</span> </span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">AMES, Eric. <i>Ferocious Reality - Documentary According To Werner Herzog</i>. University Of Minnesota Press, 2012.<br /><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">4 7 8</span> HERZOG, Werner. In.: </span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008), de Grazia Paganelli. Editora Indie Lisboa, 2009.</span><br /> <span style="font-size: xx-small;">5</span> </span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">HARRIS, Stefanie. Moving Stills: Herzog And Photography. In.: </span></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>A Companion To Werner Herzog</i>, de Brad Prager. Wiley-Blackwell, 2012.</span><br /><span style="font-size: xx-small;">6</span> </span></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.</span></span>Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-61655289123959688842018-06-13T10:42:00.000-03:002018-06-14T15:57:24.337-03:00(2001) Invincible<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (rodado na Alemanha, na Lituânia, na Holanda, na Holanda e em Christmas Island (Austrália) | 130min | 35 mm| cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Walter Saxer</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Ian Fuller</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Joe Bini</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: Hans Zimmer e Klaus Badelt (e excertos de excertos de Händel e Beethoven)</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Tim Roth (Hanussen), Jouko Ahola (Zishe Breitbart), Anna Gourari (Marta Farra), Jacob Vein (Benjamin Breitbart), Max Raabe (mestre de cerimônias), Gustav Oeter Woehler (Alfred Landwehr), Udo Kier (Conde Helldorf), Herb Golder (Rabino Edelmann), Gary Bart (Ytzak Breitbart), Renata Krogner (Senhora Breitbart)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“Invincible<i> é provavelmente o único filme sobre a Alemanha e os nazistas que não termina inevitavelmente com o Holocausto</i>.” <span style="font-size: xx-small;">1</span><br /><br />Há
artistas, muitas vezes geniais, que não sabem lidar direito com
narrativas tradicionais. Clarice Lispector (1920–1977) é um exemplo:
suas narrativas com começo, meio e fim, como <i>A Maçã No Escuro</i> e <i>O Lustre</i>, são pálidas perto do melhor de sua obra, feito <i>Àgua Viva</i> e <i>A Paixão Segundo GH</i>.<br /><br />O mesmo ocorre com Werner Herzog: o melhor de sua obra ficcional está em instantâneos como <i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2013/11/1972-aguirre-der-zorn-gottes.html">Aguirre, Der Zorn Gottes</a></i>, ou na narrativa episódica de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2014/03/1974-jeder-fur-sich-und-gott-gegen-alle.html"><i>Jeder Für Sich Und Gott Gegen Alle</i></a>; é fácil ver que filmes mais convencionais como <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2016/05/1984-wo-die-grunen-ameisen-traumen.html"><i>Wo Die Grünen Ameisen Träumen</i></a> ou mesmo <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2015/11/1982-fitzcarraldo.html"><i>Fitzcarraldo</i></a>
(para além do absurdo da própria existência do filme) sofrem com a mão
pesada e aparente preguiça do diretor para desenvolver personagens e
diálogos.<br /><br />Então, sabe-se lá por quê, o alemão vem com este
Invincible, provavelmente sua obra mais convencional, quase careta, a
despeito da história (baseada em fatos reais) interessante: Zishe
Breitbart, um ferreiro judeu polonês, enorme, forte e loiro (e, digamos
assim, um tanto limitado intelectualmente), é usado pelo inescrupuloso e
megalomaníaco Hanussen, célebre ilusionista/hipnotizador judeu
austríaco simpatizante do nazismo, para um freakshow teatral em Berlim,
sob o pseudônimo wagneriano Siegfried e com uma indumentária ridícula de
bárbaro, diante de um público declaradamente antissemita – até que Zishe
se rebela, diante dos nazistas, se afirma judeu (nomeando a si mesmo
como Sansão) e acaba se tornando um símbolo para seus patrícios já tão
oprimidos na Alemanha de 1932. <br /><br />Ótima história, certo? O problema, tal como em <i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2016/05/1984-wo-die-grunen-ameisen-traumen.html">Wo Die Grünen Ameisen Träumen</a></i>,
é o jeito frouxo como a história se desenvolve, com diálogos risíveis e
situações inverossímeis, ao mesmo tempo em que a mão herzogiana pesa o
tempo todo, não deixando o filme fluir – pior, caminha lenta e
previsivelmente para um final lamentável. Além disso, as motivações dos
personagens, especialmente de Hanussen (em tese, um bom personagem, um
judeu que odeia sua origem e lucra com o sofrimento de seus iguais), são
falhas: por que escolher um judeu para seu show? E a própria atuação de
Tim Roth é bastante exagerada, o que acaba por nos fazer cansar do
personagem mais interessante do filme. <br /><br />A performance do
protagonista também não ajuda, como atesta esta crítica anônima
publicada no Estadão, à época do lançamento do filme: “<i>O problema é a
falta de funcionalidade do personagem criado para o gigante Zishe
(Jouko Ahola). Unidimensional, não lembra em nada os seres
contraditórios, multifacetados da galeria de Herzog, como Aguirre ou
Fitzcarraldo, de obras anteriores. Enfim, não é sempre que se trabalha
com um ator como Klaus Kinski, mas a verdade é que a complexidade de um
personagem é também responsabilidade do diretor</i>”. <span style="font-size: xx-small;">2</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-qMsZfop6Tx4/WyEdpLWbMJI/AAAAAAABQMU/4a8DCrrc4CQ4gFFKWcBE7Pa6iFVbidSjACLcBGAs/s1600/Invincible-2001-5.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="462" data-original-width="837" height="176" src="https://1.bp.blogspot.com/-qMsZfop6Tx4/WyEdpLWbMJI/AAAAAAABQMU/4a8DCrrc4CQ4gFFKWcBE7Pa6iFVbidSjACLcBGAs/s320/Invincible-2001-5.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Zishe em ação</span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A
maior parte da crítica malhou o filme, pelos mesmos motivos que eu, mas
há críticos – especialmente os sabidamente fãs do alemão (e
frequentemente usados como fonte por mim) que foram da condescendência
ao verdadeiro entusiasmo com a obra.<br /><br />A performance de Jouko Ahola foi elogiada pela estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli, que afirma que “<i>Olhamos
profundamente para um homem que não tem educação e que nunca
experimentou o mundo exterior. Mas, claro, está embebido de cultura
judaica e vem de um contexto muito bem definido e sólido</i>. (...) <i>Quando
olho para ele tenho sempre a sensação de que a audiência o adora porque
há algo de muito sólido e arcaico nele. Veem-no como um homem decente,
um bom homem, sólido e gentil</i>. (...) <i>Há algo de inacabado, de não formado, nele</i>.” <span style="font-size: xx-small;">3</span>Já o crítico norte-americano de cinema Roger Ebert (1942–2013) exagera bem: “<i>Quanto
a Jouko Ahola, esse ator inexperiente, que parece por natureza ser
bondoso e descomplicado, pode nunca mais atuar, mas encontrou o papel
perfeito, como Maria Falconetti fez n</i>’A Paixão De Joana d'Arc". <span style="font-size: xx-small;">4</span><br /><br />A
(razoável) complexidade de Hanussen e sua relações com Zishe também são
elogiadas, desta vez pelo estudioso norte-americano de cinema alemão
Brad Prager: “<i>Hanussen engaja-se em uma abnegação oportunista que
Herzog retrata como apenas um pequeno passo de uma negação das
necessidades daqueles à sua volta; a decisão de Hanussen de deixar isso
de lado é parte constitutiva de sua decisão de negar os direitos dos
outros</i>.” <span style="font-size: xx-small;">5</span> (...) “<i>Além
disso, ao apresentar Hanussen e Breitbart não como rivais, mas como
colegas, as duas figuras funcionam como contraponto uma da outra,
tipificando duas respostas possíveis ao antissemitismo dos 1930s</i>”. <span style="font-size: xx-small;">6</span><br /><br />O estudioso norte-americano de cinema Paul Cronin complementa: “<i>Enquanto
Zishe influencia as pessoas pela força de seu corpo, Hanussen manipula
as audiências por meio do poder da imaginação, e a colisão dessas duas
faz um forte choque dramático</i>”. <span style="font-size: xx-small;">7</span><br /><br />O final do filme, anticlimático, também foi elogiado por Brad Prager: “<i>O
filme é excepcional em sua disposição de oferecer um final que não seja
de modo nenhum redentor. Embora Breitbart tenha visto a verdade, ele
passou a entender, mais do que qualquer outra coisa, a disposição básica
por parte dos alemães de se envolver em violência contra os judeus</i>. <span style="font-size: xx-small;">8</span> (...) <i>Embora o filme não conduza ao Holocausto</i>, (...) <i>oferece
uma perspectiva sobre a desumanização dos judeus no período anterior à
guerra e é diferente dos filmes que só revelariam uma feliz harmonia
entre alemães pré-guerra e judeus</i>”. <span style="font-size: xx-small;">9</span></span></div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-5KsC1PzJMkw/WyEdpKWNoyI/AAAAAAABQMY/j0Ic-VHo6aMKwKsGxTEbAbDVSKoKy575gCEwYBhgL/s1600/roth.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="399" data-original-width="512" height="249" src="https://1.bp.blogspot.com/-5KsC1PzJMkw/WyEdpKWNoyI/AAAAAAABQMY/j0Ic-VHo6aMKwKsGxTEbAbDVSKoKy575gCEwYBhgL/s320/roth.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Hanussen em ação</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Grazia Paganelli aparentemente procura ler o epílogo à luz das lendas e profecias judaicas: “<i>Depois da viagem, da descoberta e da perda, o jovem judeu Zishe regressa à casa mais forte e mais seguro, com uma verdade urgente para comunicar a todos (Hitler vai subir ao poder, com efeitos que já prevê devastadores para o seu povo). Completa, assim, uma reunião consigo próprio com aquela parte esquecida e trazida de novo à vida como um sonho, ponto de chegada pré-anunciado desde os primeiros momentos</i>”. <span style="font-size: xx-small;">10</span><br /><br />E quanto à impactante cena com os caranguejos de Christmas Island, Roger Ebert interpreta assim: “<i>Eu acho que essa cena pode representar as hordas nazistas emergentes, mas é claro que não pode haver tradução literal. Talvez Herzog queira ilustrar a luta darwinista implacável da qual o homem pode se levantar com bom coração e propósito</i>”. <span style="font-size: xx-small;">11</span><br /><br />Enfim, claro que há coisas boas no filme, como a fotografia e a trilha sonora; além disso, Zishe, em sua ingenuidade e inadequação ao mundo e às suas normas, tem um pouco de Bruno S (de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2014/03/1974-jeder-fur-sich-und-gott-gegen-alle.html"><i>Jeder Für Sich Und Gott Gegen Alle</i></a> e <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2014/05/1977-stroszek.html"><i>Stroszek</i></a>), e é ótimo contraponto entre Hanussen ter supostamente previsto a ascensão de Hitler e Zishe ter seu destino teoricamente previsto por um rabino – na prática, a dizimação de seu povo. E, vá lá, se você pensar no personagem de Tim Roth como um arquétipo mefistotélico, até que ele funciona bem.<br /><br />Porém, foi pouco para despertar meu interesse pelo filme, de modo que foi bem difícil transpor suas mais de duas horas de duração. O <i>gentle giant</i> de <i>Invincible</i> não tem a profundidade intrínseca, com medos e contradições, dos grandes personagens de Herzog. É tudo, como sempre, muito honesto e sincero – e as críticas acima mostram que tudo no filme foi bem pensado, que tentou-se amarrar as coisas, mas nem sempre isso é o bastante, às vezes o resultado final não corresponde aos planos iniciais.<br /><br />Enfim: Herzog, tente não fazer mais filmes convencionais, OK?, e até a próxima.<br /><br /><br /><b>Curiosidades</b>:<br /><br />– algumas liberdades históricas foram tomadas em prol da história, como a junção das histórias de Zishe (que na verdade performou na década anterior, nos 1920s) e de Hanussen (este sim, na época correta); como disse o próprio diretor, “</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Breitbart foi basicamente uma personalidade do showbizz, não muito mais que isso</span></i>”; <span style="font-size: xx-small;">12</span><br /><br />Sobre Hanussen, que teria previsto a ascensão de Hitler, Herzog explica que “<i>na realidade, ele fez algo que todos os videntes fazem - apostou em todos os cavalos, prevendo as vitórias de Schleicher, Brüning e von Papen também, e, depois da eleição, ele apontou apenas para o parágrafo que escrevera sobre a vitória de Hitler</i>”.<br /><br />– o finlandês Jouko Ahola, que faz o papel de Zeishe, tem dois títulos de “Homem Mais Forte do Mundo” e mais dois de “Homem Mais Forte da Europa”, todos dos 1990s;<br /><br />– a sequência com os caranguejos-vermelhos fazendo sua conhecida e impressionante migração anual em Christmas Island (próxima a Indonésia, mas pertencente a Austrália) já havia sido utilizada em <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com/2016/08/1990-echos-aus-einem-dusteren-reich.html"><i>Echos Aus Einem Düsteren Reich</i></a>;<br /><br />– a figura de Zishe, o gigante servil, de bom coração e com dificuldade de se expressar, é uma clara alusão ao mito judeu do golem (que, em alguma narrativas, também defende os judeus oprimidos nos guetos);<br /><br />– o <i>gentle giant</i> também faz alusão à lenda talmúdica dos <i>lamed-vav</i>, os 36 homens verdadeiramente justos sobre a Terra a cada geração (Zishe seria um desses), quando é instruído pelo rabino;<br /><br />– o orçamento do filme foi de US$ 6 milhões e o roteiro foi escrito em nove dias; <br /><br />– há outros dois filmes sobre Hanussen, epônimos, sendo o primeiro dos austríacos OW Fischer (1915–2004) e Georg Marischka (1922–1999), de 1955, e o mais famoso, de 1988, feito pelo húngaro István Szabó (1938–), famoso por <i>Mephisto </i>(1981), de temática algo similar a <i>Invincible</i>;<br /><br />– a cena de Hansusen em uma mesa circular, rodeado de pessoas, é recriação de uma sequência de <i>Dr. Mabuse</i> (1922), de Fritz Lang (1890–1976);<br /><br />– o visual e o gestual do personagem de Tim Roth foi inspirado no protagonista do livro <i>Mario And The Magician</i> (1929), do alemão Thomas Mann (1875–1955), em que o ilusionista claramente simboliza o poder de manipulação do nazifascismo;<br /><br />– <i>Invincible</i> é citado em um diálogo do curta <i>The Debridement In Rome</i> (2012), de Feliz Else;<br /><br />– a russa Anna Gourari, que interpreta Marta Faria, é uma renomada pianista, e tocou realmente em todas as suas cenas ao piano;<br /><br />– Hans Zimmer, que criou parte da trilha sonora, resolveu que ia ser um compositor de músicas para filmes após assistir a <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com/2015/11/1982-fitzcarraldo.html"><i>Fitzcarraldo</i></a>;<br /><br />– dois minutos após a cena da hipnose, o diretor de fotografia começou a balançar e sua cabeça pendeu para trás, no Herzog agarrou-o e colocou-o suavemente de volta trás da câmera, onde continuou – e Tim Roth também foi realmente capaz de hipnotizar a jovem mulher, e é como a vemos no filme, despertando do transe;<br /><br />– a voz na plateia, ouvida logo antes de Zishe levantar 900 libras, pertence a Werner Herzog;<br /><br />– quando perguntado, em uma entrevista, sobre a escolha de atores não-profissionais [mesmo como protagonistas], Herzog respondeu que teria que interromper o entrevistador, porque “<i>não existem atores não profissionais; existem os bons e os maus</i>”; <span style="font-size: xx-small;">13</span><br /><br />– uma idosa que morava em uma das casas perto de onde foram filmadas as cenas do mercado, uma vez saiu com uma sacola de compras e, embora o diretor Werner Herzog tenha dito que era apenas um set de filmagem (não havia mercado ali fazia 70 anos), insistiu em “fazer compras” e interrompeu as gravações durante 15 minutos, no que Herzog pensou que “<i>estava fazendo um bom trabalho</i> [com o filme]”; <span style="font-size: xx-small;">14</span><br /><br />– Herzog queria um rabino de verdade no papel de Edelmann, mas, como não havia nenhum disponível que servisse ao cronograma do filme, acabou ‘sobrando’ para o assistente de direção, Herb Golder, que precisou ficar algumas semanas sem se barbear;<br /><br />– a equipe levou semanas para negociar com a comunidade judaica da pequena cidade de Vilnus, na Lituânia, a fim de filmar na sinagoga local (“<i>a única em mais de cem que sobreviveu à investida nazista</i>” <span style="font-size: xx-small;">15</span>); segundo Herzog. Os moradores locais foram inicialmente resistentes à ideia (“<i>Um cineasta alemão poderia realmente retratar a vida e os rituais judaicos de maneira digna?</i>” <span style="font-size: xx-small;">16</span>), mas acabaram autorizados a filmar lá, “<i>e muitos dos extras em </i>Invincible<i> são genuínos congregantes da sinagoga</i>” <span style="font-size: xx-small;">17</span>). </span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><br /><br />1</span> HERZOG, Werner. <i>Herzog On Herzog, de Paul Cronin</i>. Faber & Faber, 2001.</span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><br />2</span> <a href="https://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,herzog-apresenta-seu-gigante-zishe,20021021p1596">https://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,herzog-apresenta-seu-gigante-zishe,20021021p1596</a></span></span></span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">3 10</span>
PAGANELLI, Grazia. <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di
Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.</span></span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: xx-small;">4 11</span> EBERT, Roger. In.: <a href="https://www.rogerebert.com/reviews/invincible-2002">https://www.rogerebert.com/reviews/invincible-2002</a></span></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><br />5 6 8 9</span> <span style="font-size: x-small;">PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.</span></span></span><br /><span style="font-size: xx-small;">7 15 16 17</span> <span style="font-size: x-small;">CRONIN, Paul. </span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><span style="font-size: x-small;"><i>Werner Herzog: A Guide For The Perplexed</i>. Faber & Faber, 2014.</span></span></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><br />12</span> <span style="font-size: xx-small;">14</span> HERZOG, Werner. In.: <i>Herzog On Herzog</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.</span></span></span></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><br />13</span> HERZOG, Werner. In.: <a href="http://www.indiewire.com/2002/09/interview-strong-man-on-a-mission-werner-herzog-talks-about-invincible-80201">http://www.indiewire.com/2002/09/interview-strong-man-on-a-mission-werner-herzog-talks-about-invincible-80201</a></span></span></span></span></span></span></div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-59837701744413470202018-02-14T23:16:00.000-02:002018-06-13T10:32:29.802-03:00(2001) Pilgrimage<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><br /></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><b>Alemanha (rodado na Rússia e no México) | 18min| super 16 mm| cor</b></span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><b>Produção</b>: Luz-Maria Rojas</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><b>Som</b>: Francisco Adrianzen </span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><b>Montagem</b>: Joe Bini</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><b>Fotografia</b>: Jorge Paccheco</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><b>Música</b>: John Tavener</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><b>Elenco</b>: peregrinos russos e mexicanos anônimos </span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;">
</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">O site oficial do diretor define <i>Pilgrimage</i> como: “<i>Um filme sobre a peregrinação a Virgem de Guadalupe, ao túmulo de São Serguei em Zagorsk/Rússia e outros lugares ao redor do mundo, mas principalmente um filme (e música) sobre a espiritualidade profunda, o fervor religioso e o profundo sofrimento humano dos peregrinos</i>”.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><br />Feito sob encomenda para a BBC, como parte de uma série sobre fé e peregrinação, <i>Pilgrimage</i>
exibe quase 20 minutos, sob intensa música clássica (repetitiva, quase
mântrica), de peregrinos exibindo feições ao mesmo tempo de aceitação e
superação do sofrimento físico, dos limites da carne – em sequências,
sem ligação umas com as outras (sequer sabemos algo sobre os fiéis), de
intensa dramaticidade.</span></span></span></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-_lltEv9AyK4/WoTQh8VpE-I/AAAAAAABEdc/df3OrdfFaLIzNTXEVxHs9ZB_3RUFpNbAQCEwYBhgL/s1600/herzog1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="438" data-original-width="786" height="178" src="https://3.bp.blogspot.com/-_lltEv9AyK4/WoTQh8VpE-I/AAAAAAABEdc/df3OrdfFaLIzNTXEVxHs9ZB_3RUFpNbAQCEwYBhgL/s320/herzog1.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">fé & escuridão</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;">Herzog explica mais sobre o projeto: “<i>Originalmente, eu tinha alguns sons realistas na trilha sonora, que eu tinha gravado na basílica, mas no momento em que ouvi a música do</i> [compositor inglês] <i>John</i> [Tavener (1944–2013)], <i>soube que tinha que jogar tudo fora, porque o filme e a peregrinação teriam vindo abaixo, trazidos por alguns eventos pseudorrealistas, quase ordinários</i>”. <span style="font-size: xx-small;">1</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;">Uma coisa interessante é que os objetos de culto jamais são mostrados; toda a contemplação extática do filme é direcionada aos rostos e corpos das pessoas, nunca às imagens religiosas – isso é, sem dúvida, uma grande ideia, de bastante impacto.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><i>Pilgrimage</i> tem inegável coerência na obra do diretor, seja pelo fato de que ele mesmo já peregrinou em grande estilo (epopeia contada no livro <i>Of Walking In Ice</i>, sobre o qual falo um pouco <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html">aqui</a>), seja pela verdade extática que o conjunto do filme traz, ou mesmo porque a fé em grande escala já foi retratada em diversos filmes seus, como <i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/10/1980-gods-angry-man.html">God’s Angry Man</a>, <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/05/1980-huies-sermon.html">Huie’s Sermon</a>, <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2017/03/1993-glocken-aus-der-tiefe.html">Glocken Aus Der Tiefe</a></i> e <i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2018/02/1999-gott-und-die-beladenen.html">Gott Und Die Beladenen</a></i>.<br /><br />O próprio Herzog liga este filme a outras obras suas, como <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/07/wodaabe-die-hirten-der-sonne.html"><i>Wodaabe, Die Hirten Der Sonne</i></a>, por exemplo: "<i>Apenas aconteceu de ver os dromedários sendo conduzidos através da ponte, no meio de todos aqueles carros. Para mim é uma cena de real e profunda beleza, similar à última cena de </i>Pilgrimage, <i>com as mulheres cruzando o rio congelado</i>”. <span style="font-size: xx-small;">2</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;">Porém, na prática, a obra não funciona muito bem – são vinte minutos da mesma ideia, da mesma alegoria, que, uma vez entendida, não deixa mais nada a ser apreciado como novidade. Com um terço de projeção já tive a sensação de ver um grande videoclipe, como ocorreu, de certa forma, ao assistir a </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2017/01/1991-jag-mandir_5.html">Jag Mandir</a>; </i>tive a impressão de que o filme tenta ser tão puramente transcendente que acaba por lhe faltar metafísica.<br /></span></span></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-qchDdWBfQJk/WoTQh-ol80I/AAAAAAABEdg/rhz0HKW_Clw_OE0NY4J6h7CakIsYffIcQCEwYBhgL/s1600/herzog2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="439" data-original-width="787" height="178" src="https://2.bp.blogspot.com/-qchDdWBfQJk/WoTQh-ol80I/AAAAAAABEdg/rhz0HKW_Clw_OE0NY4J6h7CakIsYffIcQCEwYBhgL/s320/herzog2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">fé & luz</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><br />Apesar disso, Herzog justifica até mesmo o fato de o filme não ter história/narrativa ou diálogos, num tom, verdade seja dita, muito mais de quem está certo do que fez e faz do que quem tenta justificar: as escolhas de insucesso “<i>Não vejo</i> Pilgrimage <i>como um filme mudo porque a música está inextricavelmente ligada às imagens</i>”.<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;">A crítica em geral, como a estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli, também elogia bastante o curta-metragem: “<i>Entre extensões de gelo e rochedos batidos pelas ondas, o filme surge como uma homenagem feita pelo homem ao canto submisso e contínuo do mundo no seu esplendor extático, sinfonia de imagens que se sucedem, procurando o centro espiritual do homem, o equilíbrio incerto que está na história, nas pedras, na água milenar, no ressoar rítmico do vento</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4<br /><br /><span style="font-size: small;">Apesar de o filme não ter me agradado, eu evidentemente reconheço méritos artísticos nele, entendo quem se encante, gosto de várias soluções audiovisuais/sensoriais que ele apresenta , e acho que vale a pena, para quem se interessa pelo tema ou pelo diretor, dar uma conferida. </span></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;">Como diz o estudioso norte-americano de cinema alemão Brad Prager, “<i>Herzog deixa claro que as pessoas fazendo peregrinações em </i>Pilgrimage <i>estão enfrentando sua dor em nome do fervor, do sofrimento, e, é claro, em nome do êxtase" </i><span style="font-size: xx-small;">5</span><i>. </i>Então, quem sabe, a reverência a essa (mesmo que tentativa de) transcendência não te chama a atenção também?</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"></span></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><b>Curiosidades</b>:</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;">– a epígrafe do filme, atribuída ao escritor alemão Thomas à Kempis (1380–1471), na verdade foi inventada por Herzog;</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;">– entre as sequências de peregrinos russos, há cenas reutilizadas de <i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2017/03/1993-glocken-aus-der-tiefe.html">Glocken Aus Der Tiefe</a></i> (as pessoas rastejando no gelo); </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;">– tem o filme completo no <a href="https://www.youtube.com/watch?v=_sacudMgqE4">YouTube</a>.<br /><br /><br /><span style="font-size: xx-small;">1 2 3</span> <span style="font-size: x-small;">HERZOG, Werner. In.: <i>Herzog On Herzog</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001</span></span></span><span style="font-size: xx-small;">4</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: small;"> <span style="font-size: x-small;">PAGANELLI, Grazia. <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di
Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009</span></span></span><br /><span style="font-size: xx-small;">5</span> <span style="font-size: x-small;">PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007</span></span></span>
</div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-34801520855262373822018-02-08T14:52:00.002-02:002018-02-09T01:13:38.541-02:00(1999) Gott Und Die Beladenen<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Alemanha (rodado na Antígua, na Guatemala e no México) | 43min | vídeo | cor</b></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Martin Choroba e Joachim Puls</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Francisco Adrianzen </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Joe Bini</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Jorge Vignati</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: excertos de Charles Gounod, Orlando di Lasso e Giovanni Pierluigi da Palestrina</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Donald Arthur, Muriel Maselli</span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Parte de uma série alemã de tevê chamada <i>2000 Years Of Christianity</i>, Herzog dirige um episódio, média-metragem, que no site do alemão está descrito como “<i>um filme sobre a conquista da América Latina pela Igreja Católica e as consequências para a vida religiosa de hoje naquela região</i>”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">E, como explica o especialista norte-americano em cinema alemão Eric Ames, “Ao contrário dos outros documentários de Herzog, este faz um argumento explícito. Com a conquista espanhola dos povos mesoamericanos, Herzog narra que, ‘a fé católica foi forçada a... uma nação inteira’". <span style="font-size: xx-small;">1<br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Filme do Herzog sem Herzog é esquisito, né. Mas vamos com a narração de Donald Arthur (1937–2016) mesmo, que parece vinda dos documentários ‘mondo’ dos 1970s, e peca pelo excesso de didatismo. A vinheta da série é tosca, assim como as encenações são cafonas, ao estilo The History Channel. E a abordagem é semisensacionalista, à ‘Tabu’, do National Geographic, com teorias demasiadamente simplistas para tão vasto tema.</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><br />Basicamente,
enquanto pergunta a todo momento “quem é Jesus Cristo para essas
pessoas” (especialmente quando mostra Cristo morto, Cristo crucificado e
afins), o filme mostra cultos bastante sincréticos dos países
escolhidos – o que pode chocar o público-alvo, europeu, mas
definitivamente faz parte do cotidiano latino.<br /><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-Y1DBH9sN5kA/Wnx8P5mBsQI/AAAAAAABDzI/m6fQEt_fVg4_1TcLja7GgdbN-HB43T0ZACEwYBhgL/s1600/1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="444" data-original-width="640" height="222" src="https://1.bp.blogspot.com/-Y1DBH9sN5kA/Wnx8P5mBsQI/AAAAAAABDzI/m6fQEt_fVg4_1TcLja7GgdbN-HB43T0ZACEwYBhgL/s320/1.jpg" width="320" /><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Quem?</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Então dá-lhe cenas guatemaltecas de cultos com velas, cachaças, ex-votos e charutos toscos enormes (atém crianças fumam) direcionados especialmente ao Maximón, o conhecido São Simão. Aqui ele é “<i>parte de Deus maia, parte santo católico, uma figura de origem mista indígena e européia, a resultante fusão de elementos de duas tradições sincréticas. Mais do que apenas um vestígio do passado colonial distante, a figura de Maximón-San Simón tem uma função viva na Guatemala contemporânea. Seus rituais e suas representações são fluidos e mudam constantemente</i>”. <span style="font-size: xx-small;">2</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">É bem estranho que este filme tenha sido patrocinado, em parte, pela Igreja Católica, visto que, na maior parte do tempo, o ‘descobrimento’ é narrado de forma bastante crua, com o notável uso gráfico da <i>Historia General De Las Cosas De La Nueva España</i>, também conhecida como <i>Códex Florentino</i>, que confere aos relato uma crueza e farta ilustração do horror que foi a invasão dos ibéricos ao Novo Mundo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-LtYNwo5KCrI/Wnx8P_LdmHI/AAAAAAABDzA/NADCtLHH9zwNG71OQvR3fBxGiAdaVbfawCEwYBhgL/s1600/2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="442" data-original-width="551" height="256" src="https://1.bp.blogspot.com/-LtYNwo5KCrI/Wnx8P_LdmHI/AAAAAAABDzA/NADCtLHH9zwNG71OQvR3fBxGiAdaVbfawCEwYBhgL/s320/2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Códex</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Eric Ames aponta: “<i>O cristianismo era um ‘fardo’ para ser (literalmente e figurativamente) suportado por pessoas colonizadas, e continua sendo assim até hoje - uma idéia tornada vívida pela cena de abertura do episódio</i>” [em sequência à imagem do Cristo carregando a cruz, surgem várias cenas de gente pobre carregando fardos imensos pelas ruas da cidade]. <span style="font-size: xx-small;">3</span> (...) “<i>Como o filme sugere, no entanto, a Conquista resultou não apenas na perda e opressão traumática, mas também em atos criativos de apropriação e transformação, que em alguns casos, paradoxalmente, permitiram a sobrevivência dos mesmos mitos indígenas e rituais que a igreja procurou substituir</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Para que as coisas não fiquem tão estranhamente negativas para a Igreja, há um contraponto, como lembra o estudioso norte-americano de cinema alemão Brad Prager: “<i>Na versão para a televisão, a história de violência é balanceada pela redentora história do Frei Bartolomé de las Casas, padre do século 16 que advogou pelos direitos dos índios e é apresentado a nós como a única voz que se levantou contra a violência cometida contra os astecas, também denunciando as conversões forçadas</i>”. <span style="font-size: xx-small;">5</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-Tc9P7tQxM8U/Wnx8P9XzfKI/AAAAAAABDzE/lleoXw1npeYkMb4xyyHi68GSjN70rld7QCEwYBhgL/s1600/3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="439" data-original-width="640" height="219" src="https://1.bp.blogspot.com/-Tc9P7tQxM8U/Wnx8P9XzfKI/AAAAAAABDzE/lleoXw1npeYkMb4xyyHi68GSjN70rld7QCEwYBhgL/s320/3.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Maximón</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Mas o que fica estranho mesmo é o final, em que o narrador conclui que “<i>A mensagem de Cristo, a mensagem do amor: foi recebida pelos cristãos em cada século, em todas as partes do mundo, sempre de novas formas. Novas abordagens para a religiosidade se desenvolveram a partir dessa única fonte, incluindo as formas mais estranhas de devoção cristã. A história permitiu que eles crescessem como flores coloridas, e sempre combina tradições antigas com novas, formas completamente pessoais de fé cristã, que muitas vezes se envolveram em conflitos uns com os outros. Ninguém, no entanto, pode reivindicar o direito de julgar essas formas sérias de fé pessoal. Pois o amor e a tolerância formam o núcleo da mensagem cristã</i>”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Parece uma grande provocação de Herzog, e que aparentemente ninguém da produção notou, pois, como em aponta Eric Ames, “<i>Nada nos quarenta e cinco minutos</i> [de filme] <i>leva a essa conclusão. Pelo contrário, contradiz diretamente o argumento do filme sobre a coerção, o fascínio pelas formas de resistência e a proliferação de questões</i>”. <span style="font-size: xx-small;">6</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Enfim, é um filme confuso, simplista, mal resolvido e que não tem praticamente nada de hergoziano; não recomendo (a única coisa de que gostei foi o sempre eficiente uso da música clássica por parte do diretor alemão) – veja outro filme da #MaratonaHerzog, qualquer um mais bem avaliado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Curiosidades</b>:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– há (pelo menos) três versões do filme: <i>Neue Welten: Gott Und Die Beladenen</i>, exibido na televisão alemã em 2000, como parte da minissérie (mas lançada em DVD somente 2007), sendo a única versão narrada por Herzog; a segunda versão, a que vi, com o título <i>God And The Burdened</i>, produzida para o mercado externo, e lançada diretamente em DVD, em 2007, com a narração de Donald Arthur; e, finalmente, a terceira versão, mais curta e sem narração (apenas intertítulos e legendas), sob o título <i>Christ And Demons In New Spain</i>;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– para confundir ainda mais, segundo Eric Ames, Werner Herzog e Paul Cronin se referem ao original alemão por seu subtítulo, traduzido como <i>The Lord And The Laden</i>, mas o título aliterativo não se encontra em nenhum lugar do filme ou do seu material de propaganda;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– Donald Arthur também narrou em off a versão em língua inglesa de <i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2017/01/1991-schrei-aus-stein.html">Schrei Aus Stein</a></i>;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– a série <i>2000 Jahre Christentum</i> é uma curiosa coprodução entre a tevê pública alemã (ARD) e a Tellux-Film, braço midiático da igreja católica no país;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– sobre o convite para fazer o episódio, “<i>Eu disse a eles que queria fazer algo sobre a Igreja na América Latina, mas que eles não deveriam esperar nada enciclopédico porque sabia que queria ir a um lugar muito específico (o santuário ao deus maia Maximón em San Andrés Itzapa na Guatemala)</i>". <span style="font-size: xx-small;">7</span></span></div>
<br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">1 2 3 4 6 7</span> <span style="font-size: x-small;">AMES, Eric. <i>Ferocious Reality - Documentary According To Werner Herzog</i>. University Of Minnesota Press, 2012.</span><br /><span style="font-size: xx-small;">5</span> <span style="font-size: x-small;">PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-82167568903478956062018-02-02T23:24:00.003-02:002018-02-05T23:03:21.253-02:00(1999) Mein Liebster Feind<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (rodado no Peru, na Holanda, na Alemanha, na França e nos EUA) | 95min | super 16 mm |cor/p&b</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Lucki Stipetić</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Eric Spitzer </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Joe Bini</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: Florian Fricke (Popol Vuh)</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Werner Herzog, Klaus Kinski, Eva Mattes, Claudia Cardinale, Beat Presser, Guillermo Rios, Andres Vicente, Justo Gonzales, Benino Moreno Placido, Barão e Baronesa von d. Recke, José Koechlin von Stein, Bil Pence</span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>Não é um filme sobre Kinski nem um filme sobre mim, é um filme sobre uma relação, sobre uma relação artística muito pronunciada, quase perigosa. Foi, em muitos sentidos, um paradigma do processo criativo, tão intensa que – enquanto trabalhávamos – já tinha pensado em transpô-lo para filme. Mas me ajoelho e agradeço a Deus por não tê-lo feito àquela altura; foi bom ter esperado dez anos para fazê-lo</i>.” <span style="font-size: xx-small;">1</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><br /></span></span>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O ano é 1971. Klaus Kinski (1926–1991), excursionando com o espetáculo <i>Jesus Christus Erlöser</i>
(Jesus Cristo Salvador), no qual interpretava o próprio, discute
furiosamente com o público. Em seguida, Herzog nos apresenta o prédio em
que morou com o ator quando jovem, e nos conta histórias sobre seus
acessos de fúria constantes e incontroláveis. Daí vamos para as já
conhecidas histórias insanas ocorridas nos sets de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/11/1972-aguirre-der-zorn-gottes.html"><i>Aguirre, Der Zorn Gottes</i></a> e <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html"><i>Fitzcarraldo</i></a>,
que vão de ator quase matando membro da equipe a diretor ameaçando ator
de morte, passando por índios figurantes se oferecendo para matar o
ator.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Como explica o estudioso norte-americano de cinema Brad Prager, “<i>De certa forma</i>, Mein Liebster Feind <i>não
se resume apenas a recontar o passado, ou a contar a história de forma
que Herzog venha a aceitar a perda, mas também é sobre como esse
objetivo é alcançado de forma cinematográfica. Porque tanto de seu
relacionamento ocorreu em filme, que chegar a um acordo com o seu fim
pode ser feito melhor em filme também</i>.” <span style="font-size: xx-small;">2</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Porém,
num exercício não só de memória e homenagem, mas também de exorcismo,
Herzog sempre intercala essas histórias com cena e depoimentos, digamos,
favoráveis a Kinski, mostrando que ele sabia ser gentil e afetuoso
quando queria: há depoimentos de Eva Mattes e Claudia Cardinale falando
muito bem dele, assim como, após uma cena em que, num festival de
cinema, ator e diretor trocam um abraço carinhoso, de verdadeiros
amigos, fazendo com que este desabafe, dizendo que sentia falta daquele.
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-ZNqGH9UOhOM/WnUKcfoGQsI/AAAAAAABDVE/yJ1SRdiGT7o7Zo9PWdl-62k9qlAkzsFPACEwYBhgL/s1600/hero_EB20000211REVIEWS2110305AR.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="1200" height="133" src="https://3.bp.blogspot.com/-ZNqGH9UOhOM/WnUKcfoGQsI/AAAAAAABDVE/yJ1SRdiGT7o7Zo9PWdl-62k9qlAkzsFPACEwYBhgL/s320/hero_EB20000211REVIEWS2110305AR.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Às vezes era difícil</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Aliás, quando perguntado pelo estudioso norte-americano de cinema Paul Cronin se sente falta de Kinski, Herzog afirma: “<i>Como eu, Kinski era uma pessoa muito física, mas de maneira diferente. Nós nos complementamos bem porque ele juntou todos. Ele atraiu o rebanho magneticamente e eu o segurei. Kinski foi feito para mim, para o meu cinema. Às vezes quero colocar meu braço ao redor dele novamente, mas acho que eu só sonho com isso porque eu tenho essa imagem antiga de nós dois. Não me arrependo de nenhum momento, nenhum. Talvez eu sinta falta dele. Sim, de vez em quando eu sinto falta dele</i>”. <span style="font-size: xx-small;">3</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O caráter de ‘exorcismo’ do filme fica claro neste depoimento: “<i>Sinto-me satisfeito por ter decidido fazer o filme muitos anos depois da morte de Kinski, quando o turbilhão amainara e minha mágoa desaparecera. Agora olho para as situações absurdas com humor </i>(…). <i>O humor com que olho para nós dois é algo de novo, algo que apenas se tornou possível devido ao mistério do tempo. A passagem do tempo muda muito as coisas.</i>” <span style="font-size: xx-small;">4</span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Isso
fica claro pelo modo como o diretor escolhe encerrar o filme: Klaus
Kinski, em um campo ensolarado, encantado, brincando com uma borboleta,
que insiste em pousar em seu corpo, como que hipnotizada. É uma cena
belíssima e tocante, que deixa claro o quão importante o ator maluco era
para o diretor igualmente maluco.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-QCCwBfBqHVA/WnUKcYCoDSI/AAAAAAABDU8/k488O972NYg83t_sDQlTTvwtw68X0XB1QCEwYBhgL/s1600/hqdefault.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="374" height="308" src="https://3.bp.blogspot.com/-QCCwBfBqHVA/WnUKcYCoDSI/AAAAAAABDU8/k488O972NYg83t_sDQlTTvwtw68X0XB1QCEwYBhgL/s320/hqdefault.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Às vezes era tranquilo</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na opinião da crítica norte-americana de cinema Janet Maslin, “<i>Herzog usa o documentário não só para invocar histórias de Kinski, mas também para contemplar o autêntico (e errático) gênio do ator</i>". <span style="font-size: xx-small;">5</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Kinski teria sido uma ator medíocre e de carreira errática sem o espírito e a paciência de Herzog, e este não teria feito seus maiores clássicos sem a impetuosidade que ardia no espírito do astro. Foi uma parceria ao mesmo tempo improvável e inevitável.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Segundo o crítico norte-americano de cinema Roger Ebert (1942-2013), "’Mein Liebster Feind’<i> é sobre dois homens que queriam ser dominantes, que tinham todas as respostas, que estavam inseparavelmente unidas em amor e ódio, e que criaram um trabalho extraordinário - enquanto o tempo todo um se ressentia com a contribuição do outro.</i>” 6</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sobre a sequência de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/06/1987-cobra-verde.html"><i>Cobra Verde</i></a>, em que Klaus Kinski, exausto física e mentalmente sucumbe à beira de uma praia, o especialista norte-americano em cinema alemão Eric Ames teoriza: “<i>Herzog alega a voz que Kinski realmente morreu como resultado de sua intensidade e exaustão ‘apenas desta cena’, mesmo embora sua morte tenha ocorrido muito mais tarde, em outro lugar, e fora da câmera. Ao fazer essa afirmação, como um estudioso observou, Herzog se atribui retroativamente um grau de responsabilidade pela morte real de Kinski. Por que ele deveria fazer isso?</i>” <span style="font-size: xx-small;">7</span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><br />A
resposta óbvia é que Herzog se sentiu responsável por ‘usar’ a loucura e
a intensidade de Kinski até a exaustão, e esse tipo de questionamento,
mesmo que não ‘indo pra frente’, mas parte de todo o processo pelo qual o
diretor passou ao lidar, fazendo <i>Mein Liebster Feind</i>, de passar a limpo todas as dificuldades e vicissitudes da incrível, mágica e trágica, relação entre ele e seu ator preferido.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-zLymjYNtnXQ/WnUKcS3MsaI/AAAAAAABDVA/Xd6XWuxvt9YAaCqW7ZxI40XFegZFLYLigCEwYBhgL/s1600/5139.original.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="406" data-original-width="720" height="180" src="https://1.bp.blogspot.com/-zLymjYNtnXQ/WnUKcS3MsaI/AAAAAAABDVA/Xd6XWuxvt9YAaCqW7ZxI40XFegZFLYLigCEwYBhgL/s320/5139.original.jpg" width="320" /><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas o que fica é o que importa</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O crítico de cinema Inácio de Araújo tem boas conclusões sobre a obra: “<i>Não é apenas a revelação dessas histórias que faz o encanto do filme, e sim o encontro de duas formas peculiares de loucura.</i>” <span style="font-size: xx-small;">8</span> (…) “<i>Todo mundo tem um amigo especial. Poucos têm um inimigo do peito como Klaus Kinski. Isto é, a afinidade entre ambos parecia vir não das semelhanças, mas daquilo que os diferenciava.</i>” <span style="font-size: xx-small;">9</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mesmo que você não tenha visto todas as parcerias Herzog + Kinski, mesmo que você não tenha assistido a nenhuma delas, veja este filme, obrigatório não só para a obra do alemão, ou mesmo para o cinema, mas sim como tratado sobre as relações humanas. Uma história duradoura de amor & ódio. Denso e tenso, terno e eterno. Veja logo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Curiosidades:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– O espetáculo <i>Jesus Christus Erlöser</i>, de 1971, virou documentário em 2008 e está na íntegra no <a href="https://www.youtube.com/watch?v=Myv9U4W_Tt4">YouTube</a> (legendas em inglês);</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– Klaus Kinski abandonou esse espetáculo para estrelar sua primeira parceria com Werner Herzog, <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/11/1972-aguirre-der-zorn-gottes.html"><i>Aguirre, Der Zorn Gottes</i></a>;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– os demais filmes que fizeram juntos são <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/08/1979-nosferatu.html"><i>Nosferatu</i></a>, <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/08/1979-woyzeck_19.html"><i>Woyzeck</i></a>, <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html"><i>Fitzcarraldo</i></a> e <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/06/1987-cobra-verde.html"><i>Cobra Verde</i></a>;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– Herzog afirma que escreveu o roteiro “<i>em 15 minutos, após 72 horas sem dormir, vendo um documentário de TV contemplativo e um filme pornô, e concluindo que o segundo aproximou-se mais da verdade</i>”. <span style="font-size: xx-small;">10</span></span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">1 4 </span><span style="font-size: xx-small;">PAGANELLI, Grazia. <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">2</span> <span style="font-size: xx-small;">PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">3</span> <span style="font-size: xx-small;">CRONIN, Paul. <i>Herzog On Herzog</i>. Faber & Faber, 2001.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">5</span> <span style="font-size: xx-small;">MASLIN, Janet. In: <a href="http://www.nytimes.com/movie/review?res=9B0CE1D9123BF930A35752C1A96F958260">http://www.nytimes.com/movie/review?res=9B0CE1D9123BF930A35752C1A96F958260</a> </span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">6</span> <span style="font-size: xx-small;">EBERT, Roger. In: <a href="http://www.rogerebert.com/reviews/my-best-fiend-2000">http://www.rogerebert.com/reviews/my-best-fiend-2000</a> </span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">7</span> <span style="font-size: xx-small;">AMES, Eric. <i>Ferocious Reality - Documentary According To Werner Herzog</i>. University Of Minnesota Press, 2012.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">8</span> <span style="font-size: xx-small;">ARAÚJO, Inácio de. In: <a href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac2710199903.htm">http://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac2710199903.htm</a> </span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">9</span> <span style="font-size: xx-small;">ARAÚJO, Inácio de. In: <a href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0902200127.htm">http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0902200127.htm</a> </span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">10</span> <span style="font-size: x-small;">HERZOG, Werner. In: <a href="https://www.theguardian.com/friday_review/story/0,,296777,00.html">https://www.theguardian.com/friday_review/story/0,,296777,00.html</a></span></span>Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-82990073389047935882017-07-19T11:09:00.002-03:002017-07-19T13:28:48.706-03:00(1999) Wings Of Hope<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (rodado no Peru) | 70min (versão para cinema) / 42min (versão para a tevê alemã) /49min (versão para a tevê alemã) | super 16 mm |cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Lucki Stipetić</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Eric Spitzer </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Joe Bini</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: excertos de Richard Wagner e Ígor Stravinski</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Werner Herzog, Juliane Koepcke, Juan Zaplana Ramirez</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Com o título em alemão <i>Julianes Sturz In Den Dschungel</i> ('Juliane Cai Na Selva‘), <i>Wings Of Hope</i>, da série televisiva <i>Voyages To Hell</i> (da qual também faz parte já analisado <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2017/05/1997-little-dieter-needs-to-fly.html"><i>Little Dieter Needs To Fly</i></a>), conta a história da bióloga peruana radicada na Alemanha Juliane Koepcke (1962–), única sobrevivente do acidente aéreo em que um avião peruano caiu no meio da Amazônia Peruana. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Só isso já seria motivo para contar essa grande história. Mas Herzog tem motivos pessoais para se envolver com ela: naquela véspera de Natal em 1971, em que centenas de pessoas disputavam um lugar naquele único voo de Lima para Iquitos, passando por Cuzco (o outro voo programado foi cancelado de última hora por problemas mecânicos), Herzog também pretendia embarcar, a fim de encontrar sua equipe de filmagem, que estava rodando <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/11/1972-aguirre-der-zorn-gottes.html"><i>Aguirre, Der Zorn Gottes</i></a>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O voo 508, da hoje extinta empresa peruana Lansa, partiu com três horas de atraso, levando 92 pessoas a bordo. Entre elas, Juliane Koepcke, de 17 anos – filha de pais alemães, biólogos, e criada no Peru –, e sua mãe, Maria Koepcke (1924–1971) a fim de encontrar o pai, Hans-Wilhelm Koepcke (1914-2000), na cidade de Pucallpa, onde o voo faria escala.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Porém, poucos minutos após a decolagem, com o céu extremamente nublado, o avião entrou em uma terrível tempestade de raios – há evidências de que a tripulação, contrariando normas de segurança, decidiu enfrentar o mau tempo, a fim de não atrasar ainda mais o voo –, e, após uma enorme turbulência, o avião mergulhou rapidamente rumo ao solo, vítima de um relâmpago que atingiu o motor da asa direita. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-WfUG_LanK3E/WW9ndCz6esI/AAAAAAAArGs/HF8ODh43BCMNrQ92NoPh98qnG7vMlcGsQCEwYBhgL/s1600/Wings_of_hope.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="624" height="246" src="https://4.bp.blogspot.com/-WfUG_LanK3E/WW9ndCz6esI/AAAAAAAArGs/HF8ODh43BCMNrQ92NoPh98qnG7vMlcGsQCEwYBhgL/s320/Wings_of_hope.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Juliane revivendo seus traumas</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Juliane só abriria novamente os olhos 19 horas horas depois, coberta de lama e com um profundo ferimento na perna, para se descobrir sozinha em meio à selva. A enorme expedição de busca e salvamento, talvez a maior já executada no país, procurou sobreviventes por 10 dias – a jovem conseguiu sair da selva dois dias após a desistência das buscas. <br /> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>Juliane é uma cientista, muito direta e clara, e a única razão pela qual ela sobreviveu à sua provação foi por sua capacidade de agir metodicamente através dessas circunstâncias absolutamente terríveis</i>", <span style="font-size: xx-small;">1</span> afirma Herzog. “<i>O fato de ela ter caído na selva sem morrer é um milagre, mas sua fuga da selva, não. Foi puro profissionalismo. Ela conhecia a floresta muito bem, desde o tempo gasto na estação ecológica que seus pais construíram, e ela nunca entrou em pânico quando os crocodilos salpicaram dos bancos de areia à esquerda e à direita no rio em que ela estava a vagar. Ela sabia que os crocodilos sempre fogem dos seres humanos e escondem-se na água, nunca na selva. Todos os outros, inclusive eu, teriam fugido para a selva e inevitavelmente morreriam lá</i>”. <span style="font-size: xx-small;">2</span> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">É inegável que a sobrevivência de Juliane se deu muito ao fato de que ela crescera na estação de pesquisas que seus pais haviam estabelecido em Pucallpa, após chegarem ao Peru, clandestinamente e sem dinheiro, certamente para realizar um sonho e talvez também para fugir da Alemanha arruinada do pós-guerra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Juliane Kopcke, que também tornou-se bióloga, compreensivelmente ficou muito arredia com o episódio nos anos seguintes, tanto pelo trauma quanto pelo excessivo assédio da imprensa, e manteve o foco em ser uma profissional reconhecida e competente, seguido os passos de seus pais, e não viver apenas como “a sobrevivente”. Isso dificultou muito sua localização por Herzog, que, evidentemente, sempre quisera fazer um filme sobre sua vida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O diretor conta: “<i>Eu sempre soube que faria esse filme um dia, mas demorou bastante para localizar Juliane. Ela desapareceu e cobriu suas trilhas porque tinha sido assediado pela imprensa tão intensamente após seu resgate, tornando-se muito discreta, se casando e mudando seu nome. Consegui encontrar o pai dela, que imediatamente me disse que nunca daria o nome e o endereço de sua filha a ninguém. Não havia forma de convencê-lo de que eu não era diferente da imprensa. Eu tinha a suspeita de que ela estaria no Peru, porque era lá que ela havia crescido. Eu sabia que ela amava a selva e pensei que poderia estar trabalhando como bióloga em uma das estações ecológicas por lá. No final, a encontrei por meio de alguns cortes de jornal antigos sobre o enterro de sua mãe em uma pequena cidade bávara. Finalmente localizei o padre católico aposentado que enterrou a mãe de Juliane e ele me disse que uma tia ainda estava viva e morava em uma aldeia próxima. Fui direto para lá, mas ela não me contou nada. Pedi-lhe que passasse meu número de telefone para Juliane, o que ela fez. Juliane me ligou, e respondeu que estava vivendo em Munique, e não no Peru</i>“. 3</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">E assim, finalmente, quase trinta anos depois, Juliane retorna à selva peruana para reviver sua epopeia, em depoimentos, perturbadores de tão desapaixonados, sobre as agruras vividas nos 12 dias em que lutou pela própria sobrevivência, intercalados por narrações em off do diretor sobre fatos complementares ou mesmo deduções (invenções?) acerca de sentimentos e vivências da protagonista em sua jornada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Essa assertividade desconcertante de Juliane – não sabemos se apenas por sua personalidade ou como forma de naturalizar os próprios traumas – acaba sendo muito importante para manter a situação toda em território especialmente herzogiano: o fato de ela ter sobrevivido ao acidente, e mais, ao ambiente hostil da floresta, é tão improvável e absurdo, em sua realidade indiferente aos prognósticos, que essa frieza só reforça as ideias do diretor sobre o caos inexorável da existência.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A protagonista, em falas desapaixonadas como a de Michael Goldsmith em <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/08/1990-echos-aus-einem-dusteren-reich.html"><i>Echos Aus Einem Düsteren Reich</i></a>, quase como se tudo aquilo não houvesse acontecido com ela mesma, viaja de avião na mesma fileira e poltrona em que estava quando do acidente, detalha momentos terríveis – com a tranquilidade de quem está com moscas pousando em suas mãos e a rodeando, sem se abalar –, como a sensação de se descobrir sozinha e única sobrevivente, a constatação de que a ferida em sua perna estava coberta por vermes, ou mesmo o encontro com os destroços do fatídico avião, e tudo de forma muito franca e incômoda para o espectador.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O estudioso norte-americano de cinema alemão Brad Prager teoriza: “<i>O aparente desapego com que ela fala sobre as larvas que comeram de suas feridas, durante o período em que ela estava perdida na selva, lembra o estranho desapego com o qual Reinhold Messner fala da perda de suas extremidades em</i> <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2017/01/1991-schrei-aus-stein.html">Schrei Aus Stein</a>”. <span style="font-size: xx-small;">4</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Tal como em <i>Little Dieter Needs To Fly</i>, Herzog, talvez preocupado com o excesso de objetividade de seus protagonistas nessa série televisiva, faz uso de muitos sonhos, inventados por ele e atribuídos a Juliane, desde a primeira sequência, com os manequins e animais empalhados em uma vitrine de loja em Lima, que servem de para de fundo para hipotéticas perturbações com aviões feito carcaças de borboletas abatidas em uma gaveta.</span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-39BQEaa2Wd0/WW9ndU5SFbI/AAAAAAAArG0/ij7mdTiR0iQVUws_tlTvtSAc6eLvC2k3ACEwYBhgL/s1600/wings-of-hope_592x299-6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="299" data-original-width="343" height="278" src="https://2.bp.blogspot.com/-39BQEaa2Wd0/WW9ndU5SFbI/AAAAAAAArG0/ij7mdTiR0iQVUws_tlTvtSAc6eLvC2k3ACEwYBhgL/s320/wings-of-hope_592x299-6.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Separados e unidos por um acidente</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli explica: “<i>Aqui também se recorre ao sonho como momento de pura invenção para descrever com mais exatidão uma realidade íntima e profunda que não encontra palavras para se exprimir.</i> (...) <i>São visões de morte guardadas na mente, e, como tal, não podem ser representadas se não por meio de um forte impulso de abstração</i>“. <span style="font-size: xx-small;">5</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Brad Prager amplifica a teoria: “<i>Os fatos da experiência de Juliane e o testemunho seriam suficientes para nos deixar sem dúvida quanto à intensidade de seu drama pessoal, mas Herzog é motivado a inventar sonhos obcecados pela morte em seu nome. Ele quer compartilhar neles, talvez porque o estimula a rapsódia poética. Como ele tinha no caso de </i>Little Dieter Needs To Fly<i>, e até certo ponto em</i> <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/11/1971-land-des-schweigens-und-der.html">Land Des Schweigens Und Der Dunkelheit</a> e em outros filmes, Herzog aqui modela os sonhos de seu assunto”. <span style="font-size: xx-small;">6</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Porém, muitos críticos julgam que o diretor pesou a mão em seus sonhos inventados, como que subestimando o poder da narrativa de sua própria protagonista. Brad Prager é um deles: “<i>Ao final de </i>Wings Of Hope, <i>o relato de Herzog sobre o estado mental de Juliane torna-se tão exagerado e hiperbólico que um espectador poderia ser levado concluir que ele está deliberadamente superestimando os efeitos traumáticos de acidente, se não estiver para zombar de Juliane, para testar os limites da aceitação da ideia de que ela estava traumatizada</i>”. <span style="font-size: xx-small;">7</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">De fato, os sonhos, que sabemos serem inventados, incomodam um pouco durante a projeção, visto que a história em si já é impactante o suficiente, mas não creio que cheguem a comprometer o resultado final. Percebe-se claramente que a intenção de Herzog é costurar a incrível coincidência entre a vida dele com a dela – dois alemães de gerações e vidas totalmente distintas, separados por um bilhete de viagem conseguido à pressas – com a fugaz separação que o destino faz entre vida e morte, quem vai e quem fica, nos dando a impressão de que até hoje a vida de Julianna é uma paisagem povoada pelos mortos que o acaso levou embora no seu lugar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">E, sobretudo, a indiferença do acaso, com seus descasos, permeia todo o documentário: tudo é caos, imprevisível, inclemente, e é diante dessa natureza desordenada e hostil que devemos nos afirmar e, sempre que possível, sobreviver.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Incrível história, excelente documentário; recomendo não só para fãs de Herzog ou interessados por aviação (e seus acidentes), mas a todos que desejem ver um filme profundo, instigante e, por que não?, inspirador.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Curiosidades</b>:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– a contragosto de Juliane, sua história já havia sido romanceada no filme italiano de gosto duvidoso <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Miracles_Still_Happen"><i>Miracles Still Happen</i></a>, em que sua rude história de sobrevivência fora transformada em uma aventura selvagem mais no estilo do vindouro game <i>Pitfall</i> do que aparentada à realidade cruel e fria de sua odisseia;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– a companhia aérea peruana Lansa, criada em 1963 e extinta em 1972, já possuía vasta reputação negativa, com fama de empregar pilotos sem licença e mecânicos habilitados no máximo para consertar bicicletas, além de voos sobrecarregados, no que resultou, com a tragédia relatada do filme, em inacreditáveis três acidentes em cinco anos, somando 241 vítimas; </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– uma espécie de lagarto peruano, <i>Microlophus koepckeorum</i>, tem seu nome científico dado em homenagem aos pais de Juliane [a mãe ainda é homenageada em uma coruja e três pássaros].</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br /></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">1 2 3</span> <span style="font-size: x-small;">HERZOG, Werner. In.: <i>Herzog On Herzog</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.</span><br /><span style="font-size: xx-small;">4 6 7</span> <span style="font-size: x-small;">PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.</span><br /><span style="font-size: xx-small;">5</span> <span style="font-size: x-small;">PAGANELLI, Grazia. <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.</span></span></div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-49719869035436262017-05-06T00:38:00.001-03:002017-07-19T13:10:33.467-03:00(1997) Little Dieter Needs To Fly<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (rodado na Tailândia, nos EUA e na Alemanha) | 80min (versão para cinema) | 42min (versão para tevê) | super 16 mm |cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Lucki Stipetić</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Ekkehart Baumung </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Rainer Standke</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger e Les Blank</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: excertos de Béla Bartok, Carlos Cardel, Glenn Miller, Kongar-ol Ondar, Richard Wagner, Antonín Dvořák, Johan Sebastian Bach e música popular de povos das regiões dos Urais (Rússia/Mongólia) e Sayan-Altal (Indonésia)</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Dieter Dengler </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>Depois
de passar tempo com Dieter, percebi que sua história tinha a qualidade e
estrutura de uma tragédia grega antiga. A história de Dieter é a de um
homem e seus sonhos, seu castigo e sua redenção</i>.” <span style="font-size: xx-small;">1</span><br /><br />Feito para a tevê alemã, como parte da série Voyages To Hell (que inclui o próximo filme da lista, Wings Of Hope), este <i>Little Dieter Needs To Fly</i>
conta a história do alemão Dieter Dengler (1938–2001), piloto de avião
que se alistou na aeronáutica americana, e em uma missão no Laos, às
portas da Guerra do Vietnã, foi abatido e feito prisioneiro, sofrendo
cruelmente na mão dos captores até conseguir fugir através da selva.<br /><br />Herzog dá detalhes: “<i>Fui convidado por uma estação de televisão alemã para contribuir para uma série chamada</i> Voyages To Hell. <i>Imediatamente
pensei: 'Ah, sim, isso soa muito bem. Meu tipo de coisa. O executivo da
televisão realmente queria que eu fizesse um filme sobre mim, todas as
coisas sobre o desembarque na prisão na África e os problemas em </i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html">Fitzcarraldo</a>. <i>Era
um trabalho difícil, lhe disse, mas não eram viagens ao inferno.
Lembrei-me vagamente de ler sobre Dieter nos anos 1960s, embora já
estivesse havia muito esquecido.</i>” <span style="font-size: xx-small;">2</span><br /><br />Segundo
o filme, Dieter Dengler decidiu desde pequeno que queria voar,
curiosamente quando viu bombardeiros aliados sobrevoando seu bairro na
Alemanha, durante a Segunda Guerra. Essa vivência no país em guerra,
inclusive, foi o que despertou em Herzog a admiração pelo protagonista:
“Como eu, Dieter tinha que tomar conta da sua vida desde muito cedo, e
porque, como crianças, nós dois sabíamos o que era a fome real, tivemos
uma relação imediata.” <span style="font-size: xx-small;">3</span><br /><br />Dieter é uma pessoa cativante, e tal como o protagonista de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/08/1990-echos-aus-einem-dusteren-reich.html"><i>Echos Aus Einem Düsteren Reich</i></a>,
conta tudo de forma tranquila, às vezes animada, quase como se aquilo
tudo não tivesse acontecido com ele. A reconstituição inclui o retorno
ao Laos e até algumas bizarras encenações de maus-tratos e tortura. </span><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-UUUm1UTMd7Q/WQ1IGWwnumI/AAAAAAAAkKs/mCdZLp4DSMMKUYIMx88qBdf5Q8Lb2t4XQCEw/s1600/maxresdefault.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="180" src="https://1.bp.blogspot.com/-UUUm1UTMd7Q/WQ1IGWwnumI/AAAAAAAAkKs/mCdZLp4DSMMKUYIMx88qBdf5Q8Lb2t4XQCEw/s320/maxresdefault.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Dieter após der resgatado</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><br />O estudioso norte-americano de cinema Brad Prager nos conta mais sobre isso: “<i>Mas
este regresso deixa também uma impressão em relação à personalidade de
Dieter, disposto a retornar à selva, para voltar ao sítio a que regressa
todos os dias na sua cabeça"</i>. <span style="font-size: xx-small;">4</span> (...) "<i>Ao
visitar a vila onde Dieter cresceu – e onde este viu pela primeira vez
um avião – os paralelos entre os dois tornam-se visíveis. O ambiente
pós-guerra na Alemanha de pobreza extrema e a dura educação que Dieter
conheceu, são familiares a Herzog, que é apenas quatro anos mais novo
que Dieter. A paixão e perseverança de Dieter em perseguir cegamente o
seu sonho encontram paralelo na paixão de Herzog pelo cinema, na
intensidade com que procura novas imagens. Herzog observa Dieter não só
com admiração, mas como se considerasse, por vezes, que podia ser ele
próprio a perseguir aqueles sonhos de voar, tivessem as circunstâncias
sido diferentes, poderia ter sido aquele piloto que agora entrevista</i>”. <span style="font-size: xx-small;">5</span><br /><br />Este
crítico do The Guardian refoça os aspectos supracitados do jeito de
Dieter Dengler contar com desapego sua própria história: “<i>Mesmo
descrevendo apenas punições horríveis (como ser pendurado de cabeça para
baixo com um ninho de formigas em seu rosto), Dengler soa como se ele
está falando sobre coisas que aconteceram com outra pessoa. "Eles
estavam sempre pensando em algo para fazer comigo", ele diz, como se
impressionado com sua engenhosidade"</i>. <span style="font-size: xx-small;">6</span> (...) "<i>Como sempre, com Herzog, não há nenhuma sugestão de sentimentalismo aqui e nenhuma tentativa de criar um herói</i> ("Somente os mortos são heróis", <i>diz Dengler com firmeza)</i>.” <span style="font-size: xx-small;">7</span><br /><br />Já o diretor afirma para a estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli que foi tudo intencional: “<i>Na
viagem de regresso de Dieter Dengler, o aspecto mais importante, para
além da incrível história de prisão no Laos e da fuga através da selva,
está na estilização dos acontecimentos que Herzog consegue encenar.
“Tivemos muito cuidado para reconstituir e estilizar a realidade de
Dieter. Era necessário que se transformasse num ator que representa a si
próprio”, explica Herzog, a propósito do método de trabalho desse
filme, e novamente escolhe intensificar a realidade a inventar histórias
sugeridas por pormenores e detalhes reais</i>”. <span style="font-size: xx-small;">8</span><br /><br />Uma
resenha do The New York Times toca num ponto importante (além de
mencionar o quão esquisito é Dieter contar tudo de forma tão prosaica): o
de que, mesmo com as encenações, as histórias tensas e algumas
estranhezas tipicamente herzogianas – como um antigo e tosco vídeo para
treinamento de soldados na selva –, <i>Little Dieter Needs To Fly</i>
faz jus à situação de ‘feito para a tevê’ e se apresenta como um filme
bastante convencional, pelo menos diante do que se espera do diretor: '’<i>É
uma das obras menos exóticas do cineasta (...), e à luz de seus muitos
ideais, sua agradável conversa começa a parecer o aspecto mais estranho
do filme. Como diz Herzog: "Ele se esconde atrás da observação casual de
que essa era a parte mais divertida de sua vida</i>". <span style="font-size: xx-small;">9</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-OnbociXE2YM/WQ1IGZUg4VI/AAAAAAAAkKs/kaUhFfwRUXMlllAjnd-JCJ8QITpYf-NlgCEw/s1600/littled2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="214" src="https://2.bp.blogspot.com/-OnbociXE2YM/WQ1IGZUg4VI/AAAAAAAAkKs/kaUhFfwRUXMlllAjnd-JCJ8QITpYf-NlgCEw/s320/littled2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Reconstituições</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Realmente
causa estranheza, bem mais até do que os relatos desapaixonados sobre
os malgrados sofridos, que o sonho de alguém seja ir jogar bombas no
país alheio, ainda mais alguém que passou fome na infância por causa de
uma guerra.<br /><br />Ao responder sobre as costumeiras críticas aos seus
filmes que têm guerras como pano de fundo, Herzog aproveita para
defender as motivações de Dieter: “<i>O filme foi geralmente muito bem
recebido pelo público americano. Inevitavelmente me perguntaram por que
eu não denunciava a agressão americana na Guerra do Vietnã e por que o
filme não fazia nenhuma declaração política sobre a guerra. Embora eu
sinta que a guerra está sempre muito nas margens do filme, você tem que
lembrar que, para Dieter, ela durou apenas quarenta minutos. Nunca foi
seu objetivo ir à guerra; Ele só queria voar, e a única chance como um
alemão para fazer isso era emigrar para os Estados Unidos. É apenas uma
cadeia de coincidências em que ele terminou em uma guerra três semanas
depois de ter suas asas. É preciso lembrar que isso foi em 1965. Nesse
ponto, os EUA ainda estavam apenas prestando assistência militar em
pequena escala aos generais sul-vietnamitas que estavam empenhados em
empurrar para trás os infiltrados do norte. (...) De repente, ele estava
cheio de vozes e seres humanos, pessoas que estavam famintas e sob
pressão de ataques aéreos. E quase imediatamente ele começou a mudar sua
atitude, a entender que havia pessoas reais lá embaixo, sofrimento real
e morte</i>”. <span style="font-size: xx-small;">10</span><br /><br />Porém,
como aponta a pesquisadora hawaiiana Christina Gerhardt, fica claro que
a motivação de Dieter não era só o desejo de pilotar aviões, mas alguma
ligação com o espírito da guerra, algum fascínio enraizado desde a
infância: “<i>Dieter nasceu em 1938 e emigrou para os EUA em 1956,
quando tinha 18 anos. Em 1/4/1955, a Lufthansa inaugurou o serviço aéreo
com voos agendados para Frankfurt, Munique, Hamburgo, Dusseldorf e
Colônia</i>”. <span style="font-size: xx-small;">11</span><br /><br />Brad
Prager faz a ressalva de que realmente Herzog nunca está interessado na
guerra em si, mas nas histórias que ela pode contar – “<i>Como é típico de Herzog, essa história é menos política ou histórica do que existencial</i>” <span style="font-size: xx-small;">12</span> –, mas considera que talvez isso não seja realmente possível, na prática: “<i>Como foi o caso de </i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/01/1984-ballade-vom-kleinen-soldaten.html">Ballade Vom Kleinen Soldaten</a>, <i>Herzog
imaginou que ele estava apenas apresentando aos telespectadores uma
história dolorosa ou traumática como tal - história de guerra 'sobre si
mesma'. Seu trabalho pretendia transcender a política, mas isso é,
naturalmente, inimaginável; o filme de Herzog não seria realmente capaz
de tirar a história em andamento para descrever um encontro com a selva,
a tortura ou a morte como um evento completamente divorciado do seu
contexto circundante</i>”. <span style="font-size: xx-small;">13</span><br /><br />Além disso, ele aponta outro aspecto do documentário que pode ser criticado: “<i>Críticos do filme, e do método de Herzog, apontam que o filme é menos sobre Dieter do que sobre as visões artísticas de Herzog</i>”. <span style="font-size: xx-small;">14</span><br /><br />A
despeito das encenações e fabulações típicas do diretor, com as quais
estamos acostumados, o filme tem muitas narrações em off do que seriam
pensamentos de Dieter Dengler, porém, sob a voz de Herzog. E ficamos sem
saber se realmente o protagonista pensou aquilo ou se foi apenas mais
uma estilização herzogiana. Isso incomoda especialmente nesse filme, já
que é uma história real e bem documentada, com um personagem vivo e
presente na película.<br /><br />Herzog expõe seu ponto: “<i>Dessa vez as
estilizações foram mais sutis. Na verdade, o filme foi filmado duas
vezes, em inglês e alemão. Tínhamos muito cuidado com a edição e
estilização da realidade de Dieter. Ele tinha que se tornar um ator
interpretando a si mesmo. Tudo no filme é o autêntico Dieter, mas para
intensificá-lo é tudo reorquestrado, roteirizado e ensaiado. Era meu
trabalho como diretor traduzir e editar seus pensamentos em algo
profundo e cinematográfico. Às vezes eu tinha que empurrá-lo para
condensar uma história que levou quase uma hora em apenas alguns
minutos. Quase não há uma cena no filme que não tenha sido filmada pelo
menos cinco vezes, até que nós tivéssemos aquilo exatamente certo.
Quando Dieter começava a se afastar dos detalhes cruciais da história,
eu o parava e pedia que ficasse nos pontos absolutamente essenciais</i>”. <span style="font-size: xx-small;">15</span><br /><br />O crítico norte-americano de cinema Roger Ebert (1942–2013), sempre favorável ao alemão, toma partido: “<i>Herzog
vê a sua missão como um cineasta não para se transformar em uma máquina
de gravação, mas para ser um colaborador. Ele não fica simplesmente de
pé e observa, mas organiza, ajusta e sutilmente melhora, de modo que o
filme toma os materiais da aventura de Dengler e transforma em uma coisa
nova</i>”. <span style="font-size: xx-small;">16</span><br /><br />O
mesmo crítico também cita o diretor para explicar sobre o excesso de
interferência na narrativa do protagonista: “Você conhece uma pessoa que
tem uma história incrível para contar, e você raramente tem tempo para
ouvi-la, ou a atenção para apreciá-la. <span style="font-size: xx-small;">17</span>
(...) Que homem assombroso!, nós pensamos. Mas, se fôssemos sentados ao
lado dele em um avião, poderíamos lhe dizer que nós tínhamos visto o
filme dele, e fazer um comentário polido sobre isso, e voltar para nossa
revista. É preciso arte para transformar a experiência de outra pessoa
em nossa própria”. 18<br /><br />O diretor ascrescenta: “<i>Ele exalava
tanta sanidade que não era um problema para ele andar pela selva com as
mãos amarradas atrás das costas sendo conduzido por um casal de caras
com armas que contratávamos da aldeia mais próxima. </i>"Isso é um pouco perto de casa", <i>dizia ele, mas era apenas uma maneira relativamente segura de conseguir algo extraordinário dele</i>”. <span style="font-size: xx-small;">19</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-9anjR5vI3OE/WQ1IGSTxrAI/AAAAAAAAkKs/YWXKoez4uzc-HN5PSzTBkFSqLSeDDYtqQCEw/s1600/Little%2BDieter%2B3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="172" src="https://2.bp.blogspot.com/-9anjR5vI3OE/WQ1IGSTxrAI/AAAAAAAAkKs/YWXKoez4uzc-HN5PSzTBkFSqLSeDDYtqQCEw/s320/Little%2BDieter%2B3.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span class="st"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Dvořák</span></span> </span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Depois de tantas citações, críticas, ataques e defesas, vem a fatídica pergunta: o filme é bom? E eu digo que: ainda não sei exatamente. Tudo o que foi dito aqui, nas palavras dos estudiosos e do próprio diretor, é, em alguma medida, verdade. O filme é mais convencional do que o esperado; a tentativa de evitar as questões básicas da guerra pode incomodar algumas pessoas; a justificativa de Dieter para voar num avião de guerra rumo ao Laos não convence; um trecho divertido, o do vídeo de treinamento para soldados na selva, aparece meio deslocado na narrativa; a despeito de haver muitos relatos do próprio Dieter, muita coisa parece (e é, como veremos) coisa inventada por Herzog, assim como as narrações em off. O resultado final surge meio indefinido, ainda mais pra mim, que vi a versão cinebiográfica antes desses documentário – falarei dela quando chegar o momento nesta maratona, mas me agradou mais do que <i>Little Dieter Needs To Fly</i>. <br /><br />As cenas (que deveriam ser) mais impactantes, como o fato de Dieter diz ter mania de ficar abrindo e fechando portas, como sinal de liberdade (aparece inclusive um monte de quadros de portas em sua sala), ou a sensação de morte iminente ser como uma água-viva flutuando lenta e silenciosamente num vazio escuro, aparecem muito obviamente como representações do diretor para coisas que o protagonista teria dito ou sentido.<br /><br />A estudiosa norte-americana de cultura alemã Brigitte Peucker nota outro problema: “<i>Quando o filme recorre à autoridade de fotografias para autenticar eventos e pessoas, sua qualidade extática e sensação de atemporalidade tornam a narrativa menos viva. Juntamente com a filmagem de arquivo, as fotografias servem como ‘garantias’ do documentário</i>”. <span style="font-size: xx-small;">20</span><br /><br />Herzog, mais uma vez, se explica: “<i>Embora seja verdade que ele tinha alucinações quando estava perto da morte por fome na selva, é claro que Dieter nunca teve qualquer intenção de realmente fazer uma tatuagem. A coisa toda foi idéia minha. Então nós cortamos para ele dirigindo nas colinas do norte da Califórnia e o vimos sair de seu carro, abrindo e fechando a porta do carro e depois entrando em sua casa. Dieter abre e fecha repetidamente a porta da frente, uma cena que criei a partir do que me tinha mencionado casualmente, que, depois de suas experiências na selva, ele realmente apreciava a sensação de ser capaz de abrir uma porta sempre que quisesse. É uma cena também provocada pelas imagens de portas abertas que vemos dentro de sua casa, que eram eram realmente dele, algo que ele também fala em sua autobiografia</i>”. <span style="font-size: xx-small;">21</span><br /><br />Roger Ebert reforça: “<i>A imagem da água-viva, por exemplo – </i>‘essa foi a minha ideia’ </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">–</span>, disse Herzog, da mesma forma que a abertura e fechamento das portas, embora não a imagem do urso</i> [que o estaria seguindo na mata durante a fuga]". <span style="font-size: xx-small;">22</span><br /><br />Enfim, acho que é melhor você procurar a versão para televisão, que tem metade do tempo da versão para cinema; deve deixar a coisa toda mais sucinta e impactante. Apesar de todos os problemas e de todas as polêmicas, a película tem momentos muito bonitos, como Dieter refletindo de forma, mais digamos, humana, sobre seus companheiros de fuga mortos, ou a decisiva travessia de um rio, que seria crucial para a fuga. Nesses momentos, é impossível não ficar emotivo com os curtos excertos de </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=uCydQm83cJQ"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Dvořák</span></a>, que surgem cheios de melancolia.<br /><br />No mais, temos algumas marcas registradas que são praxe nos filmes do alemão: personagem solitário, natureza implacável, destino cheio de desventuras, mitas tomadas aéreas e toda essa reconstrução dos fatos em ideias que sirvam, na opinião do diretor, melhor à narrativa. Vale a pena conferir e tirar suas próprias conclusões. <br /><br /><br /><br /><b>Curiosidades</b>:<br /><br />– a epígrafe do filme – “<i>E naqueles dias os homens buscarão a morte, e não a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles</i>” – é a mesma de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2017/01/1992-lektionen-in-finsternis.html"><i>Lektionen In Finsternis</i></a> (<i>Apocalipse</i> 9:6);<br /><br />– Dieter Dengler ficou conhecido pelo grande público primeiramente com seu relato autobiográfico <i>Escape From Laos</i>, de 1979;<br /><br />– Herzog afirma que existiu desde o início a intenção de filmar as duas formas da mesma história (documentário e cinebiografia), mas só obteve financiamento para o segundo filme (que seria <i>Rescue Dawn,</i> de 2007, com Christian Bale) anos mais tarde; <br /><br />– a versão em DVD inclui um epílogo que conta a morte de Dieter Dengler por esclerose lateral amiotrófica em fevereiro de 2001 e mostra imagens de seu enterro no Arlington National Cemetary, o mais tradicional cemitério militar dos EUA.<br /><br /><br /><span style="font-size: x-small;">1 2 3 10 15 19 21 HERZOG, Werner. In.: <i>Herzog On Herzog</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.<br />4 5 12 13 14 PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.<br />6 7 <a href="https://www.theguardian.com/film/2007/nov/02/dvdreviews.worldcinema2">https://www.theguardian.com/film/2007/nov/02/dvdreviews.worldcinema2</a><br />8 PAGANELLI, Grazia. <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.<br />9 <a href="http://www.nytimes.com/movie/review?res=9802E6DE1F3AF93BA35757C0A96E958260">http://www.nytimes.com/movie/review?res=9802E6DE1F3AF93BA35757C0A96E958260</a><br />11 GERHARDT, Christina. <i>The Allied Air Bombing Campaign Of Germany In Herzog’s</i> Little Dieter Needs To Fly. In.: <i>Bombs Away!: Representing The Air War Over Europe And Japan</i>. Brill Online, 2006.<br />16 17 18 22 <a href="http://www.rogerebert.com/reviews/little-dieter-needs-to-fly-1998">http://www.rogerebert.com/reviews/little-dieter-needs-to-fly-1998</a><br />20 PEUCKER. Brigitte. <i>Herzog And Auteurism: Performing Authenticity</i>. In.: <i>A Companion To Werner Herzog</i>, de Brad Prager. Wiley-Blackwell, 2012.</span></span></div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-6733365902443824012017-03-30T22:31:00.001-03:002017-03-31T11:39:55.757-03:00(1995) Gesualdo: Tod Für Fünf Stimmen<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (rodado na Itália) | 60min | super 16 mm |cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Lucki Stipetić</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Ekkehart Baumung </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Rainer Standke</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Peter Zeitlinger</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: excertos de Carlo Gesualdo e Richard Wagner</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Pasquale D’Onofrio, Salvatore Catorano, Angelo Carrabs, Milva, Angelo Michele Torrielo, Raffaele Virocolo, Vincenzo Giusto, Giovanni Iudica, Walter Beloch, Píncipe D’’Avalos, Antonio Massa, Alan Curtis, Gennaro Miccio, Silvano Milli, Marisa Milli, Gerald Piace, Alberto Lanini, Complesso Barocco, Gesualdo Consort of London</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><br />“<i>Acho que de todos os meus ‘documentários’, </i>Tod Für Fünf Stimmen <i>é o que realmente sai do controle, e é um dos meus filmes do coração.</i>” <span style="font-size: xx-small;">1</span></span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Feito
para a tevê alemã, este média-metragem (“Gesualdo: Morte Para Cinco
Vozes”) é sobre o controverso compositor clássico italiano Carlo
Gesualdo (1566–1613), compositor renascentista tardio de belos madrigais <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">[</span>estudiosos afirmam que ele já preconizava coisas que o romântico
alemão Richard Wagner (1813–1883) só desenvolveria dois séculos depois<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">]</span>,
nobre (príncipe de Venosa, ao norte do país) e infame por ter
assassinado brutalmente sua esposa e o amante dela.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Herzog explica a importância da obra de Gesualdo: "<i>Os outros livros estão mais no contexto de seu tempo, mas com seu </i>Sexto Livro de Madrigais, <i>de
repente Gesualdo parece passar 400 anos à frente de seu tempo, compondo
música que ouviríamos apenas de Stravinski em diante. Há segmentos em </i>Tod Für Fünf Stimmen <i>em
que ouvimos cada uma das cinco vozes de um madrigal individualmente.
Cada voz individual soa perfeitamente normal, mas na combinação a música
soa muito à frente do tempo, mesmo de nosso próprio tempo</i>”. <span style="font-size: xx-small;">2</span></span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /> </span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-FYQn0RnWZcU/WN2tSIPO4aI/AAAAAAAAhdA/iVyAcxcSO3kYt71aBiaENkelXjvyM7_gACEw/s1600/13298_1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-FYQn0RnWZcU/WN2tSIPO4aI/AAAAAAAAhdA/iVyAcxcSO3kYt71aBiaENkelXjvyM7_gACEw/s320/13298_1.jpg" width="319" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Gesualdo, o real (?)</span></span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Se
ter como delimitar onde residem em Gesualdo o nobre, o compositor e o
assassino (ou sem ter esse interesse), Herzog estrutura o filme em duas
linhas que se intercalam: uma com dois diretores de coral comentando
sobre a importância dos madrigais e de outras peças sacras de Gesualdo e
dirigindo eles mesmos performances de algumas dessas obras, e outra com
atores e moradores locais encenando histórias e lendas em torno dos
crimes e do fim de sua vida.</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O que liga essas duas vertentes do filme<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">(as tais <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"vozes" do título)</span></span></span>
é a premissa, adotada por Herzog, de que Gesualdo se torturou, física e
emocionalmente, em expiação pelo que tinha feito, e que isso se reflete
na parte final de sua obra, o <i>Sexto Livro de Madrigais</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>O
que eu queria aqui era trabalhar com o fato de que nos últimos anos de
sua vida Gesualdo estava basicamente louco; ele realmente perdeu a
cabeça. Ele, sozinho, cortou toda a floresta ao redor de seu castelo e
contratou jovens que tinham a tarefa de flagelá-lo todos os dias, algo
que lhe causava feridas, e, aparentemente, o matou”, explica o alemão</i>. <span style="font-size: xx-small;">3</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A partir disso, o filme não apresenta simplesmente a lenda por meio de uma variedade de vozes – "H<i>erzog aborda seu assunto por meio de imagens fragmentárias, de modo a abrir um espaço para pensamento e imaginação independentes</i>" <span style="font-size: xx-small;">4</span>,
como diz o estudioso inglês de música Holly Rogers –, mas também toma a
liberdade de misturar fatos, especulações, lendas e até mesmo
fabulações próprias. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Como ele mesmo afirma, fiel aos próprios preceitos de ‘verdade extática’ e confusão proposital entre ficção e realidade: “<i>A
maioria das histórias do filme são completamente inventadas e
encenadas; contudo, contêm as mais profundas verdades possíveis sobre
Gesualdo</i>”. <span style="font-size: xx-small;">5</span> (...) “<i>Não interessa o que é
inventado no filme porque a sua biografia é profundamente compreendida e
creio que essa é a forma como devemos compreender a vida de Gesualdo</i>”. <span style="font-size: xx-small;">6</span> (...) “<i>Esse filme é bastante selvagem, tal como </i>The Wild Blue Yonder<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> <i>(2005)</i></span><i>. Em </i>Gesualdo, <i>muitos
dos pormenores se baseiam me fatos históricos, mas muitas situações no
filme são pura fantasia. Nunca farei um filme que explique o mundo de
Gesualdo melhor do que esse. E é a verdade pura sobre Gesualdo, mesmo
que muitas coisas fossem franca invenção</i>”. <span style="font-size: xx-small;">7</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-e4bToSu0cNM/WN2tSFHimwI/AAAAAAAAhdA/OhCVzjkaHtEAM8wss8q8VeuQ90dWfAbvgCEw/s1600/564269991_1280x720.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="291" src="https://1.bp.blogspot.com/-e4bToSu0cNM/WN2tSFHimwI/AAAAAAAAhdA/OhCVzjkaHtEAM8wss8q8VeuQ90dWfAbvgCEw/s320/564269991_1280x720.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: x-small;">Encenações</span></td></tr>
</tbody></table>
<div align="justify">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas, a despeito de tudo isso que o diretor acha sobre o filme, não gostei nem um pouco do resultado final. As partes em que são executados trechos dos madrigais são muito bonitas, porém, as explicações sobre a obra de Gesualdo não é muito aprofundada, não dá para entender na prática porque ele foi/é considerado tão genial; e a parte encenada, sinceramente, eu achei ridícula e desnecessária. As atuações são propositalmente exageradas em sua dramaticidade, o que deixa as histórias (reais e imaginárias) escabrosas sobre os crimes (e toda a loucura que os sucederam) sem muito impacto. </span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Holly Rogers afirma que “<i>Como </i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html">Fitzcarraldo</a><i>, Gesualdo é um protagonista impulsionado igualmente por música e mania</i>”. <span style="font-size: xx-small;">8</span> Perfeito. Justamente por isso que esse interesse deveria ter levado a algo melhor do que um programa para a televisão que termina nos deixando a sensação de ter visto um SBT Repórter ou algo igualmente tosco. Sinceramente? Passe longe de <i>Gesualdo: Tod Für Fünf Stimmen</i>; deve haver d<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o</span>c<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">u</span>mentário melhor internet afora, caso alguém tenha se interessado pela história.</span><br />
<br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Curiosidades</b>:</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– Herzog conta que, quando ouviu os madrigais de Gesualdo pela primeira vez, ficou tão impressionado com a “grande revelação” que ligou “<i>aos gritos, fora de si</i>” <span style="font-size: xx-small;">9</span> para Florian Ficke (seu colaborador musical de longa data): “<i>Era quase como se estivesse descoberto um continente novo... fui abalado até o mais profundo da minha existência com esse ‘encontro</i>’”;<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> <span style="font-size: xx-small;">10</span></span></span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– Herzog tem em casa um quadro de Gesualdo ajoelhado, oferecido pela Fundação que leva seu nome, e que seria a única vez em que uma pintura o retratou;</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– a história de que Gesualdo teria matado seu filho de dois anos por suspeitar de sua paternidade foi uma das coisas ‘meio que’ inventadas por Herzog, como ele mesmo explica: “<i>Há uma alusão, em alguns dos documentos existentes, a ele matando seu filho pequeno, mas nenhuma prova absoluta</i>"; <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: xx-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">11</span></span> </span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– entre as pessoas que encenam momentos que pertenceriam à vida torturada de Gesualdo, temos a cantora pop e atriz italiana Milva (1939–);</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– Gesualdo aparece como personagem de obras dos escritores Aldous Huxley (1894–1963), Anatole France (1844–1924) e Juio Cortázar (1914–1984) e dos compositores Franz Hummel (1939–), Alfred Schnittke (1934–1998) e Ígor Stravinski (1882–1971) – que também fez diversas peregrinações a seu castelo;</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– entre <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2017/03/1993-glocken-aus-der-tiefe.html"><i>Glocken Aus Der Tiefe</i></a> e <i>Gesualdo: Tod Für Fünf Stimmen</i>, Herzog realizou, para a televisão alemã, <i>Die Verwandlung Der Welt In Musik</i> (“A transformação do Mundo em Música”) sobre o renomado festival de música dedicado a Richard Wagner na cidade de Bayreuth (leste alemão).</span>
</div>
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><span style="font-size: xx-small;">1 2 3 5 9 10 11</span> <span style="font-size: x-small;">HERZOG, Werner. In.: <i>Herzog On Herzog</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.</span><br /><span style="font-size: xx-small;">6 7</span> <span style="font-size: x-small;">HERZOG, Werner. In.: <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008), de Grazia Paganelli. Editora Indie Lisboa, 2009.</span><span style="font-size: xx-small;"><br />4 8</span> <span style="font-size: x-small;">ROGERS, Holly. <i>Death For Five Voices: Gesualdo’s “Poetic Truth”</i>. In.: <i>A Companion To Werner Herzog</i>, de Brad Prager. Wiley-Blackwell, 2012.</span></span>Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-12330482406782695732017-03-23T13:08:00.000-03:002017-03-23T13:08:10.102-03:00(1993) Glocken Aus Der Tiefe<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (rodado na Rússia) | 60min | super 16 mm |cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Lucki Stipetić</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Vyacheslav Belozerov </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Rainer Standke</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Jörg Schmidt-Reitwein</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: coros da Academia Espitirual de São Petesburgo, do Mosteiro de Zagorsk e do Pühtica Dormition Convent</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Werner Herzog (narração em off)<br /></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>Reagimos com muito mais fervor e paixão à poesia do que à mera reportagem televisiva</i>”. <span style="font-size: xx-small;">1</span> (...) “<i>Sabemos
há muito tempo que o poeta é capaz de articular uma coisa profunda,
inerente e misteriosa melhor do que qualquer outra pessoa. Mas, por
algum motivo cineastas - especialmente aqueles que lidam com a verdade
do contador - não têm conhecimento disso, enquanto continuam a negociar
os seus produtos desatualizados</i>”. <span style="font-size: xx-small;">2</span></span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Glocken Aus Der Tiefe</i> (‘Sinos das Profundezas’ em alemão, traduzido comercialmente em português como ‘Sinos do Abismo’), com o explicativo subtítulo <i>Glaube Und Aberglaube In Russland</i>
(‘Fé e Superstição na Rússia’), é um média-metragem sobre diversas
expressões religiosas – muitas bem idiossincráticas, como só poderiam
ser – nas populações russas, especialmente nas bucólicas paragens da
Sibéria após a queda do comunismo, em que as manifestações religiosas
eram fortemente reprimidas.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Como
em outros médias de Herzog, não há a preocupação de contar uma história
com início, meio e fim, ou mesmo provar alguma teoria: é mais uma
polaroide (com o devido tratamento extático do diretor) de algo peculiar
que o diretor resolveu expor na tela. No caso, o diretor achou que
aquela face mística do povo russo seria uma característica digna de
apresentação (e representação), uma conexão ao mesmo tempo com a terra e
com o céu.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O diretor não faz nenhum juízo de valor sobre o que mostra na tela; <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">c</span>omo bem aponta o estudioso norte-americano de cinema Brad Prager: “<i>Com
a exceção à referência a superstição em seu [sub]título, de qualquer
forma, Herzog nem uma única vez indica que seu ‘approach’ é cínico</i>.” <span style="font-size: xx-small;">3</span></span></div>
<br /><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-UCPquaohiOE/WNPrC0qPqfI/AAAAAAAAgo8/3y-a0bJ7K7EF5V5gskMvHOS6dr_N42-WwCEw/s1600/Bells-From-the-Deep-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://3.bp.blogspot.com/-UCPquaohiOE/WNPrC0qPqfI/AAAAAAAAgo8/3y-a0bJ7K7EF5V5gskMvHOS6dr_N42-WwCEw/s320/Bells-From-the-Deep-2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Verdade fria & extática</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Assim,
após a impactante primeira cena, com senhores rastejando no meio de um
lago congelado, somos apresentados, em curtos capítulos, a diversas
crenças – algumas bem estranhas para nós, outras nem tanto –, como um
exorcismo tipicamente neopentecostal, um Inri Cristo russo, um batismo
ortodoxo um tanto violento, um pregador de ‘energia cósmica’, um casal
de velhos que fica andando de joelhos em meio à taiga, um solitário e
virtuoso tocado de sinos de igreja e um (irritante) casal de cantores
mongóis, entre outros.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Até
que, no final, retornamos ao tema inicial, o lago congelado, com
belíssima lenda da cidade de Kitezh, que teria lugar em Nizhny Novgorod,
na Rússia Central: sistematicamente invadida e pilhada por tártaros e
mongóis, seus habitantes pediram que Deus a protegesse, no que ele
mandou um arcanjo que mudou a cidade para o fundo de um lago [Lago
Svetloyar], onde os moradores pudessem encontrar finalmente a paz,
entoando hinos e tocando os sinos das igrejas por toda a eternidade.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">É
uma belíssima história, sem dúvida [aparentemente é popular no país], e
acho inclusive que devia, se não englobar todo o média-metragem, ao
menos ter mais espaço na projeção.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">De
qualquer forma, o filme termina com a confluência de todas as
narrativas para esse lago congelado, onde novamente pessoas rastejam a
fim de ouvir, através do gelo, os cânticos e sinos da cidade sagrada.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A
despeito de a verdade extática de Herzog trabalhar fortemente aqui,
como você verá a seguir – e embora esse tipo de falseamento em prol da
narrativa seja uma das bases de sua obra, isso aqui pode incomodar um
pouco por ser uma anedota conhecida e muito explícita em cena –, é uma
história muito bonita, e mesmo sabendo da encenação, o final continua
bonito e impactante; nas palavras do diretor:</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>Durante o verão, peregrinos rastejam de quatro em volta do lago, fazendo suas preces.<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>Eu
também estava lá, no início do inverno, porque queria cenas deles
olhando através do gelo, tentando obter um vislumbre da cidade perdida.
Infelizmente não havia ninguém ao redor, então contratei dois bêbados da
cidade vizinha e lhes pedi para bancar os peregrinos. Um deles está com
a cara no gelo e parece que ele está em profunda meditação. A verdade:
adormeceu profundamente</i>". <span style="font-size: xx-small;">4</span> (...) "<i>A cena
dos bêbados que procuram cidades representa de alguma forma a Rússia; o
país inteiro está secretamente à procura da Cidade Perdida de Kitezh.
Russos que viram </i>Glocken Aus Der Tiefe<i> consideram essa seq<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">u</span>ência
o melhor no filme. Compreendem a devota paixão e o fervor religioso de
pessoas que olham tão atentamente para baixo, com uma concentração
inabalável, para as profundezas abaixo</i>”. <span style="font-size: xx-small;">5</span></span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">É
uma visão ao mesmo tempo crua, sem julgamentos, e sensível, sobre um
tema que, incomumente na obra do alemão, traz harmonia entre as
aspirações de transcender a própria impermanência e a rudeza silenciosa e
indiferente da natureza hostil e imutável em sua essência: mãos ao céu,
corpos ao chão, ligações corporais e espirituais com o corpóreo e o
imaterial, entre a fé e a superstição (o que as difere?). Werner Herzog
nunca fora tão harmonioso em suas manifestações cinematográficas.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O próprio diretor explica: “<i>O
cinema-verdade pode capturar apenas a superfície da verdade; e há ainda
no cinema um estrato mais profundo de verdade que eu tenho tentado em
toda a minha vida de trabalho alcançar. Essa profunda verdade interna
inerente ao cinema às vezes pode ser descoberta simplesmente por não ser
burocraticamente, politicamente e matematicamente correta. Em outras
palavras, eu começo a inventar. Por meio da invenção, por meio da
imaginação, por meio da fabricação, me tornei mais verdadeiro que os
pequenos burocratas</i>”. <span style="font-size: xx-small;">6</span></span><br />
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-HNfeu8ij5_w/WNPrCmaX-RI/AAAAAAAAgo0/hkuVWjhX2P8sf33J2afqjGY8tvaVnhOugCEw/s1600/1219889555_1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="245" src="https://3.bp.blogspot.com/-HNfeu8ij5_w/WNPrCmaX-RI/AAAAAAAAgo0/hkuVWjhX2P8sf33J2afqjGY8tvaVnhOugCEw/s320/1219889555_1.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">Inri Cristo</span></td></tr>
</tbody></table>
<div align="justify">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Nos créditos finais, uma cena de patinadores naquele mesmo gelo que abrigaria a cidade sagrada parece nos dizer para não levar tudo aquilo a sério, no sentido de ser um documentário ordinário antropológico sobre a raiz das superstições/crenças do povo russo em meio à taiga. É apenas um mosaico poético, e por que não?, bizarro, como o diretor bem curte, de histórias incomuns, que me<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">recem</span> ser contadas/encenadas. Ou, talvez, essa sequência represente a vida comum, mundana, que tantos levem, enquanto esses segredos místicos imemoriais residam acima e abaixo deles.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Como diz a estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli: “<i>A cena foi encenada, mas claro que não interessa. Esses momentos são tão extraordinários que os temos que encenar de forma a atingir uma verdade extática e profunda</i>”. <span style="font-size: xx-small;">7</span> </span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Herzog, evidentemente, concorda: “<i>O engraçado é que os russos que viram o filme adoram esse momento. Penso que, de certa maneira, a alma russa tem sua melhor explicação nessa lenda da cidade afundada. A parte difícil foi descrever a alma russa em um filme que só dura 52 minutos</i>”. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: xx-small;">8</span></span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Para além da bonita lenda e dos intrigantes personagens e costumes que surgem diante de nós nas paisagens frias da taiga, o especialista norte-americano em cinema alemão Eric Ames conclui: “<i>Embora pouco conhecido, </i>Glocken Aus Der Tiefe <i>oferece um dos melhores exemplos da abordagem de Herzog para o documentário, especialmente o seu uso de diálogo com scripts, detalhes fabricados e sequências encenadas. Nenhum desses dispositivos está marcado dentro do filme. É somente por causa do desempenho do diretor em locais extrafilmicos, tais como entrevistas, que nós sabemos de seu uso</i>”. <span style="font-size: xx-small;">9</span> (...) “<i>De certa forma, a espiritualidade é a base de ensaio definitiva para a noção de verdade de Herzog no cinema documental</i>”. <span style="font-size: xx-small;">10</span></span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em resumo, um belo filme, simples e, de certa forma, despretensioso; vale a pena reservar uma hora do seu dia para vê-lo, seja você fã de Werner Herzog, misticismo russo ou costumes siberianos.</span><br />
</div>
<br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Curiosidades:</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– segundo o director, a chave para <i>Glocken Aus Der Tiefe</i> foi Viktor Danilov, um tradutor/intérprete que ele conheceu enquanto fazia uma ponta no longa germano-soviético <i>Hard To Be A God</i>, de Peter Fleischmann (1937–), e que o ajudou não só com os diálogos, mas também com o que seria extraído de cada entrevistado de seu filme; </span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– <i>Glocken Aus Der Tiefe</i> faz parte de uma série de seis filmes sobre a Rússia, feitos por diferentes diretores [os demais são Una WertmUller, Jean-Luc Godard, Peter Bogdanovich, Nobuhiko Ohbayashi e Ken Russel];</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– o filme nem começa na Rússia, mas numa república autônoma da Mongólia, e o senhor não está cantando nada religioso, mas apenas uma canção folclórica sobre a beleza das montanhas; </span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– os demais peregrinos no gelo na sequência inicial/final, são, na verdade, pescadores;</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– um dos corais de fundo, o formado por vozes de crianças, está, na verdade, entoando uma canção de amor;</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– o ‘Inri Cristo Siberiano’, Sergey Anatolyevitch Torop, tornar-se-ia bastante conhecido na Rússia como líder religioso, adotando o nome Vissarion.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><br /><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: xx-small;">1 2</span> HERZOG, Werner. In.:<i> Ferocious Reality - Documentary According To Werner Herzog</i>, de Eric Ames. University Of Minnesota Press, 2012.<br /><span style="font-size: xx-small;">3</span> HERZOG, Werner. In.: PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.<br /><span style="font-size: xx-small;">4 5 </span>HERZOG, Werner. In.: <i>Werner Herzog: A Guide For The Perplexed</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2014.<br /><span style="font-size: xx-small;">6</span> <a href="http://parnassusreview.com/archives/388">http://parnassusreview.com/archives/388</a><br /><span style="font-size: xx-small;">7</span> PAGANELLI, Grazia. <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.<br /><span style="font-size: xx-small;">8</span> HERZOG, Werner. In.: <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008), de Grazia Paganelli. Editora Indie Lisboa, 2009.<br /><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">9 10</span> AMES, Eric. </span></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><i>Ferocious Reality - Documentary According To Werner Herzog</i>. University Of Minnesota Press, 2012.</span></span></span></span></span>Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-21536389595727502762017-01-22T22:52:00.001-02:002019-09-12T19:53:48.374-03:00(1992) Lektionen In Finsternis<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (rodado no Kuwait) | 52min | super 16 mm |cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Lucki Stipetić</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: John G. Person </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Rainer Standke</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Paul Berriff</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: excertos de Richard Wagner, Edvard Grieg, Serguei Prokofieff, Arvo Part, Giuseppe Verdi, Franz Schubert e Gustav Mahler</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Werner Herzog (narração em off)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>Uma visão apocalíptica com os poços de petróleo em chamas no Kuwait após a Guerra do Golfo, como um mundo inteiro ardendo em chamas. Este filme é estilizado como ficção científica, uma vez que não há uma única cena em que você possa reconhecer nosso planeta</i>.” ¹</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não é exagero pensar em <i>Lektionen In Finsternis</i> (Lições Da Escuridão) como filme-irmão de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/10/1970-fata-morgana.html"><i>Fata Morgana</i></a>, ou como intui a estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli, parte de uma trilogia que também inclui <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com/2019/09/2005-wild-blue-yonder.html" target="_blank"><i>The Wild Blue Yonder</i></a>, que “<i>tornam-se etapas sucessivas de um projeto sobre a ficção científica, perseguindo a ideia do olhar alienígena que nos oferece elementos impensáveis e momentos de reflexão sobre a criação, sobre a vida e sobre a morte</i>”. ²</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Enquanto em <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/10/1970-fata-morgana.html"><i>Fata Morgana</i></a> viajávamos Saara adentro, contemplativamente, vislumbrando paragens de solidão, ruína, e silêncio sob a narração de trechos do Popol Vuh, aqui, com o diretor narrando trechos apocalípticos inspirados na Bíblia, nos faz mergulhar em um Deserto da Arábia transformado no puro Inferno. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O estudioso norte-americano de cinema Brad Prager situa melhor o filme: “<i>Dito de modo mais claro, é um planeta do sistema solar herzogiano, completo, com montanha e névoa, que surgem logo no começo, como a cortina metafórica que já vimos em tantos trabalhos anteriores dele</i>”. ³<br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-RI4e3jc3bOQ/WIVQxqvQRlI/AAAAAAAAaes/T5rc0jehT7AqBr5AnLRBNBCQoN0bTDI4QCEw/s1600/6925182687_52ab187a5a_b.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="182" src="https://4.bp.blogspot.com/-RI4e3jc3bOQ/WIVQxqvQRlI/AAAAAAAAaes/T5rc0jehT7AqBr5AnLRBNBCQoN0bTDI4QCEw/s320/6925182687_52ab187a5a_b.jpg" width="320" /></a></span></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">planeta estranho</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Uma grande vantagem do filme é que, ao contrário de outras tentativas (malogradas) de politizar seu cinema, como em <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/01/1984-ballade-vom-kleinen-soldaten.html"><i>Ballade Vom Kleinen Soldaten</i></a> e <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/05/1984-wo-die-grunen-ameisen-traumen.html"><i>Wo Die Grünen Ameisen Träumen</i></a>, essa opção por não contextualizar os acontecimentos, e mais, ressignificá-los por meio da narração, faz com que, nas palavras do estudioso alemão de cinema Eric Ames, “<i>só a imaginação nos permita testemunhar o que aconteceu com os outros em outro tempo e lugar. Com a paisagem, então, o filme de Herzog apela para a imaginação como uma força contrária ao senso de testemunho que os canais de notícias prometeram, mas falharam em proporcionar</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em uma guerra, assim como em qualquer evento traumático ao qual só tenhamos acesso via imprensa, sempre haverá inúmeros graus de distorção, naturais da mídia ou impostas pelos poderes que a comandam/influenciam, até que a mensagem chegue até nós. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Brad Prager nota que “<i>o ritmo do filme é lento, e talvez dessa forma ele encene uma crítica sobre como as guerras têm sido transmitidas na tevê a cabo</i>”. <span style="font-size: xx-small;">5</span> Quem tem idade para lembrar da Primeira Guerra do Golfo sabe que a transmissão imposta pelo governo norte-americano mostrava uma guerra sanitizada, cirúrgica, de videogame, em que tudo era visto de longe, infravermelho, sem aparentes danos, feridos ou mortos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Nisso, a a força bruta das imagens em-si do filme se mostram mais impactantes de entremeadas de horrores belicistas do que qualquer transmissão da CNN à época. Você sequer precisa lembrar desse conflito ou ler sobre ele para se sentir dentro das chamas infernais, em um espetáculo flamejante sob trilha de música clássica que lembra, em muitos momentos, as cenas mais catárticas e surreais de <i>Apocalypse Now</i> (1979), de Coppola (fã de Herzog, aliás, como dito <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/11/1972-aguirre-der-zorn-gottes.html">aqui</a>).<br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-tbl6wTtp4Dw/WIVQxlYAxII/AAAAAAAAaes/M2DyCKK5mgUdidJTbWMZlmDd4PqjchXGQCEw/s1600/6779140740_15aa3715d7_b.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="182" src="https://1.bp.blogspot.com/-tbl6wTtp4Dw/WIVQxlYAxII/AAAAAAAAaes/M2DyCKK5mgUdidJTbWMZlmDd4PqjchXGQCEw/s320/6779140740_15aa3715d7_b.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">desolação</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Os primeiros minutos, um sobrevoo sobre as planícies desoladas do Kuwait, são mais ‘tranquilos’, lembrando um <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/10/1970-fata-morgana.html"><i>Fata Morgana</i></a> mais depressivo, dado o peso da trilha sonora clássica. Logo, porém, uma mulher cujos filhos foram mortos na sua frente, o que a fez perder a voz, tenta se comunicar. Então, mais passagens arruinadas cheias de tristeza e pesar. A escuridão, no caso o óleo negro, permeia e cobre tudo. E então, sob a narração apocalíptica de Herzog, surgem os tais poços flamejantes. E outro depoimento de mãe de família, cujo filho pequeno, após uma rude e violenta abordagem do exército americano, deixou de falar, dado o trauma. A seguir, ao fim do mundo, de tantos mundos, ferve no inferno do petróleo incinerando, ruidoso, enquanto os bombeiros trabalham para extingui-lo. Na sequência, paisagens cobertas de óleo, sob trilha erudita inclemente e tristonha. E vem o capítulo seguinte, talvez o mais impressionante, com o petróleo fervente, borbulhante, crepitante, escorrendo viscoso feito lava de um vulcão. Segue-se o trabalho de operários em meio àquele inferno, em uma surpreendente trilha menos desoladola. E, por fim, uma sequência de imagens que, de certa forma,faz um apanhado de toda a projeção. Um fim sem qualquer redenção.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Como analisa Grazia Paganelli: “<i>Como ver o mundo pela primeira vez, diria Herzog, mas de um olho completamente desabituado aos nossos sinais e aos modos de pensar do nosso olhar, um pouco daquilo que aconteceu a Kaspar Hauser, mas amplificado e teorizado até as consequências mais extremas. Nasce deste sentimento das imagens o pensamento de um filme de ficção científica, (...) o olhar puro de nós a vir nos olhar para nos contar que coisas vê e como. (...) São alusões, por vezes dolorosas, por vezes cheias de ironia, em filmes que, da observação transfigurada de uma realidade física e objetiva, arriscam inventar uma narrativa capaz de aludir a realidades, pelo contrário, imaginárias</i>”. <span style="font-size: xx-small;">6<br /><br /><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Aqui temos Werner Herzog</span> fazendo o que sabe fazer melhor: verdade extática em estado puro<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, uma experiência sensorial cheia de for<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ça e tristeza, o retrato de toda uma existência coletiva que não deu certo, diante de uma natureza em ruínas, mas ainda inclemente. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ouso dizer que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">é</span> seu melhor</span></span></span> filme desde <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html"><i>Fitzcarraldo</i></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>:</i> após uma década errática, em que o diretor buscou novos rumos para seu trabalho, já mais imerso no mainstream, e nem sempre fo<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">i muit<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o</span> feliz</span></span>, aqui ele retoma a grande forma.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas, enfim, a melhor definição deste filme é dada por Paul Cronin: “<i>ao contrário de </i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/06/1977-la-soufriere.html">La Soufrière</a><i>, que tenta documentar uma catástrofe natural, </i>Lektionen In Finsternis <i>é um réquiem para um planeta que nós mesmos destruímos</i>”. <br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-e1yluSTckpU/WIVQxUHXhQI/AAAAAAAAaes/bfAKhi_hMC0zTXZONxJ9QkyWR17sRVLaACEw/s1600/wernerherzoglektionenin.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="182" src="https://4.bp.blogspot.com/-e1yluSTckpU/WIVQxUHXhQI/AAAAAAAAaes/bfAKhi_hMC0zTXZONxJ9QkyWR17sRVLaACEw/s320/wernerherzoglektionenin.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">puro inferno</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Curiosidades</b>: </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– a citação que abre o filme, creditada a ao filósofo e matemático francês Blaise Pascal (1623–1662), pra variar, é de autoriza do próprio Herzog: “<i>É inventado, mas não é falsificação. É uma possibilidade de um momento de iluminação antes do filme</i>”. <span style="font-size: xx-small;">7</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– apesar de ser bem recebido na Inglaterra e nos Estados Unidos, o filme sofreu muitas críticas na Alemanha à época, que acusaram o diretor de estetizar o horror da guerra, ao não identificar claramente o Kuwait e sua situação, ou de se posicionar claramente contra a guerra: “<i>Eles disseram que o filme era perigosamente autoritário, então eu decidi ser autoritário no meu melhor. Eu estava diante deles e disse: ‘Sr. Dante fez o mesmo em seu Inferno e o Sr. Goya fez isso em suas pinturas, e Brueghel e Bosch, também.’ 'Você deveria ter ouvido o barulho</i>”. <span style="font-size: xx-small;">8</span><span style="font-size: xx-small;"></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– entre <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2017/01/1991-schrei-aus-stein.html"><i>Schrei Aus Stein</i></a> e este <i>Lektionen In Finsternis</i>, um canal de tevê austríaco transmitiu em quatro partes de 60min, sob o nome <i>Film Lesson</i>, uma série de encontros sobre cinema dos quais Herzog participou durante o Festival de Viena de 1991; aparentemente só existem com áudio e legendas em alemão, de modo que nem tentei vê-los;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– por este filme, Herzog venceu o grande prêmio do Festival Internacional de Melbourne de 1993;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– a princípio, o canal de tevê alemão Premiere, que financiou o filme, convidou Herzog para fazer um filme sobre o bombeiro texano especializado em combater incêndios em postos de petróleo (inclusive no Kuwait) Red Adair (1915–2004), ao que o diretor declinou, porém, fazendo a contraproposta, aceita pela emissora, de fazer um tipo diferente de filme no Golfo Pérsico;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– uma vez que as chamas nos poços logo se extinguiriam, o projeto precisava ser tocado com urgência, então Herzog designou o produtor, fotógrafo cineasta inglês Paul Berrif, com larga experiência em documentários de ação e já possuidor de uma licença para filmar no país, a fim de já captar algumas cenas antes mesmo da chegada do alemão;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– a equipe chegou ao Kuwait em outubro de 1991, um mês antes que as chamas do último poço fossem apagadas, e o filme inteiro foi rodado em uma semana.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">¹ <a href="http://www.wernerherzog.com/main/de/html/films/films_details/brief_survey.php?film_id=35">http://www.wernerherzog.com/main/de/html/films/films_details/brief_survey.php?film_id=35</a></span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">² <span style="font-size: xx-small;">6</span> PAGANELLI, Grazia.<i> Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.</span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">³ <span style="font-size: xx-small;">5</span> PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.</span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">4</span> AMES, Eric. <i>Ferocious Reality: Documentary According To Werner Herzog</i>. University Of Minnesota Press, <br />2012.<br /><span style="font-size: xx-small;">7 </span></span></span><a href="http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI233888-15220,00.html"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI233888-15220,00.html</span></span></span></a></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">8</span> HERZOG, Werner. In.: <i>Ferocious Reality: Documentary According To Werner Herzog</i>, de Eric Ames. University Of Minnesota Press, 2012.</span></span></div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-53040264752525319242017-01-10T14:57:00.004-02:002017-01-10T15:15:20.799-02:00(1991) Schrei Aus Stein<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Alemanha, França, Canadá (rodado na Patagônia Argentina e em Munique) | 105min | 35 mm |cor</b></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b> Roteiro</b>: Hans-Ulrich Klenner, Walter Saxer e Robert Geoffrion, a partir de ideia de<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>Reinhold Messner </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Walter Saxer</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Manfred Arbter </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Suzanne Baron</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Rainer Klausmann</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e</span>xcertos de Heinrich Schiitz, Richard Wagner, Sarah Hopkins, Alan Lamb, Ingram Marshall e Atahualpa Yupanqui</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Vittorio Mezzogiorno (Roccia), Stefan Glowacz (Martin), Mathilda May (Katharina), Donald Sutherland (Ivan), Brad Dourif (Senzadita), Al Waxman (Stephan), Chavela Vargas (senhora indiana), Hans Kammerlander (escalador), Volker Prechtl (mestre himalaio)</span></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Schrei Aus Stein</i> (Grito De Pedra), lançado no Brasil como <i>No Coração Da Montanha</i>,
é um trabalho atípico de Herzog: o roteiro foi escrito pelo colaborador
de longa data Walter Saxer, junto com dois amigos, a partir de uma
ideia do montanhês Reinhold Messner, protagonista de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/03/1984-gasherbrum-der-leuchtende-berg.html"><i>Gasherbrum – Der Leuchtende Berg</i></a>.<br /><br />Basicamente
a história é sobre dois alpinistas, um jovem e impetuoso (Martin) e um
experiente e amargurado (Roccia) disputando entre si pra ver quem é
melhor montanhista, tem o ego mais inflado e fica com a mocinha do filme
(a bela Katharina), tudo sob o controle do ambicioso empresário
televisivo Ivan. E o palco central de tudo isso é o imponente e perigoso
Cerro Torre, na Patagônia.<br /><br />Falando assim, a história
parece banal – e de fato é: apesar de possuir elementos extraídos da
história da suposta primeira conquista de Cerro Torre, em 1959, pelo
escalador italiano Cesare Maestri e seu parceiro, o austríaco Toni Egger
(que morreu durante a descida), tudo se desenvolve de forma muito
rápida e forçada, não dando tempo nem motivos para que nos
identifiquemos com os personagens (ou mesmo desgostemos deles). As
pessoas vão, vem, vivem, morrem, vencem, perdem e você fica indiferente.<br /></span> </span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-YWXelDVTnv4/WHUQbfi7uYI/AAAAAAAAZ38/wVJZEGoFDJIXVbFk_uwyJbngtVaqxZxIwCEw/s1600/screamofstone11.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="238" src="https://4.bp.blogspot.com/-YWXelDVTnv4/WHUQbfi7uYI/AAAAAAAAZ38/wVJZEGoFDJIXVbFk_uwyJbngtVaqxZxIwCEw/s320/screamofstone11.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O temido Cerro Torre</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O
conflito entre os montanhistas é abrupto e sem propósito, e os próprios
traumas deles não convencem muito; a mocinha só está no filme para ser a
mocinha mesmo; e as atuações são sofríveis – Donald Sutherland bem que
tenta, mas seu personagem também não diz muito ao que vem. <br /><br />Herzog
também se esforça, dando um subtexto de crítica à sociedade do
espetáculo, em que tudo é feito para a mídia, e só existindo se nela
estiver, mas as atuações fraquíssimas da dupla de atores principais
atrapalha isso também.<br /><br />Fingerless, escalador de quatro dedos de
uma mão, perdidos em Cerro Torre, e obcecado com a atriz Mae West (?), é
o único personagem interessante do filme (“<i>o único personagem do script original em quem eu fui autorizado a fazer mudanças</i>”
¹, segundo o diretor), a despeito de suas falas serem fracas também:
atormentado pela montanha, que lhe tirou não só pedaços de seu corpo,
mas também sua sanidade, vaga pela história para nos lembrar de que
estamos num filme de Herzog, dando o toque de desajuste social mínimo ao
longa. <br /><br />Aliás, Werner Herzog também não gosta do filme, inclusive se mostrando arrependido de tê-lo feito: “<i>Havia
algo maravilhosamente físico na história que achei interessante, mas o
script tinha muitos pontos fracos, especialmente os diálogos, e
precisava de um trabalho real, então eu hesitei em aceitar o projeto,
porque a princípio eu não sabia como poderia melhorá-lo. Finalmente
chegamos a um acordo e eu entrei no filme, mas imediatamente me vi <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">sem saída</span>, quando tive que fazer alterações substanciais</i>". ²<br /><br />Aí vem a pergunta usual: mas nada no filme presta?<br /><br />Olha, este é, sem dúvida, o pior filme do Herzog que já vi. Supera, de longe, <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/09/1969-massnahmen-gegen-fanatiker.html"><i>Massnahmen Gegen Fanatiker</i></a> (pelo menos tinha caráter experimental), <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/04/1976-herz-aus-glas.html"><i>Herz Aus Glas</i></a> (visualmente bem mais interessante), <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/05/1980-huies-sermon.html"><i>Huie’s Sermon</i></a> (há certa atração em sua catarse), <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/06/1987-cobra-verde.html"><i>Cobra Verde</i></a> (Klaus Kinski sempre vale a pena) e <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2017/01/1991-jag-mandir_5.html"><i>Jag Mandir</i></a> (pelo menos é mais curto). <br /><br />Como
eu já disse, a história se desenvolve de um jeito bastante tolo, os
diálogos e as atuações dão raiva de tão ruins (dá até pena do Donald
Sutherland no meio daquilo) e toda a história (que nem é tanta assim)
parece mera enrolação para o duelo final entre os protagonistas. <br /><br />Herzog
já não leva muito jeito para histórias lineares/comuns (e nem parece se
intressar muito por elas), mas nem os piores momentos de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/05/1984-wo-die-grunen-ameisen-traumen.html"><i>Wo Die Grünen Ameisen Träumen</i></a>
parecem tão jogados quanto as discussões entre o triângulo amoroso
principal, as aparições do Fingerless com suas frases de efeito ou a
‘Indianerin’, uma senhora <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">i</span>nd<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">í</span>gena que aparece, de certa forma,
comentando a história com frases apocalípticas de efeito (pelo menos tem
um quê de her<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">z</span>ogiano nisso).<br /><br />Salva-se
o clímax, em que o diretor finalmente arregaça as mangas fazendo o que
sabe melhor: mostrar homens obstinados em conflito com a natureza
impiedosa. As cenas de escalada no Cerro Torre, aparentemente sem
qualquer trucagem, são de tirar o fôlego.<br /><br />Em suas próprias palavras: "<i>[Walter] Saxer estava muito teimoso com tudo, por isso não posso nem dizer que </i>Schrei Aus Stein <i>seja meu filme, embora ele contenha algumas seq<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">u</span>ências
impressionantes, como que Stefan Glowacz escala uma montanha
verticalmente, em seguida horizontalmente e então verticalmente de novo,
tudo sem uma corda de segurança, tudo em um único take, tudo com uma
paisagem impressionante atrás dele e um abismo escancarado abaixo. É a
coisa mais extraordinária que você verá na tela, muito mais do que
qualquer coisa em um blockbuster de Hollywood</i>”. ³</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-zawlZdi-8vs/WHUQbU3S5yI/AAAAAAAAZ34/GuWhMrBqaFwE8Ug2TKAyVkT1e-hKQHH9ACEw/s1600/screamofstone5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://4.bp.blogspot.com/-zawlZdi-8vs/WHUQbU3S5yI/AAAAAAAAZ34/GuWhMrBqaFwE8Ug2TKAyVkT1e-hKQHH9ACEw/s320/screamofstone5.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Grandes cenas de montanhismo</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />A tomada final, logo após o des<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">f</span>echo da disputa entre os montanhistas – que, aliás, tem uma surpresa que dá uma melhorada temporária na experiência do filme – também é muito boa, como repara o especialista norte-americano em cinema alemão Brad Prager: “<i>O significado produzido pela montanha oferece o insight para o gesto formal mais consistente de Herzog, a panorâmica de 360º. Não apenas no fim de </i>Schrei Aus Stein, <i>mas também nos finais de</i> <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/04/1976-herz-aus-glas.html">Herz Aus Glas</a> <i>e</i> <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/11/1972-aguirre-der-zorn-gottes.html">Aguirre, Der Zorn Gottes</a>, <i>com o objetivo de delinear um espetáculo desesperado de desesperança, a câmera circunda ao redor dos protagonistas em desespero</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4</span><br /><br />Então minha recomendação é: acelere o filme direto para os últimos 20min e veja belas e sombrias tomadas na natureza fria e selvagem, sem precisar passar raiva com o resto. No mais, não recomendo <i>Schrei Aus Stein</i> nem para fanáticos por Herzog, nem para entusiastas do montanhismo.<br /><br /><br /><b>Curiosidades</b>:<br /><br />– originalmente, o próprio Reinhold Messner estrelaria o filme (no papel de Roccia), mas Herzog, baseado em seu contato com ele em <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/03/1984-gasherbrum-der-leuchtende-berg.html"><i>Gasherbrum – Der Leuchtende Berg</i></a>, achou que ele não daria conta do papel;<br /><br />– Herzog faz um ponta na primeira sequência do filme, como parte da equipe de televisão que vai transmitir a escalada indoor de Martin;<br /><br />– dá pra ver o filme no <a href="https://www.youtube.com/watch?v=1Fu3wYLBG9E">YouTube</a> (qualidade de VHS antigo), com legendas em português.<br /><br /><br /><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: xx-small;">1 3 </span>HERZOG, Werner. In.: <i>Werner Herzog: A Guide For The Perplexed</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2014. <br /><span style="font-size: xx-small;">2</span> HERZOG, Werner. In: <i>Herzog On Herzog</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.<br /><span style="font-size: xx-small;">4</span> PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog</i>: <i>Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.</span></span></div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-82154596358098398032017-01-05T22:24:00.000-02:002017-01-05T22:40:59.028-02:00(1991) Jag Mandir<div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span><b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha/Áustria (rodado na Índia) | 85min | 16 mm |cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Wolfgang Rest</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Rainer Wiehr </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Michou Hutter</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Rainer Klausmann</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música:</b> apenas o som ambiente das apresentações</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: André Heller</span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Com o subtítulo <i>Das Exzentrische Privattheater Des Maharadscha Von Udaipur</i> (O Excêntrico Teatro Privado Do Marajá De Udaipur), <i>Jag Mandir </i>(nome do palácio onde se passa o filme), na verdade, não é muito mais do que isso: a convite do artista austríaco André Heller (1947–), cuja equipe passou um ano e meio viajando pela Índia a fim de catalogar a diversidade cultural do país – a pedido do marajá (na verdade um maharana, título acima) –, Herzog filma mais ou menos dois mil artistas (dos mais de dez mil localizados), entre dançarinos, músicos, contorcionistas e ilusionistas.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Após uma breve explicação de André Heller sobre o que representa o filme, os setenta e tantos minutos seguintes de filme, divididos em três atos, são a apresentação de dezenas, centenas desses artistas, em rituais de grande beleza, dignidade e efeito quase hipnótico, porém, sem qualquer contextualização, o que deve afastar o interesse até dos fanáticos pelo tema.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Segundo o diretor, Jag Mandir é sobre “<i>como as artes na índia são o que ele</i> [o maharana/marajá] <i>chamava de ‘força sustentadora da vida’</i>” ¹, e por isso pretendia documentar, de alguma forma, “<i>a rica herança do país antes que a ‘McDonaldização’ triunfasse sobre tudo</i>” ². </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Por outro lado, as intenções do austríaco são minimizadas: “<i>Para Heller, era mais como um show de cabaré, uma reunião de artistas, malabaristas, bufões e engolidores de fogo. Era basicamente isso, nada realmente além disso para ele. Eu fiz isso para um amigo e gostei muito do trabalho e viajar para a Índia, em algum lugar aonde eu não tinha ido antes</i>”. ³<br /></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-XUMqq1FmmXs/WG7itMQiXaI/AAAAAAAAZmM/Dqg7phAG1pAGui6AlRCQLRcOzYUeVZGyQCEw/s1600/0025d632_medium.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://1.bp.blogspot.com/-XUMqq1FmmXs/WG7itMQiXaI/AAAAAAAAZmM/Dqg7phAG1pAGui6AlRCQLRcOzYUeVZGyQCEw/s320/0025d632_medium.jpeg" width="320" /><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"></span></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Desfile</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Na verdade, além de eu ter achado o filme bem cansativo e preguiçoso, sem propósito, até, na linha de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/05/1980-huies-sermon.html"><i>Huie’s Sermon</i></a>, ele parece não ter interessado nem mesmo ao próprio diretor: um tema diante do qual ele poderia exercer um de seus eixos temáticos – a oposição entre o antigo/imemorial/primordial em oposição à degeneração trazida pela ação da humanidade/modernidade – não passa do fio de história inventado no começo de <i>Jag Mandir</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Outro problema é que o marajá/maharana, que teria inspirado e evocado a própria razão de ser do filme, sequer tem direito a falas, aparecendo apenas em silêncio pretensamente contemplativo, assim como os artistas, que não são entrevistados. Fica parecendo uma visão distante, pálida e colonialista de dois brancos europeus sobre uma cultura ‘exótica’ que não lhes despertou nenhum interesse profundo. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No fim das contas é um longo e superficial ‘videoclipe’, que não emana nenhum significado profundo sobre essa cultura antiquíssima para quem não seja bastante familiarizado com seus meandros e fundamentos. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Curiosidades</b>:</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– apesar de o grosso do filme ser realmente o evento único em um dia só, algumas partes adicionais foram gravadas alguns dias antes;</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– a história de que o evento teria sido requisitado ao maharana por um sábio local, que previu o afundamento dos palácios da cidade em um rio, como sinal de deterioração da cultura local, foi inventada por Herzog para dar alguma linha narrativa ao filme;</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– esse argumento, aliás, Herzog inventou baseado no musical indiano <i>A Sala De Música</i> (<i>Jalsaghar</i>), de 1958;</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">– tem no <a href="https://www.youtube.com/watch?v=MNm0svFM_U4">YouTube</a> com legendas em inglês.<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"> </span></span></span></span><br />
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">1 2</span> HERZOG, Werner. In.: <i>Werner Herzog: A Guide For The Perplexed</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2014.<span style="font-size: xx-small;"> </span></span></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">3</span> HERZOG, Werner. In: <i>Herzog On Herzog</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.</span></span></div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-87990290635067941852016-08-01T17:56:00.002-03:002020-02-21T11:02:18.845-03:00(1990) Echos Aus Einem Düsteren Reich<div align="right">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Alemanha (rodado na República Centro-Africana) | 93min | 16 mm |cor</b><br /><b>Roteiro, direção e produção</b>: Werner Herzog<br /><b>Som</b>: Haraud Maury <br /><b>Montagem</b>: Rainer Standkle <br /><b>Fotografia</b>: Jörg Schmidt-Reitwein<br /><b>Música</b>: excertos de Bartok, Prokofiev, Lutoslawski, Shostakovitch, Schubert, Bach e Lanardier<br /><b>Elenco</b>: Michael Goldsmith, François Gilbault, Augutine Assemat, Francis Szpiner, David Dacko, Marie-Raine Hassen </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>O
filme nos permite revelar as verdades menos compreendidas do homem. Ele
investiga as nossas fantasias e nossos sonhos - neste caso, nossos
pesadelos. Bokassa representou o tipo de escuridão humana você encontra
em Nero ou Calígula, e </i>Echos Aus Einem Düsteren Reich <i>foi uma tentativa de explorar os abismos escuros que estão no coração do homem.</i>” ¹<br /><br />Em
mais uma incursão a África, Werner Herzog leva o jornalista austríaco
radicado na Inglaterra Michael Goldsmith (1921–1990) até a República
Cebntro-Africana, onde, em 1977, quando cobria a cerimônia em que o
ditador Jean-Bédel Bokassa (1921–1996) entronizou a si mesmo como
imperador do país, foi preso e torturado por um mês por suspeitarem [injustamente] de que
ele fosse um espião.<br /><br />Nessa nova visita, Goldsmith conversa com
parentes, aliados, desafetos e gente que também sofreu com os desmandos
de Bokassa. Aparentemente, ele não tinhas grandes traumas com o ocorrido
– diz-se que chegou a manter contato com o ditador quando este estava
exilado na França –, e o contato com mulheres e advogados de seu algoz
não lhe trazem nenhum rancor. O jornalista mostra real interesse e
empatia por todos os relatos, bons ou ruins, que vão construindo as
camadas de terror que não só ele ou aquelas pessoas, mas que todo o país
viveu no final da década de 1970.</span></div>
<div align="right">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
</div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-7DRkXAxVHzU/V5-1bjm4EaI/AAAAAAAAVVo/NX7UjrpIKwUyGAYQixmBDv-RXkvRvc_wQCEw/s1600/critique-echos-d-un-sombre-empire-herzog3.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="244" src="https://1.bp.blogspot.com/-7DRkXAxVHzU/V5-1bjm4EaI/AAAAAAAAVVo/NX7UjrpIKwUyGAYQixmBDv-RXkvRvc_wQCEw/s320/critique-echos-d-un-sombre-empire-herzog3.jpeg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Império sombrio</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Goldsmith
não sentia nenhum prazer na queda do tirano, não há sinal de qualquer
vingança, mas apenas paciência, o que chega a ser incômodo, dada toda a
escuridão em que ele vai submergindo a cada história ouvida. Chega-se a
pensar o que de fato ele pretende com essa viagem, além de ser
prestativo com o amigo diretor.<br /><br />E o filme também não se detém em
sua experiência pessoal: o jornalista é apenas a porta de entrada que
Herzog – desta vez quase sem interferir na história, narrando ou na
frente das câmeras – usa para montar seu quebra-cabeças sobre tirania e
colonialismo.<br /><br />Bokassa só aparece em imagens de arquivo, a maioria
quando de sua ridícula e faraônica autocoroação imperial; essas cenas,
aliás, com trilha musical clássica, são de grande impacto, ao mesmo
tempo melancólicas e sombrias, até para quem não conhece direito a
história.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-sGB1wUk5ORE/V5-1bYh8P0I/AAAAAAAAVVs/KmedUK-IFP0IklQbPoGl0p9k1fvTdxfnwCEw/s1600/critique-echo-d-un-sombre-empire-herzog7.JPEG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="244" src="https://4.bp.blogspot.com/-sGB1wUk5ORE/V5-1bYh8P0I/AAAAAAAAVVs/KmedUK-IFP0IklQbPoGl0p9k1fvTdxfnwCEw/s320/critique-echo-d-un-sombre-empire-herzog7.JPEG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Ascensão</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-KCIjR98OW9k/V5-1blufetI/AAAAAAAAVVs/slQVV520oc8vt8Jcw_xaTWyZWzlk7YFiACEw/s1600/critique-echos-d-un-sombre-empire-herzog15.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://2.bp.blogspot.com/-KCIjR98OW9k/V5-1blufetI/AAAAAAAAVVs/slQVV520oc8vt8Jcw_xaTWyZWzlk7YFiACEw/s320/critique-echos-d-un-sombre-empire-herzog15.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Queda</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Herzog
tentou entrevistar o ditador, que estava preso na época, mas não lhe foi
permitido. Isso normalmente seria um problema, mas, como nota a
jornalista norte-americana Janet Maslin, “<i>a ausência de Bokassa acaba
sendo estranhamente útil ao Sr. Herzog, que caracteristicamente
encontra mais no mistério de Bokassa do que no homem real</i>”. ²<br /><br />Assim,
o diretor vai juntando peças sobre <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Jean-Bédel</span>: o pai de muitos filhos, o
assediador de mulheres, o tirano que se achava maior que seus
conterrâneos e os executava por qualquer coisa, o (aparente) fantoche
nas mãos do imperialismo francês e o (possivelmente) canibal, numa
viagem ao coração das trevas.<br /><br />Obviamente que, assim como em <i><a href="https://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/07/wodaabe-die-hirten-der-sonne.html">Wodaabe, Die Hirten Der Sonne</a></i>
e outros tantos filmes, Herzog não está nem um pouco em seguir rigores
sociológicos e historiográficos na construção de sua obra; inclusive é
bom estudar um pouco sobre a ditadura centro-africana antes de ver o
filme, uma vez que, segundo o próprio diretor, “<i>Chamar</i> Echos Aus Einem Düsteren Reich<i>
de ‘documentário’ é como dizer que a pintura que Andy Wharhol fez das
latas de sopa Campbell’s seja um documento sobre sopa de tomate</i>”. ³<br /><br />O interesse de Herzog evidentemente reside no caráter megalomaníaco de Bokassa, um ditador tão insano quanto seu <i><a href="https://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/11/1972-aguirre-der-zorn-gottes.html">Aguirre</a></i>, tão delirante quando seu <i><a href="https://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html">Fitzcarraldo</a></i>, e possivelmente tão manipulado quanto seu <i><a href="https://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/06/1987-cobra-verde.html">Cobra Verde</a></i>.
E toda essa loucura e todo esse horror são apresentados não só por meio
dos relatos dos locais e das reminiscências de Goldsmith – não
esperaríamos algo tão convencional assim do diretor –, mas por imagens
tão sombrias, melancólicas e evocativas de pesadelos quanto as cenas de
arquivos de Bokassa.<br /><br />Nas palavras de Janet Maslin: “<i>Ao longo de </i>Echos Aus Einem Düsteren Reich, <i>a
câmera do Sr. Herzog tacitamente absorve a loucura do legado de Bokassa
e às vezes transforma aquela loucura em visões fascinantes. (...) Uma
estátua do ditador jaz enferrujando nas ervas daninhas e um macaco fuma
um cigarro com enervante intensidade nas ruínas do zoológico particular
do imperador. O pesadelo de um mundo inundado por caranguejos laranja do
Sr. Goldsmith é ilustrado literalmente, em cores estranhamente
brilhantes</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4</span><br /><br />De fato, todas essas
cenas têm muito impacto, especialmente o mar de caranguejos invadindo a
paisagem, direto do recorrente sonho do jornalista, logo no início do
filme. Mas é a sequência final, com o macaco pedindo um cigarro e
fumando, que traz um incômodo que parece demais até para Goldsmith, que
permanecia tranquilo em toda a viagem até então. <br /><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-ciumgr4vDeg/V5-1bqJldgI/AAAAAAAAVVs/nj27cHxMm90Arb464KI9njpajMbNWvoCQCEw/s1600/critique-echos-d-un-sombre-empire-herzog19.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://3.bp.blogspot.com/-ciumgr4vDeg/V5-1bqJldgI/AAAAAAAAVVs/nj27cHxMm90Arb464KI9njpajMbNWvoCQCEw/s320/critique-echos-d-un-sombre-empire-herzog19.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mar vermelho-sangue</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Como analisa o especialista norte-americano em cinema alemão Brad Prager, “<i>há algo acusatório no olhar do macaco. É como se o primata fosse mais
humano que os humanos que fariam tais coisas uns com os outros, aqueles
que agiriam como torturadores e canibais. Diferentemente das galinhas</i> [<a href="https://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/05/1977-stroszek.html"><i>Stroszek</i></a> e vários outros filmes], dos dromedários [<a href="https://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/10/1970-auch-zwerge-haben-klein-angefangen.html"><i>Auch Zwerge Haben Klein Angefangen</i></a>] e das águas-vivas [<i>Bad Lieutenant</i>,
de 2009] nos filmes de Herzog, esse macaco nos pergunta se ainda
podemos reconhecer algum traço do que já foi humano em nós mesmos”. <span style="font-size: xx-small;">5</span><br /><br />Se
Bokassa era apenas um palhaço, um ditador reles e ignorante, de perfil
sanguinário, como a imprensa ocidental sempre o tratou, ou se era um
mero fantoche da França, um capacho metido a napoleão, porém, muito
conveniente ao colonialismo, fica por conta de como cada um monta as
peças apresentadas por Herzog. <br /><br />Mas a cena do macaco fumante é inequívoca: “<i>Retoma
os aspectos miméticos do filme: a violência colonial – e seus abusos –
sempre retorna em uma forma inesperada e assustadora</i>”, como conclui Brad Prager.<br /><br />A
despeito de os relatos, a certa altura, se tornarem um tanto
enfadonhos, e de o filme ser bem difícil de ser encontrado por estas
plagas (tem no Youtube, com legendas em alemão, e há por aí um torrent
em duas partes, com legendas em espanhol), quem gosta de bom cinema deve
tentar assistir a este filme, nem que seja apenas pelas sequências
inicial e final.<br /><br />Pois, como diz Janet Maslin sobre o filme,
fazendo referência à marcha dos caranguejos (e sobre todo o
colonialismo, evidentemente), “<i>o pensamento de uma praga monstruosa e inexorável permanece na memória por muito tempo depois que Bokassa desvanece</i>”. </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-LrI-GnC-xrg/V5-1bWL9y3I/AAAAAAAAVVs/a5pbXyHGeZw0jdg3r9TVrJWUWEFKoys0QCEw/s1600/critique-echos-d-un-sombre-empire-herzog12.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://4.bp.blogspot.com/-LrI-GnC-xrg/V5-1bWL9y3I/AAAAAAAAVVs/a5pbXyHGeZw0jdg3r9TVrJWUWEFKoys0QCEw/s320/critique-echos-d-un-sombre-empire-herzog12.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">More human than human</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">[A partir do próximo post, entraremos no profícuo período noventista de Herzog, com onze filmes em dez anos.]<br /><br /><br /><br />Curiosidades:<br /><br />– a sequência com os caranguejos-vermelhos fazendo sua conhecida e impressionante migração anual na Ilha Christmas (próxima a Indonésia, mas pertencente a Austrália) seria reutilizada no final de <i>Invincible</i> (2001);<br /><br />– apesar de o filme ser feito aparentemente tendo Goldsmith como centro, Herzog o conheceu quando já tinha a ideia do filme;<br /><br />– Michael Goldsmith, aliás, morreu pouco tempo após o lançamento do filme, devido a uma hemorragia estomacal.<br /><br /><br /><br /><span style="font-size: x-small;">¹ CRONIN, Paul. <i>Werner Herzog: A Guide For The Perplexed</i>. Faber & Faber, 2014.<br />² <span style="font-size: xx-small;">4</span> <a href="http://www.nytimes.com/movie/review?res=9E0CE5DA133CF936A25754C0A964958260">http://www.nytimes.com/movie/review?res=9E0CE5DA133CF936A25754C0A964958260</a>.<br />³ HERZOG, Werner. In: <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>, de Brad Prager. Wallflower Press, 2007.<br /><span style="font-size: xx-small;">5</span> PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.</span></span>
</div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-2004096251832839552016-07-21T11:18:00.006-03:002016-08-02T00:36:46.514-03:00(1989) Wodaabe, Die Hirten Der Sonne<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (rodado em Níger) | 52min | 16 mm |cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">,</span> direção e produção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Walter Saxer </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Maximiliane Mainka </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Jörg Schmidt-Reitwein</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: excertos de Gounod, Sänger, Mozart, Handel e Verdi</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: tribo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">W</span>oodabe </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Co-produção
entre TVs alemãs e francesas, este média-metragem volta sua atenção
para os wodaabes, tribo nômade do Sahel, região ao sul do Saara.
Considerando a si mesmos o povo mais belo do mundo, eles possuem uma
festa da fertilidade que dura dez dias, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a qual</span> inclui uma espécie de
concurso próprio de beleza, em que cada homem jovem tenta mostrar às
mulheres que é o mais bonito, na esperança de ganhar uma namorada.</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O próprio Herzog detalha o processo: “<i>Durante
os preparativos para o concurso de beleza, grupos de jovens nos
acampamentos brincam e dão risada, tornando-se tão bonitos quanto
possível; eles se vendem e se maquiam com corantes naturais triturados
em pó. Alguns levam um dia inteiro para se preparar para o festival, que
começa ao amanhecer e dura cinco dias. Pensa-se ser particularmente
bonito mostrar o máximo dos dentes e o quanto possível do branco do
globo ocular, e alguns dos homens reviram os olhos para cima, como se
estivessem em êxtase. Uma sucessão de danças e rituais complexos são
realizados, com os homens em linhas retas, caminhando para a frente,
fazendo uma careta em êxtase, em seguida, recuando até o momento da
decisão, quando o vencedor é escolhido</i>”. <span style="font-size: xx-small;">1</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-DaXZzJ_Mkhg/V5DUA-cgttI/AAAAAAAAVNo/qd9XkOGXxL4BkNYfzGuH3E6blYgbL036gCEw/s1600/critique-wodaabe-les-bergers-du-soleil-herzog.JPEG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="245" src="https://4.bp.blogspot.com/-DaXZzJ_Mkhg/V5DUA-cgttI/AAAAAAAAVNo/qd9XkOGXxL4BkNYfzGuH3E6blYgbL036gCEw/s320/critique-wodaabe-les-bergers-du-soleil-herzog.JPEG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Os homens mais bonitos do mundo</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div align="justify">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Além
disso, o filme se ocupa um tanto da triste (e contrastante com seus
alegres rituais) situação da tribo à época: devido a uma grande seca em
1984, os wodaabes tiveram de deixar o Sahel e se abrigar em um campo de
refugiados nos confins da Argélia, onde obviamente se sentiam deslocados
(ainda que fossem nômades) e de temiam jamais conseguir sair.</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Logo após <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/06/1987-cobra-verde.html"><i>Cobra Verde</i></a>, imediatamente antes de <i>Echos Aus Einem Düsteren Reich</i> (1990) e tendo no currículo <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/09/1969-die-fliegenden-arzte-von-ostafrika.html"><i>Die Fliegenden Ärzte Von Ostafrika</i></a> e <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/10/1970-fata-morgana.html"><i>Fata Morgana</i></a>,
Herzog volta à África, pela qual é fascinado a ponto de torná-la um
personagem, um protagonista (como já fizera assumidamente em <i>Cobra Verde</i> e, de certa forma, em <i>Fata Morgana</i>). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Como explica a estudiosa inglesa de cinema alemão Erica Carter, “<i>Herzog
dirige sua fascinação com a África para a suposta afinidade do
continente com o 'primordial', o 'arquetípico', 'caos e escuridão. Muito
como</i> [Joseph] <i>Conrad</i> [1857–1924], <i>cuja ficção ele admira
muito, Herzog retorna à África repetidamente como uma fonte de verdade
estética extática a que sua filmografia aspira</i>”. <span style="font-size: xx-small;">2</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A consequência disso, segundo o estudioso norte-americano de cinema alemão Eric Ames, é que “<i>em
vez de organizar o filme em torno de uma única pessoa, como ele faz em
outros lugares, Herzog representa os wodaabes como um corpo coletivo de
não-ocidentais</i>”. 3</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O
fato é que o diretor não tem nenhuma pretensão de analisar a fundo os
wodaabes e suas questões ou seus hábitos. Não é que ele não se interesse
pelos indivíduos, pelo contrário; além de seu interesse pelo
personagem-África, a escolha de se deter em apenas dois aspectos da
tribo (o ritual amoroso e a diáspora) manifesta uma recusa em fazer uma
obra etnográfica/antropológica (até por que já havia vários
documentários sobre os wodaabe à época).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eric Ames detalha: “<i>Herzog
não faz nenhuma tentativa de retratar todo um modo de vida do ‘ponto de
vista nativo’, nem tem a pretensão de ‘preservar’ seus traços em forma
de arquivo. Ele, obviamente, não está tentando ter seu trabalho aceito
como a antropologia ou autenticado por especialistas</i>”. <span style="font-size: x-small;">4</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">E o próprio diretor deixa claro: “<i>Eu
propositadamente me afastei de qualquer coisa que pudesse ser
considerada antropológica. Na cena de abertura, do bizarro concurso de
beleza masculina, os homens da tribo estão rolando seus globos oculares,
exaltando a brancura dos seus dentes, e fazendo caretas de êxtase. O
fato de que eles estavam sendo filmados não fez diferença; eles foram
completamente imersos no espetáculo. Esses jovens são tão
descontroladamente estilizados, por que não deveria ser também?</i>” <span style="font-size: xx-small;">5</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Seu
interesse, como sempre, é a busca da verdade extática, e ela está
concentrada no ritual de embelezamento dos homens para conquistar as
mulheres da tribo; porém – e não se sabe se essa era a intenção original
do diretor ou se a questão surgiu durante as filmagens –, a história é
levada para um evidente traço de conflito, inadequação, dos wodaabes
para com a modernidade. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O especialista norte-americano em cinema alemão Brad Prager ilustra bem a problemática: “<i>Vemos uma incursão do século 20 em uma cultura ancestral, como mostrado em </i>Fata Morgana. <i>Herzog inclui cenas de crianças em Arlit</i> [cidade industrial em Níger] <i>enquanto
fuçam comida no lixo. Um homem da tribo, forçado a viver na cidade, diz
à câmera: ‘Aqui está a areia da amargura’”. (...) “O que interessa mais
do que qualquer coisa nesse povo para Herzog são seus hábitos nômades –
Herzog está sempre interessado em andarilhos e pioneiros – tanto quanto
na recusa deles em carregar a bagagem do século 20. Eles têm pouco além
de seus dotes e algumas necessidades básicas. O século 20 é uma
dificuldade para esse povo digno</i>”. <span style="font-size: xx-small;">6</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-Gjp_f3g3W8w/V5DUA95VEyI/AAAAAAAAVNo/ph1fd7XwD4A-Kwh-Oaq56PSlfKub2rOAwCEw/s1600/critique-wodaabe-les-bergers-du-soleil-herzog.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="255" src="https://1.bp.blogspot.com/-Gjp_f3g3W8w/V5DUA95VEyI/AAAAAAAAVNo/ph1fd7XwD4A-Kwh-Oaq56PSlfKub2rOAwCEw/s320/critique-wodaabe-les-bergers-du-soleil-herzog.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Areia da amargura</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Essa
dignidade é deixada bem claro no modo como Herzog retrata a pureza como
dogma para os wodaabes, um povo que, ao mesmo tempo leva uma vida muito
simples e humilde, com privações na modernidade e sem qualquer
sofisticação, ainda mantém a vaidade primordial de se achar especial, o
povo mais belo que há. Isso faz com que esse <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span>coletivo não-ocidental<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span> apareça evidentemente idealizado, como já eram os aborígenes de <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/05/1984-wo-die-grunen-ameisen-traumen.html"><i>Wo Die Grünen Ameisen Träumen</i></a>,
porém, sem o contraponto personalizado nos brancos; a opressão é
personificada nas mudanças climáticas, no esgotamento dos recursos
naturais e no pouco tato com as minorias tribais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A jornalista norte-americana Janet Maslin reforça: “<i>O filme pertence ao crescente gênero de ‘ecotragédia’ </i>[como já era </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Wo Die Grünen Ameisen Träumen]</span><i>,
apresentando evidências de que um conjunto outrora viável de costumes
pode agora ser obsoleto. Experientes no pastoreio de gado (o wodaabes
podem levantar acampamento em menos de uma hora) e totalmente
dependentes de bens comercializados para o gado no mercado, o wodaabes
sofreram os efeitos da recente seca e da fome e viram-se forçados a
viver na cidade, para a qual estavam totalmente despreparados</i>”. 7</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Outra conexão com <i>Fata Morgana</i>
– o olhar moderno sobre algo primordial que está se desfazendo – surge
na sequência de abertura, de longe a melhor coisa do filme, em que os
homens wodaabes, maquiados, exibem exageradamente seus dentes e olhos
para a câmera, enfileirados. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Herzog deixa claro como o filme se insere perfeitamente em seu cânome: “<i>Na trilha sonora, ouvimos uma gravação de 1901 da </i>Ave Maria<i> de </i>[Charles] <i>Gounod</i> [(1818–1893)], <i>cantada
pelo último castrato do Vaticano, o que cria uma sensação estranha,
quase um êxtase, e estabelece um contraponto poderoso entre música e
imagens. (...) Isso significa que o filme não é um documentário sobre
uma tribo africana específica, mas uma história sobre beleza e desejo.
Sem a música, as imagens desse concurso de beleza masculina incrível e
bizarro só não nos tocaria tão profundamente</i>”. <span style="font-size: xx-small;">8</span></span></div>
<br />
<div align="justify">
</div>
<br />
<div align="justify">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-DMuxrnlpwYE/V5De1pm8pfI/AAAAAAAAVOE/R8N4icikBvoH2igM1mVJJtSt616H5FalQCEw/s1600/critique-wodaabe-les-bergers-du-soleil-herzog6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="255" src="https://4.bp.blogspot.com/-DMuxrnlpwYE/V5De1pm8pfI/AAAAAAAAVOE/R8N4icikBvoH2igM1mVJJtSt616H5FalQCEw/s320/critique-wodaabe-les-bergers-du-soleil-herzog6.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Concentração antes do êxtase</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na
época, houve certa polêmica sobre o uso de música “branca ocidental”
como trilha específica para uma tribo africana ameaçada. Mas o diretor
se defende com firmeza: “<i>De outra forma, meu filme jamais teria existido. Queria usar a </i>Ave Maria <i>toda vez que filmei os close-ups dos wodaabes. Ninguém mais faria tal coisa. Gosto muito do filme. Cria um êxtase estranho</i>”. <span style="font-size: xx-small;">9</span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"></span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O filme tem ritmo bem rápido, a despeito de as sequências não serem muito lineares ou narrativas, e pouca coisa tem mais impacto que a brilhante sequência inicial, mas há vários momentos muito bonitos, como os diálogos apreensivos dos homens antes e depois do ritual, a conversa de Herzog com um casal envergonhado que passou a noite junto ou o jeito extremamente tímido como a mulher aponta para o homem escolhido.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas, no geral, é um filme para quem é fã do diretor ou tem interesse no tema, ainda que ele não seja tão bem desenvolvido assim. Porém, vale mencionar também a impactante sequência final, de puro pessimismo herzogiano, em que dromedários cruzam uma ponte cheia de gente e carros sobre o Rio Níger: junção de modernidade e antiguidade, com a inevitável degeneração desta, inevitável e desoladora.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Herzog explica um pouco a cena: “<i>Simplesmente aconteceu de eu ver os dromedários sendo conduzidos através da ponte no meio de todos aqueles carros. Para mim esse é uma cena de verdadeira profundidade e beleza</i>.” <span style="font-size: xx-small;">10</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Tem no <a href="https://www.youtube.com/watch?v=MlnO1QDqpaQ">YouTube</a>, com legendas em inglês; veja pelo menos a sequência inicial, para ser inundado brevemente pelo êxtase herzogiano. Tornar-se brevemente um pastor do sol, seguindo os acasos e descasos da existência, porém, sempre com dignidade.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Curiosidades:</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– estima-se que os wodaabes hoje sejam em torno de 10 mil;</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– o “último castrato do Vaticano” citado por Herzog é o italiano Alessandro Moreschi (1858–1922), que também é o único castrato a ter registros musicais gravados;</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– o compositor francês Charles Gounod compôs <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">criou</span> <i>Ave Maria</i> de modo à sua melodia se sobrepor ao <i>Prelúdio Nº 1 Em Dó Maior</i>, d’<i>O Cravo Bem Temperado</i>, de Bach, escrito 137 anos antes;</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– entre <a href="https://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/06/1987-cobra-verde.html"><i>Cobra Verde</i></a> e este <i>Wodaabe, Die Hirten Der Sonne</i>, Herzog dirigiu, em 1988, o episódio <i>Les Gaulois</i> (12min) da série de curtas-metragens <i>Les Français Vus Par...</i>, do Le Figaro Magazine (só achei com áudio em francês, então não posso opinar sobre).</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: x-small;"><span style="font-size: xx-small;">1</span> HERZOG, Werner. In:<i> Herzog On Herzog</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.</span><span style="font-size: x-small;"><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">2</span> CARTE, Erica. <i>Werner Herzog, African Sublime</i>. In: <i>A Companion To Werner Herzog</i>, de Brad Prager. Wiley-Blackwell, 2012.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">3 4</span> AMES, Eric. <i>Ferocious Reality: Documentary According To Werner Herzog</i>. University Of Minnesota Press, 2012.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">5 8 10</span> HERZOG, Werner. <i>In Werner Herzog: A Guide For The Perplexed, </i>de Paul Cronin. Faber & Faber, 2014.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">6</span> PRAGER, Brad. <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">7</span> <a href="http://www.nytimes.com/movie/review?res=9D0CE1DD1E30F93BA35756C0A967958260">http://www.nytimes.com/movie/review?res=9D0CE1DD1E30F93BA35756C0A967958260</a></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;">9</span> HERZOG, Werner. In: <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008), de Grazia Paganelli. Editora Indie Lisboa, 2009.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span>
</div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-1970099538616591202016-06-20T18:24:00.000-03:002016-07-27T16:07:43.173-03:00(1987) Cobra Verde<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (rodado no Brasil, em Gana e na Colômbia) | 110min | 35 mm |cor</span></b></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro</b>: Werner Herzog, a partir do romance <i>O Vice-Rei De Ouidá</i>, de Bruce Chatwin</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Direção</b>: Werner Herzog</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Lucki Stipetić</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Haymo Henry Heyder </span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Maximiliane Mainka </span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Victor Ruzicka</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: Florian Fricke (Popol Vuh)</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Klaus Kinski (Francisco Manoel da Silva / Cobra Verde), King Ampaw (Taparica), José Lewgoy (Don Octavio Coutinho), Salvatore Basile (Capitão Fraternidade), Peter Berling (Bernabé), Guillermo Coronel (Euclides), Nana Agyefi Kwame II (Bossa Ahadee), Yolanda García (Dona Epiphania), Nana Fedu Abodo (Yovogan), Kofi Yerenkyi (Bakoko), Kwesi Fase (Kankpe), Benito Stefanelli (Capitão Pedro Vicente), Kofi Bryan (Mensageiro de Bossa Ahadee), Carlos Mayolo (Governador da Bahia)</span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>Assistindo a </i>Cobra Verde <i>você
sente às vezes que o Sr. Herzog, como um personagem de Joseph Conrad,
está em risco de perder o seu caminho, ou até mesmo sua sanidade. Seu
olhar, no entanto, nunca o abandona, e o terço final do filme contém
sequências de sublimidade terrível e beleza etérea, momentos que têm uma
clareza e um poder além do alcance da razão.</i>” ¹<br /><br />Eu já <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">tinha</span> assistido a <i>Cobra Verde</i>
havia dez anos, e não havia curtido nem um pouco. Cheguei a citar, em
outro capítulo desta #MaratonaHerzog, que era o pior filme do alemão que
eu tinha visto. Porém, com a experiência de ver e estudar todos esses
filmes, achei que minha opinião sobre tal obra poderia mudar, por que
não?<br /><br />Esta, que é a quinta e última colaboração entre Herzog e Klaus Kinski, é uma adaptação bem livre do romance histórico <i>O Vice-Rei De Ouidá</i>,
do escritor inglês Bruce Chatwin (1949–1989), que, por sua vez, se
inspirou vagamente na vida de um comerciante brasileiro de escravos,
Francisco Felix de Souza, que se tornou poderoso em Ouidah, na Costa
Oeste da África (onde hoje estão Benin, Togo e parte de Gana).<br /><br />A história do filme, tal como em <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html"><i>Fitzcarraldo</i></a>,
é bastante rocambolesca para os padrões herzogianos: Francisco Manoel
da Silva é um camponês no sertão nordestino que mata o dono da mina onde
trabalhava por falta de pagamento; torna-se o bandido Cobra Verde,
espécie de cangaceiro solitário, e passa a aterrorizar os vilarejos da
região, até que, ao impedir a fuga de um escravo do senhor de engenho
Dom Octavio Coutinho, é contratado por este, para supervisionar sua
plantação de cana; porém, acaba por engravidar as três filhas do patrão;
como castigo, um destino (teoricamente) pior que a morte – buscar
escravos africanos já na época da repressão britânica; lá, ele consegue
os <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">escravizados</span>, mas acaba condenado à morte, para então ser libertado pelo
irmão do rei, para ajudá-lo em uma insurreição, até que o novo soberano
lhe envia um último carregamento de escravos aleijados, enquanto no
Brasil finalmente se proíbe a escravatura.</span></div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="justify">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-kmGaBaoPLDU/V2hYTqSKGJI/AAAAAAAAUSo/YJTWRpNpiDwcTCY0uxFiRy8erLeC_CVlwCKgB/s1600/cobraverde1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="181" src="https://2.bp.blogspot.com/-kmGaBaoPLDU/V2hYTqSKGJI/AAAAAAAAUSo/YJTWRpNpiDwcTCY0uxFiRy8erLeC_CVlwCKgB/s320/cobraverde1.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Kinski, solitário <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e soturno</span></span></span> </td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">De
outro diretor, se imaginaria que fosse um épico com mais de três horas,
cheio de ação, drama violência, certo? Certo, mas, sendo um filme de
Herzog, e, mais do que isso, sendo um filme oitentista dele, dá para
saber o que temos aqui: uma história complexa, ainda que convencional,
inspirada em agruras tribais, com resolução desinteressada, que passa de
um acontecimento ao outro sem muita paciência ou vontade de continuar o
que propôs. Isso torna o filme episódico, de modo ainda mais incômodo
que em <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/05/1984-wo-die-grunen-ameisen-traumen.html"><i>Wo Die Grünen Ameisen Träumen</i></a>.<br /><br />As
cenas se sucedem sem nenhum encadeamento temporal visível. Dá para
perceber que é linear, mas o quanto? Entre uma cena e outra podem passam
dias, horas, semanas, meses? Não há como saber: em uma cena, Cobra
Verde está coberto de sujeira; na seguinte, está tomando chá na varanda;
em outra, está prestes a ser decapitado, para, duas cenas depois, já
estar liderando um exército de amazonas.<br /><br />Em um filme herzogiano
clássico, setentista, talvez isso não incomodasse, mas com a trama
apresentada, teoricamente com começo meio e fim, isso desanima um tanto,
dá a impressão de que tanto faz o filme acabar naquele momento ou durar
mais umas três horas, já que roteirista, diretor e montador,
aparentemente, resolveram largar mão dos planos e simplesmente
improvisar.<br /><br />Justiça seja feita: as imagens são belíssimas – deve ser o visual mais estonteante desde <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/10/1970-fata-morgana.html"><i>Fata Morgana</i></a>
– e, obviamente, Herzog não está nem um pouco interessado em discutir a
moralidade da escravatura, tanto quanto em problematizar demais
aspectos narrativos da história; seu interesse está sempre em usar
coisas, pessoas, paisagens e até a si mesmo, dependendo do filme, como
palco para sua verdade extática.<br /><br />E, de fato, há muitas cenas de tirar o fôlego em <i>Cobra Verde</i>,
com as paisagens selvagens e exuberantes da África, todas elas
emolduradas pela sempre excelente trilha do Popol Vuh velho de guerra.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-98S4WhVokRc/V2hg8RXgMRI/AAAAAAAAUS0/j66br6gJQJ4tCtDDYzdbBpmzb0pHAoIGQCKgB/s1600/cobraverde2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="180" src="https://3.bp.blogspot.com/-98S4WhVokRc/V2hg8RXgMRI/AAAAAAAAUS0/j66br6gJQJ4tCtDDYzdbBpmzb0pHAoIGQCKgB/s320/cobraverde2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Beleza ameaçadora</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Klaus Kinski surge exausto como em <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/08/1979-woyzeck_19.html"><i>Woyzeck</i></a>, mas não pelo papel pedir isso, e sim por uma possível falta de inspiração ou de vontade mesmo. Aparentemente Herzog não conseguiu mais encontrar novos aspectos do ator que pudessem ser explorados para sua obra.<br /></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Herzog ressalta: “<i>Quando
Kinski chegou para a primeira parte do filme na Colômbia ele estava
caindo aos pedaços. Juntá-lo e torná-lo produtivo, para aproveitar toda a
sua loucura, sua raiva e sua intensidade demoníaca foi um problema real
desde o primeiro dia. Kinski era como um cavalo de corrida híbrido correria mais de uma milha, para,<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span> depois da linha de chegada, entrar em colapso</i>”. ²<br /><br />Também contribuiu muito para isso o fato de Kinski estar obcecado em filmar seu roteiro de <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Paganini_%281989_film%29"><i>Paganini</i></a><i> </i>(lançado em 1989)<i>,</i> tendo inclusive insistido, durante anos, para que Herzog o filmasse (segundo ele, o roteiro consistia em “<i>meia página de sexo, então meia página de violino, e assim por seiscentas páginas</i>”). ³<br /><br />Segundo o estudioso inglês de cinema alemão Lance Duerfarhd, “Cobra Verde <i>transfigura a natureza da luta entre Kinski e Herzog. (...) Em vez de uma luta sobre o modelo dentro do filme,</i> Cobra Verde<i>
mostra a luta que tem seu lugar entre dois filmes, entre um sendo produzido e
outro por vir. De alguma forma, citando sua própria presença <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">em</span> um filme
que ainda estava por vir, Kinski desfaz</i> Cobra Verde. <i>O filme dá a Kinski a opo<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">r</span>tunidade de recusar sua recusa, e parece seguir em frente com seu projeto</i> Paganini, com <i>Herzog de diretor, justamente como ele pretendia</i>". <span style="font-size: xx-small;">4</span><br /><br />O próprio Herzog concorda: “<i>Há algo com sua presença no filme, e a presença de um filme que não havia sido rodado ainda, que era </i>Paganini. <i>Ele
estava em um filme diferente, trouxe algum clima para meu filme que não
pertencia a ele, e até hoje tenho algumas dificuldades com <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">certas</span>
partes do filme</i>". <span style="font-size: xx-small;">5</span><br /><br />A relação pessoal entre diretor e ator também havia chegado ao limite: “<i>A
produção foi, simplesmente, a pior na minha vida e jurei publicamente
depois de filmar que eu jamais voltaria a trabalhar com Kinski. Na
época, eu pensei comigo mesmo: 'Será que alguém por favor pode entrar e
continuar o trabalho com este homem? Eu já tive o suficiente.' Havia
algo sobre a presença de Kinski no filme que significava um mau cheiro
estranho ao filme - seu mau cheiro – que permeou o trabalho que fizemos
juntos lá, e Cobra Verde sofre um tanto por causa disso</i>”. <span style="font-size: xx-small;">6</span><br /><br />A relação com a equipe também nunca fora tão ruim, mesmo para os padrões kinskianos: “<i>A
cada dia eu não sabia se o filme seria concluído porque Kinski
aterrorizou todos no set. Ele iria parar de filmar, mesmo se um dos
botões no seu traje estivesse muito solto. Na verdade, ele aterrorizou o
diretor de fotografia Thomas Mauch </i>[antigo col<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">aborador de Herzog]</span><i> e eu tive que substituí-lo na
primeira semana. Esta foi uma das piores coisas que eu já fiz na minha
vida. Thomas amou o filme, mas, infelizmente, sentiu o peso de Kinski no
início da batalha. Eu escolhi o seu substituto, o tcheco Victor
Ruzicka </i>[1943-2014]<i>, porque eu tinha ouvido falar que ele era fisicamente forte,
constituição de camponês, e muito paciente. Qualquer outra pessoa
provavelmente teria saído dentro de duas horas</i>”. <span style="font-size: xx-small;">7</span><br /><br />Somando
tudo isso ao fato já mencionado de que Kinski não estava bem sequer
consigo mesmo, só poderia desaguar em um filme fraco. Ainda mais que o
resto do elenco não tem peso o bastante para levar a produção a cabo:
exceto por José Lewgoy <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">(</span>1920-2003), que, mesmo aparecendo pouco, é sempre alentador,
o resto do numeroso plantel vai e vem meio indistintamente, sem
profundidade, sem gerar empatia ou interesse.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-hXRyKRtF6iU/V2hg8wut8RI/AAAAAAAAUTA/aeFhpSiN9RQ0-bmUAves6ETnxF7La-VlgCKgB/s1600/cobraverde6.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="179" src="https://4.bp.blogspot.com/-hXRyKRtF6iU/V2hg8wut8RI/AAAAAAAAUTA/aeFhpSiN9RQ0-bmUAves6ETnxF7La-VlgCKgB/s320/cobraverde6.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Kinski e seu semblante cansado </span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Cobra Verde</i>
também desagradou muita gente por não ser crítico à escravidão ou mesmo
tentar contextualizá-lo de alguma forma, e sim apenas mostrá-la como
parte (central, aliás) da história que pretendia contar (parece que
Herzog nessa época desagradou quando foi panfletário e quando não foi,
vide</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: small;"> <i><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/05/1984-wo-die-grunen-ameisen-traumen.html">Wo Die Grünen Ameisen Träumen</a> e </i></span></span><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/01/1984-ballade-vom-kleinen-soldaten.html"><i><span style="font-size: small;"><span style="font-weight: normal;">Ballade Vom Kleinen Soldaten</span></span></i></a>). <br /><br />Isso pareceu irritá-lo, dadas algumas de suas declarações sobre a polêmica: “<i>Herzog
afirma que o filme foi deliberadamente feito para não ser uma
declaração sobre a moralidade do tráfico de escravos: ‘O filme nunca
denuncia a escravidão. Funciona dentro do clima e do pensamento daquele
tempo... isso, claro, é até certo ponto politicamente incorreto. Mas e
daí? Não tenho nenhum problema com isso’</i>”. <span style="font-size: xx-small;">8</span> “<i>Não,
o filme não é sobre a história do colonialismo, como o romance de
Chatwin também não é. E eu não o considero um filme histórico, assim
como eu nunca vi <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/11/1972-aguirre-der-zorn-gottes.html">Aguirre...</a></i> <i>como sendo, de qualquer forma, histórico</i>. (...) Cobra Verde <i>é sobre grandes fantasias e loucuras do espírito humano, não sobre colonialismo</i>”. <span style="font-size: xx-small;">9</span> “<i>O
fato é que, em Gana, onde filmamos, a escravidão ainda é uma
espécie de tabu, ao contrário do colonialismo. Nos Estados Unidos e no
Caribe há muito debate sobre a escravidão, no Brasil também, mas em
muitos lugares na África a ferida da escravidão é tão profunda e
dolorosa que quase ninguém fala sobre isso em público. É um assunto
quase intocado. Eu sempre suspeitei que uma das razões para isso é o
fato bem estabelecido de que reinos africanos estavam envolvidos no
tráfico de escravos, quase tanto quanto os comerciantes brancos. Houve
também uma grande quantidade de comércio de escravos entre o mundo árabe
e África negra, e mesmo dentro das próprias nações africanas"</i>. <span style="font-size: xx-small;">10</span><br /><br />Sobre a própria locação principal do filme, o diretor afirma: “<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A</span>
África sempre me atraiu, mas de forma diferente de Hemingway. Nunca me
senti atraído pelo fascínio nostálgico do Kilimanjaro ou dos safáris,
mas sim pelo fato de ser um continente cheio de mistérios. Claro que
todas as vezes em que fui lá acabaram mal, com a possível exceção da
filmagem de </i>Cobra Verde<i>. Normalmente o que acontecia era que eu adoecia,
ou era preso, coisas assim</i>”. <span style="font-size: xx-small;">11</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-MtWyRhT-TDg/V2hg8fbG67I/AAAAAAAAUTc/Km_A6NXakjoIEDdwKtpifb3bEaw9L08twCKgB/s1600/cobraverde3.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="181" src="https://1.bp.blogspot.com/-MtWyRhT-TDg/V2hg8fbG67I/AAAAAAAAUTc/Km_A6NXakjoIEDdwKtpifb3bEaw9L08twCKgB/s320/cobraverde3.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Escravidão</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Aí vem a pergunta: mas o filme é tão ruim assim mesmo? Olha, embora tenha cenas belíssimas, e várias sequências de impacto – incluindo o amargo final – e seja perfeitamente inserido no cânone herzogiano (não há nenhuma grande ruptura, pelo contrário, é uma continuação normal do trabalho dele a época), <i>Cobra Verde</i> parece tão cansado, amargo e desconfortável quanto seu protagonista.<br /><br />O protagonista é um óbvio anti-herói herzogiano, com uma amargura que se deixa entrever esperança e desengano na mesma medida, em meio à natureza igualmente bela e hostil, sendo um peão em lutas de poder muito maiores do que ele. A jornada de Cobra Verde é uma grande peregrinação a um lugar qualquer que lhe sirva.<br /><br />Porém, no final, o que resta e lutar inutilmente contra a maré inexorável, empurrando o pesado barco que não cede. Não adianta fugir, tudo é em vão, somos prisioneiros em nossa existência na natureza hostil e indiferente. Tanto a ele quanto ao escravo com poliomielite que some, manquitolando, no horizonte.<br /><br />Como diz a estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli: “<i>É como se o olhar, sublinhando as preocupações claustrofóbicas do protagonista, tivesse decidido se encerrar no breve espaço entre o forte e o mar, com o olhar sempre voltado para um regresso impossível. Na cena final, Cobra Verde, perdido tudo e perdido o poder, não consegue sequer mover o barco, com o qual poderia lançar-se ao mar. A ele, que subverteu as regras de todos os lugares onde esteve, nem sequer lhe é concedido perder-se na paisagem imensa do oceano</i>”. <span style="font-size: xx-small;">12</span><br /><br />De fato, a cena final impressiona, como fez ao próprio diretor, sinalizando que aquele também era o esforço artístico final de Klaus Kinski na filmografia que ambos construíram: “<i>Houve momentos em </i>Cobra Verde <i>dos quais nunca vou esquecer. A cena final em que ele tenta empurrar o barco para o oceano está cheio de tanto desespero, e Kinski é magnífico enquanto cai na água. Mas eu sabia era o momento em que poderíamos ir mais longe no filme, e eu disse isso a ele. Não havia nada que eu gostaria de ter descoberto com ele além do que eu já tinha descoberto nesses cinco filmes. Ele tinha certas qualidades que senti e que nós exploramos juntos, mas qualquer coisa além de </i>Cobra Verde<i> teria sido repetição”. (...) “A cena final de </i>Cobra Verde <i>foi o último dia de filmagem que nós fizemos juntos na vida. Ele tinha posto tanta intensidade nessa cena final que ele simplesmente se desfez depois. Mesmo no momento ambos percebemos isso, e ele mesmo me disse: 'Não podemos ir mais longe. Eu não sou mais</i>". <span style="font-size: xx-small;">13</span></span><br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-Fycw6cqIx6Q/V2hg8w0QKLI/AAAAAAAAUTc/hKXcI-GJfYUoe3qOMy_ZGu95DTb78L8fACKgB/s1600/cobraverde7.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="181" src="https://3.bp.blogspot.com/-Fycw6cqIx6Q/V2hg8w0QKLI/AAAAAAAAUTc/hKXcI-GJfYUoe3qOMy_ZGu95DTb78L8fACKgB/s320/cobraverde7.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Klaus Kinski e seu inútil esforço final</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: xx-small;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">Mas, mesmo com essa contextualização, o ‘todo’ não funciona, fazendo deste um dos piores herzogs que vi, junto com <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/04/1976-herz-aus-glas.html"><i>Herz Aus Glas</i></a>, <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/05/1980-huies-sermon.html"><i>Huie’s Sermon</i></a> e <i><span style="font-weight: normal;"><a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/05/1976-how-much-wood-would-woodchuck-chuck.html">How Much Wood Would A Woodchuck Chuck</a>.</span></i><i> </i>A década de 1980 segue não muito auspiciosa para o diretor alemão. Porém, a #MaratonaHerzog segue.</span></span></div>
<h3 class="post-title entry-title" itemprop="name">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></h3>
<div align="justify">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Curiosidades:<br /><br />– o papel do Rei Bossa Ahadee de Dahomey é interpretado por um ‘rei’ de verdade o omanhene (espécie de governante tribal) de Nsein, um vilarejo ganês, e sua corte, de aproximadamente 300 pessoas, foi usada como arte da figuração do filme, improvisadamente;<br /><br />– outra figuração utilizada de improviso foi a dos guerreiros da tribo Bolgatanga, que aparecem na praia quando da chegada de Cobra Verde;<br /><br />– para a reconstrução da residência real, especialmente as caveiras cenográficas, a produção contrabandeou gesso da Costa do Marfim, onde estava sendo erigida uma grande catedral;<br /><br />– Herzog conta uma das curiosidades/dificuldades com as mulheres do exército de amazonas: “<i>Outra vez tivemos que alinhá-las no pátio interior da fortaleza dos escravos para pagá-las. Nós abrimos apenas uma pequena passagem através da porta principal, o que significava que elas saíram uma após a outra, caso contrário, teriam caído sobre o dinheiro. O que aconteceu foi que 800 delas forçaram a porta ao mesmo tempo e foram esmagando as que estavam na frente, quase até a morte. Algumas desmaiaram, e eu só dissipei a situação puxando um policial próximo e fazendo com que ele disparasse três tiros para o ar, fazendo-as recuar</i>”; <span style="font-size: xx-small;">14</span><br /><br />– originalmente, o filme seria lançado nos EUA pela De Laurentiis Entertainment Group, o que certamente garantiria ampla distribuição, mas, com a falência da empresa, o filme nem passou nos cinemas de lá, e só foi distribuído direto em vídeo, em 2000, pela Anchor Bay;<br /><br />– Sobre a frase final do filme (“<i>Os escravos venderão os seus senhores e lhes crescerão asas</i>”), Herzog diz: “<i>Não sei se encontrei essa citação no livro de Chatwin ou se foi produto da minha imaginação. Provavelmente não está no livro</i>”. <span style="font-size: xx-small;">15</span><br /><br />– Herzog e Chatwin se admiravam mutuamente e foram amigos desde que se conheceram, em 1984, até a morte deste, em 1989. Chatwin dizia sempre levar consigo uma cópia de <i>Caminhando No Gelo</i>, livro d<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o alemão</span> [mais sobre ele <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html">aqui</a>];<br /><br />– Segundo Chatwin, na mesma época em que Herzog decidiu filmar <i>O Vice-Rei De Ouidá</i>, David Bowie manifestou também manifestou interesse nos direitos do livro;<br /><br />– no livro, Cobra Verde e Francisco Manoel da Silva são pessoas diferentes, e o primeiro aparece pouco na narrativa – Herzog optou por torná-los uma pessoa só no filme;<br /><br />– sobre essa que foi a quinta e última parceria com Kinski, Herzog complementa: “<i>Ele morreu em 1991 em sua casa ao norte de San Francisco. Ele tinha acabado queimar a si mesmo como um cometa. Como eu, Kinski era uma pessoa muito física, mas de uma maneira diferente. Nós complementamos bem um aos outro, porque ele fizemos tudo juntos. Ele atraiu o rebanho magneticamente e eu segurei-o junto. Kinski foi feito para mim, para o meu cinema. Às vezes eu quero colocar meu braço em torno dele novamente, mas eu acho que eu só sonho com isso porque eu já vi isso em imagens antigas dos dois de nós. Não me arrependo de nenhum momento, nenhum. Talvez sinta falta dele. Sim, agora e depois eu sentirei falta dele</i>”; <span style="font-size: xx-small;">16</span><br /><br />– a relação com Kinski futuramente retornará a esta #MaratonaHerzog com o documentário </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Mein Liebster Fiend</i></span> (1999), especificamente sobre isso;<br /><br />– quanto ao <i>Paganini</i> de Klaus Kinski, que é mesmo tão ruim quando parece, tem uma crítica bem legal <a href="http://filmesparadoidos.blogspot.com.br/2012/11/paganini-1989.html">aqui</a>;<br /><br />– o cineasta suiço Steff Gruber (1953–) acompanhou as filmagens de <i>Cobra Verde</i> e fez um documentário, <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Location_Africa"><i>Location Africa</i></a> (1987), sobre isso. Herzog, aparentemente, não curtiu muito: “<i>Não gosto nada dele porque o cineasta se afastou de sua ideia original de forma a se concentrar na sua experiência pessoal, em como se apaixonou por uma moça africana, uma das figurantes, e não gosto do tom do filme, da sua atmosfera, ou da forma como me acusa de nada saber acerca das mulheres africanas escolhidas para desempenhar o papel do exército de amazonas. Claro que se precisamos dirigir 800 figurantes e obter um resultado, se temos que treiná-los num campo de futebol, com um coordenador de figurantes italiano, sob pressão porque o tempo é escasso, é claro que não teremos tempo de estudar profundamente suas origens sociais. Claro que não percebi a totalidade de suas situações! Gostei delas e se deram bem comigo. (...) Não gosto do tom de queixinhas desse filme. Não interessa se alguém me descreve de modo negativo, façam-no à vontade, isso não me incomoda, mas não gosto é da atmosfera de queixume constante que inunda o filme</i>”. <span style="font-size: xx-small;">17</span><br /><br />– A banda de death metal norueguesa radicada na Itália Hideous Divinity lançou em 2014 um <a href="https://www.youtube.com/watch?v=3-lWTL4j-Vs">álbum conceitual</a> sobre <i>Cobra Verde</i>.<br /><br /><br /><span style="font-size: x-small;">¹ <a href="http://www.nytimes.com/2007/03/23/movies/23cobr.html?_r=0">http://www.nytimes.com/2007/03/23/movies/23cobr.html?_r=0</a><br /><span style="font-size: xx-small;">2 3 5 6 7 9 10 13 14 16</span> HERZOG, Werner. In: <i>Herzog On Herzog</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.<br /><span style="font-size: xx-small;">4</span> DUERFAHRD, Lance. <i>The Friendship Of Klaus Kinski And Werner Herzog</i>. In: <i>A Companion To Werner Herzog</i>, de Brad Prager. Wiley-Blackwell, 2012.<br /><span style="font-size: xx-small;">8</span> Herzog, Werner. Comentário do diretor no DVD de <i>Cobra Verde</i>. In: <i>The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth</i>. Wallflower Press, 2007.<br /><span style="font-size: xx-small;">11 12 15 17</span> PAGANELLI, Grazia. <i>Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema</i> (<i>Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema</i>, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.
</span></span></div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-55123700196544079092016-05-29T18:31:00.002-03:002016-08-03T22:42:01.958-03:00(1986) Werner Herzog: Filmemacher<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha | 30min | 16 mm |cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Lucki Stipetić</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Christine Ebenberger </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Maximiliane Mainka </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Jörg Schmidt-Reitwein</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: Popol Vuh</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: imagens de arquivo de </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Werner Herzog, Reinhold Messner, Lotte Eisner, Paul Hittscher, Mick Jagger, Klaus Kinski, Thomas Mauch, Beat Presser, Jason Robards, Walter Saxer, Franz Josef Strauß</span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>Um autorretrato que lida com o seu desenvolvimento artístico e abordagens sobre cinema, artesanato, paisagens, locais, língua, inocência, improvisação, expressão poética, assunção de riscos, música, miragens, roteiro, relação com desastres, condicionamento cultural, determinação, obsessões visões sobre diferentes tipos de filmes e sua preocupação com estéticas.</i>” ¹</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Também conhecido como ‘<i>Portrait Werner Herzog</i>’, este é um adorável curta-metragem autobiográfico, como já citado acima, em que o diretor, sempre naquele tom tranquilo/melancólico, conta histórias sobre sua vida e sua carreira até então (já respeitabilíssima, com reconhecimento mundial e 27 filmes em 24 anos).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Temos Herzog na Oktoberfest em Munique, reunido com amigos do ramo cinematográfico, toda aquela ‘riqueza cultural’, etc., etc., muita festa & alegria, só para dizer que ‘odeia multidões’ – e corta para sua caminhada solitária pelos montes bávaros (“<i>Sou o tipo de pessoa que viaja a pé, mesmo por longas distâncias</i>”).<br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-pSv1tWfxIPQ/V0tdRwHi4wI/AAAAAAAAT9I/yW23j9obtWEpfQPPN98DRzYxhOKx5_v6gCLcB/s1600/filmemacher.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="241" src="https://2.bp.blogspot.com/-pSv1tWfxIPQ/V0tdRwHi4wI/AAAAAAAAT9I/yW23j9obtWEpfQPPN98DRzYxhOKx5_v6gCLcB/s320/filmemacher.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Cineasta & solitude</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Temos uma rápida explicação sobre sua epopeia <i>Caminhando No Gelo</i>, e como toda sua obra é feita ‘a pé’, sempre dura e presencialmente, sentindo tudo e participando de todos os extremos, e então há uma preciosa sequência de arquivo em que Herzog o montanhista Reinhold Messner, de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/03/1984-gasherbrum-der-leuchtende-berg.html"><i>Gasherbrum – Der Leuchtende Berg</i></a>, discute um futuro filme, que nunca houve, envolvendo Klaus Kinski (1926-1991) e o Himalaia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mais um pouco de solidão nos vales, onde Herzog medita sobre sua obra e gosta de escrever prosa, poesia e roteiros, e temos uma explicação mais detalhada sobre Caminhando No Gelo, para que seja introduzida sua entrevista/conversa com a amiga e crítica franco-alemã de cinema Lotte Eisner (1896–1983), em que ela fala de seu encantamento com <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/09/1968-lebenszeichen.html"><i>Lebenszeichen</i></a>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Das belas sequências desse sensível filme, conectadas as paisagens oníricas de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/04/1976-herz-aus-glas.html"><i>Herz Aus Glas</i></a>, o selvagem verdejante de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/11/1972-aguirre-der-zorn-gottes.html"><i>Aguirre, Der Zorn Gottes</i></a> e a vastidão desértica de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/10/1970-fata-morgana.html"><i>Fata Morgana</i></a>, Herzog, alertado por Lotte Eisner, nota que eles tinham ligação com o romantismo alemão, notadamente as vastas e melancólicas paisagens do pintor Caspar David Friedrich (1774–1840). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Essa ideia de pertencimento à genealogia da arte alemã, especialmente retomando a linha evolutiva do cinema interrompida pelo nazismo, surgiu no diretor à época de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/08/1979-nosferatu.html"><i>Nosferatu</i></a>, e Herzog a retoma neste momento, falando também sobre como foi crescer na Alemanha do pós-Guerra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Falando sobre sua infância nas paisagens bávaras, o alemão conta seu sonho de criança: ser um atleta de saltos de ski, um <i>ski-jumper</i>; sonho deixado para trás após o trauma da morte de um amigo. E isso explica a realização de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/01/1974-die-groe-ekstase-des.html"><i>Die Große Ekstase Des Bildschnitzers Steiner</i></a>: ainda querer ser como Walter Steiner.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Corta para uma viagem de carro por planícies britânicas, com Herzog se indagando sobre as dificuldades de erguer aqueles dólmens e menires celtas à Stonehenge, só para chegarmos nos titânicos desafios de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html"><i>Fitzcarraldo</i></a>, mostrados em cenas de <i>Burden Of Dreams</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No final, enquanto vemos fotos de tantos outros filmes-desafios, todos eles vividos na pele por Herzog, com sua equipe, não podemos deixar de duvidar de suas palavras finais: "<i>Aqui podemos ver realmente como é difícil fazer um filme; mas esta é a minha vida, e não quero vivê-la de nenhuma outra forma</i>".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><br />Curiosidades:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />- tem grátis no <a href="https://www.youtube.com/playlist?list=PL83A6C1B57BF6274E">YouTube</a>; qualidade razoável, dá pra ver:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />- sobre <i>Burden Of Dreams</i> e <i>Caminhando <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">N</span>o Gelo</i>, ver o post sobre <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html"><i>Fitzcarraldo</i></a>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: xx-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">¹ <a href="https://www.filmfest-muenchen.de/en/programm/filmarchiv/film/?id=2756&y=13">https://www.filmfest-muenchen.de/en/programm/filmarchiv/film/?id=2756&y=13</a></span></span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-15625303810101996662016-05-28T11:50:00.002-03:002016-07-27T16:08:20.009-03:00(1984) Wo Die Grünen Ameisen Träumen<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (Austrália) | 100min | 35 mm |cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Lucki Stipetić</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Claus Langer</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Maximiliane Mainka</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Jörg Schmidt-Reitwein</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música:</b> excertos de Gabriel Fauré, Ernst Bloch, Richard Wagner, Klaus-Jochen Wiese e música tradicional aborígene de Wandjuk Marika</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Bruce Spence (Lance Hackett), Wandjuk Marika (Miliritbi), Roy Marika (Dayipu), Ray Barrett (Cole), Norman Kaye (Baldwin Ferguson), Ralph Cotterill (Fletcher) Nick Lathouris (Arnold), Basil Clarke (Judge Blackburn), Ray Marshall (Coulthard), Gary Williams (Watson), Tony Llewellyn-Jones (Fitzsimmons) </span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há certo consenso sobre a década de 1980 ser a menos inspirada de
Herzog (apesar de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2015/11/1982-fitzcarraldo.html"><i>Fitzcarraldo</i></a>, ou especialmente por causa dele), devido
à indefinição entre abraçar o mainstream e manter seu caráter
independente. E isso fica escancarado, mais do que eu qualquer outra
realização do período, neste <i>Wo Die Grünen Ameisen Träumen</i> (<i>Onde Sonham As Formigas Verdes</i>). <br /><br />Nas palavras do estudioso alemão de cinema Thomas Elsaesser (1943–): “<i>Em
seu primeiro filme rodado totalmente em inglês, é certamente consciente
do desafio de se dirigir a dois tipos de audiência: uma para quem um
roteiro bem construído é uma traição ao cinema, e outra para quem um
filme sem isso não é realmente cinema</i>”. ¹</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-w325b33a1f4/V0mttXXbKsI/AAAAAAAAT8o/Hgv5OQhJLf4CX_9hajbqLXnAKAwCT0ncQCKgB/s1600/ants1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="164" src="https://1.bp.blogspot.com/-w325b33a1f4/V0mttXXbKsI/AAAAAAAAT8o/Hgv5OQhJLf4CX_9hajbqLXnAKAwCT0ncQCKgB/s320/ants1.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Ordem no caos primordial</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A
história toda, interessante, até, é apresentada em menos de dez
minutos: uma grande mineradora pretende explorar urânio no deserto
australiano, mas encontra a oposição de uma tri<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">b</span>o aborígene, que
considera aquela terra sagrada, por ser onde moram e sonham as sagradas
formigas verdes do título do filme; um dos geólogos se compadece da
causa dos indígenas, e se vê no meio dessa disputa entre brancos e
negros, passado e presente, civilização e natureza [que vai parar nos
tribunais].<br /><br />O próprio Herzog parece não muito interessado na narrativa convencional, nota </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Elsaesser</span>: “<i>uma
falta de interesse na causalidade, por exemplo, é evidenciada no modo
como ele maneja as transições de frame para frame, assim como de cena a
cena. Em vez de uma narrativa construída com sequência dramáticas,
Herzog trabalha em unidades isoladas. O corte é meramente um jeito de
buscar outro bloco situacional, para se mover de outro espaço ou até
outro espaço</i>”. ²<br /><br />Além de essa história ser toda apresentada
de uma vez, sem mistérios ou reviravoltas, e de os núcleos de
personagens irem e virem de forma desinteressante, há o problema de os
personagens serem todos esquemáticos: temos os homens brancos de
negócios, sempre insensíveis e cartesianos, incluindo um racista
operador de escavadeira; os aborígenes, que, exceto por um ex-piloto de
avião, alcoólatra, são todos naquele esquema de “sabedoria meio
silenciosa e pura dos povos antigos”; e, no meio disso, Lance Hackett, o
geógrafo que simboliza a ponte impossível entre esses dois mundos.</span><br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-woGBPaMns2c/V0mttWsFODI/AAAAAAAAT80/3yaAvVTzLocro7imGpSFGT1Jey4Su2OJQCKgB/s1600/ants2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="163" src="https://4.bp.blogspot.com/-woGBPaMns2c/V0mttWsFODI/AAAAAAAAT80/3yaAvVTzLocro7imGpSFGT1Jey4Su2OJQCKgB/s320/ants2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Obstinação</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-dKiZ7WJWKS0/V0mttecZj_I/AAAAAAAAT8w/by0gsTOf6PUaqJCBIoV34EvD13FM6YROwCKgB/s1600/ants3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="165" src="https://4.bp.blogspot.com/-dKiZ7WJWKS0/V0mttecZj_I/AAAAAAAAT8w/by0gsTOf6PUaqJCBIoV34EvD13FM6YROwCKgB/s320/ants3.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Indecisão</span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Para o crítico norte-americano de cinema Vincent Canby (1924–2000), “<i>Herzog
lida com essa narrativa de forma eficiente, mas quase com relutância,
como se ele não pudesse se importar menos sobre o que acontece em
seguida. Suas principais preocupações são muito mais místicas, e, às
vezes, tão conscientemente distorcidas que ele parece estar dizendo que
qualquer interpretação específica dos eventos seria um desserviço para o
santo mistério da própria vida</i>”. ³<br /><br />Dá certa frustração o
modo como Herzog, de certa forma, estraga a própria ideia de filme, sem
lev<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">á</span>-la a fundo e, nenhum momento, e deixando tudo correr de forma
frouxa – coisa que não funciona bem aqui, uma vez que, ao contrário de
seus filmes típicos, se apresenta a nós uma história que promete começo,
meio e fim. O filme até se desenvolve, mas por inércia, não por esforço
do diretor.<br /><br />Até coisas que podemos considerar como qualidade do
diretor, como o interesse em cenas/personagens que não necessariamente
têm a ver com o filme, mas que, uma vez lá, têm seu l<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">u</span>gar,
aqui surgem deslocadamente: o velho aborígene, último de sua tribo,
considerado mudo pelos autos do processo porque sua língua não é
compreendida por mais ninguém, não tem o impacto esperado; e a subtrama
da senhora à procura de seu cão que teria sumido nos túneis das minas só
me causou irritação. <br /><br />Outros problemas: Hackett, o geólogo
virtuoso, embora simpático, não é o típico personagem hergoziano,
desajustado, cheio de ira e/ou angústia, que carrega o filme e toda a
existência nas costas. É o ‘herói’ da história, observa </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Elsaesser</span>, “<i>apenas
no sentido clássico e limitado de motivar o progresso da narrativa,
servindo de intermediário entre as facções opostas do filme enquanto
mediador das simpatias da audiência</i>”. <span style="font-size: xx-small;">4</span><br /><br />Isso
deixa a história sem protagonista: não é um filme sobre ele, nem sobre
os aborígenes, nem sobre os mineradores, tampouco sobre as formigas
verdes. A condução da história, dada que semidocumental, é previsível, e
levada a cabo por Herzog com pouco afinco, e o final não esclarece
muita coisa. Então o filme é uma porcaria completa, certo?<br /><br />Vamos com calma. O crítico norte-americano de cinema Roger Ebert (1942–2013) nos dá pistas valiosas: “<i>Herzog
disse que pensa em imagens, não id<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e</span>ias, e que se ele pode encontrar as
imagens corretas para um filme, não fica preocupado com a sua mensagem.
(...) Mas há uma realidade, no entanto, nesse filme estranho, e ela sai
dos dois conjuntos conflitantes de crenças</i>”. <span style="font-size: xx-small;">5</span><br /><br />Pode-se
dizer que temos aqui o motivo herzogiano da natureza primordial, em seu
caos tão bem ordenado (representada pelos aborígenes), a ser corrompida
pela presença humana, no caso branca e ocidentalizada. O contato com
esse ambiente selvagem, inóspito, impenetrável para nosso conhecimento,
leva à inexorável entropia, à degeneração, à ruína. São modelos
inconciliáveis, que, ao se tocarem, geram apenas desequilíbrio – as
sagradas formigas que deixam de sonha tudo que existe –<br /><br />Nisso temos claro parentesco com <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/10/1970-fata-morgana.html"><i>Fata Morgana</i></a>:
o filme começa e termina com imagens hipnóticas de um redemoinho
tempestuoso de areia no deserto; as formigas verdes sonham o mundo e
então deixam de sonhá-lo, ou vão sonhá-lo em outra parte. Representam
uma existência perdida no tempo, da humanidade sem passando, sem rumo,
sem memória. Degeneração – e a placidez do nada-haver vai se instalar em
outro lugar, distante daquelas pessoas tão preocupados com a
materialidade do presente, para restaurar seu equilíbrio de assombro e
indiferença.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-3fr3EJ1QJBw/V0mtt9-CeII/AAAAAAAAT80/L9l0DuEM3B827wta0ngwWaxpOMB7-7snACKgB/s1600/ants4.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="163" src="https://4.bp.blogspot.com/-3fr3EJ1QJBw/V0mtt9-CeII/AAAAAAAAT80/L9l0DuEM3B827wta0ngwWaxpOMB7-7snACKgB/s320/ants4.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ecos de <i>Fata Morgana</i></span></span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Como decreta Vincent Canby, sobre o filme: “<i>Como narrativa convencional, é extremamente simples e bastante descuidado, mas nunca simplório, sendo repleto de momentos de loucura inspirada e sabedoria. (...) Outro capítulo fascinante, às vezes enlouquecedor, em sua contínua obsessão com o destino da Terra e o de si mesmo</i>”. <span style="font-size: xx-small;">6</span><br /><br />Uma chave para o entendimento sobre o filme vem da fala de um dos aborígenes: “<i>Vocês homens brancos estão perdidos. Vocês não compreendem a terra. Muitas questões tolas. Sua presença nesta terra chegará ao fim. Vocês não têm nem senso, nem propósito, nem direção</i>”. <br /><br />Pode-se dizer, enfim, que não é um filme estranho à filmografia do diretor – embora um filme não devesse depender de contexto para ser bom, e este, analisado isoladamente, é fraco, irregular –, mas, como já dito, patina nessa indefinição entre a convenção e a experimentação, não sendo satisfatório para nenhuma das duas audiências.<br /><br />O próprio Herzog não tem o filme em sua mais alta conta: “<i>Bem, o filme é bastante óbvio em ter algum tipo de ‘mensagem’. Ele tem um tom tão hipócrita que eu gostaria de ter cortado do filme, ele cheira mal. (...) O filme não é de todo ruim, só tem um clima que eu não suporto. Ainda gosto das sequências do início e do final, as imagens como se viessem do fim do mundo</i>”. <span style="font-size: xx-small;">7</span><br /><br />De fato, as sequências desérticas, que remetem ao magnífico <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2013/10/1970-fata-morgana.html"><i>Fata Morgana</i></a>, são o que há de melhor no filme. Mas aguardemos que esse glacê ‘de protesto’ um tanto simplório tenha ficado inteiramente neste filme e em <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2016/01/1984-ballade-vom-kleinen-soldaten.html"><i>Ballade Vom Kleinen Soldaten</i></a> e os pequenos apocalipses herzogianos do dia a dia retornem nos próximos capítulos da #MaratonaHerzog. <br /><br /><br /><br />Curiosidades:<br /><br />– o filme venceu o German Film Awards de 1984 nas categorias ‘melhor filme’ e ‘melhor fotografia’;<br /><br />– Herzog faz uma ponta não creditada como um dos advogados da cena do julgamento;<br /><br />– toda a lenda das formigas verdes foi inventada por Herzog, e aparentemente não há nada parecido com isso no folclore aborígene;<br /><br />– sobre próprio o conceito aborígene de ‘sonho’, Herzog afirma: “tenho que ter cuidado quando se discute conceitos como ‘sonho’, porque não sou especialista. (...) Algo como 20.000 anos de história nos separa deles. (...) Meu entendimento muito limitado é que as histórias oníricas aborígenes e seus mitos explicam as origens de tudo no planeta e foram especialmente importantes para os indígenas pré-coloniais. Posso dizer que o filme não é certamente o ‘sonho’ deles, é o meu”; <span style="font-size: xx-small;">8</span><br /><br />– apesar disso, no nordeste da Austrália realmente existem formigas verdes endêmicas, as <i>Rhytidoponera metallica</i>, chamadas de green-head ants (não se sabe sabe se elas sonham); <br /><br />–a história do artefato secreto apresentado na corte é baseada em um incidente verídico;<br /><br />– a disputa ‘indústria x aborígenes’ foi inspirada em um caso real dos 1970s, em que uma empresa suíça de extração de bauxita disputou (e venceu na Justiça) o terreno da mineração com os locais, a tribo Yolngu; <br /><br />– a crítica em geral achou que o filme ficou desconfortavelmente colocado entre a ficção e o documentário, e o jornalista australiano Phillip Adams, particularmente irritado, reclamou que o filme deixava implícito que o governo do país estava contra os aborígenes e fez até um artigo chamado <i>Dammit Herzog, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Y</span>ou <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A</span>re <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A</span> Liar</i>!;<br /><br />– o filme é dedicado à mãe de Herzog, que morreu quando o filme estava em andamento;<br /><br />– o diretor de fotografia Jörg Schmidt-Reitwein passou quatro semanas em Oklahoma apenas para perseguir tornados para as sequências inicial e final;<br /><br />– dois nomes de personagens do filme, ‘Baldwin Ferguson’ e ‘Miss Strehlow’, têm a ver com antropólogos pioneiros no estudo do aboríneges, respectivamente Baldwin Spencer (1860–1929) e Theodor George Henry Strehlow (1908–1978)<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">;</span><br /><br />– além do pagamento em dinheiro, os aborígenes pediram pagamento em fitas de kung fu, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a</span>s quais eram sempre vist<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a</span>s, em grupo, após a jornada diária de filmagem;<br /><br />– sobre a história paralela de Miss Strehlow, que procura paciente e obstinadamente seu cão perdido, Herzog diz, nos comentários do DVD do filme: “<i>Não tinha nada a ver com o enredo central; mas, às vezes, eu não sei como isso acontece, histórias como essa, sobre um cão perdido, subitamente se tornam mais importantes que o começo de um filme normal</i>”. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><br /><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: xx-small;">¹ ² 4</span> ELSAESSER, Thomas. <i>An Anthropologist's Eye</i>: Where The Green Ants Dream. In: <i>The Films Of Werner Herzog: Between Mirage And History</i>, de Timothy Corrigan. Methuen, 1986.<br /><span style="font-size: xx-small;">3 6</span> <a href="http://www.nytimes.com/1985/02/08/movies/where-the-green-ants-dream.html">http://www.nytimes.com/1985/02/08/movies/where-the-green-ants-dream.html</a><br /><span style="font-size: xx-small;">5</span> <a href="http://www.rogerebert.com/reviews/where-the-green-ants-dream-1984">http://www.rogerebert.com/reviews/where-the-green-ants-dream-1984</a><br /><span style="font-size: xx-small;">7 8</span> HERZOG, Werner. In: <i>Herzog On Herzog</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.</span></span></div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2550439236851766805.post-21194484262730729682016-03-23T16:06:00.001-03:002016-04-08T00:45:49.295-03:00(1984) Gasherbrum – Der Leuchtende Berg<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alemanha (Paquistão) | 45min | 16 mm |cor</span></b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Roteiro e direção</b>: Werner Herzog</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Produção</b>: Lucki Stipetić</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Som</b>: Christine Ebernberger </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Montagem</b>: Maximiliane Mainka </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Fotografia</b>: Rainer Klausmann</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Música</b>: Florian Fickle (Popol Vuh)</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Elenco</b>: Reinhold Messner e Hans Kammerlander</span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“The Dark Glow Of The Mountains [título internacional do filme]<i> veio de questões que eu estava fazendo a mim mesmo. Por que Messner – um homem que perdeu seu irmão durante uma expedição – sente a necessidade de escalar Nanga Parbat </i>[montanha no Paquistão]<i> uma segunda vez? O que motiva um homem como esse? Um vez perguntei a ele, ‘Você não se sente meio perturbado por continuar a escalar montanhas?’. ‘Toda pessoa criativa é insana’, ele me disse. (...) Uma vez ele me disse que ele era incapaz de descrever a sensação de que o obriga a subir mais do que ele poderia explicar o que o obriga a viver.</i>” ¹</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Este média-metragem é um perfil do conhecido montanhista Reinhold Messner, prestes a escalar a montanha Gasherbrum (‘A Montanha Luminosa’ do título original), no Himalaia, com seu amigo Hans Kammerlander (também um célebre escalador). </span><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-cmIKFfJjHrc/VvLpa2rI5GI/AAAAAAAASZc/W5AH8Pg0OCUCEKMA9ID1OK6Txyp37qV9w/s1600/messner1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="243" src="https://4.bp.blogspot.com/-cmIKFfJjHrc/VvLpa2rI5GI/AAAAAAAASZc/W5AH8Pg0OCUCEKMA9ID1OK6Txyp37qV9w/s320/messner1.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: xx-small;">Reinhold Messner</span></td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />Entre conversas sobre detalhes técnicos da empreitada (embora o filme nem se preocupe muito com isso, obviamente), Herzog procura entender o que leva alguém a uma jornada tão extrema e perigosa, ainda mais considerando que Messner havia perdido o irmão durante uma escalada na montanha Nanga Parbat.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não é preciso pensar muito para perceber os paralelos com o protagonista de <a href="http://maratonaherzog.blogspot.com.br/2014/01/1974-die-groe-ekstase-des.html"><i>Die Große Ekstase Des Bildschnitzers Steiner</i></a>: ambos são heróis herzogianos obstinados e quixotescos, bem-sucedidos no que fazem, porém, melancólicos e introspectivos quando olhados mais de perto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não é difícil simpatizar com o boa-gente e simples Messner, que, entre frases de efeito como “<i>A arte e a criatividade também são formas de degeneração</i>” e “<i>A pergunta não existe porque todo meu ser é a resposta</i>”, fala sobre vício em adrenalina, em superar limites, necessidade de solidão, de conexão com a natureza, de flertar com o perigo e a morte – muitas respostas para o que parece não poder ser respondido. E, quando ele fala da mãe e, principalmente, do irmão, temos momentos bem emotivos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Já as montanhas são a óbvia natureza inóspita e hostil de Werner Herzog, mas desta vez mais imponentes e monolíticas que caóticas e cruéis, diante da qual seus desafiadores não deixarão mais do que pegadas indistintas no gelo eterno. Na brancura imensa das paisagens geladas, o diretor mostra resignação diante da impermanência e da efemeridade do existir.</span><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-bAqxGU0undI/VvLpa7zw4rI/AAAAAAAASZY/LzGEDQds13E3ouGcZwrBV4YcNqgXxBvxA/s1600/Messner2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="243" src="https://4.bp.blogspot.com/-bAqxGU0undI/VvLpa7zw4rI/AAAAAAAASZY/LzGEDQds13E3ouGcZwrBV4YcNqgXxBvxA/s320/Messner2.jpg" width="320" /><span style="font-size: xx-small;"></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: xx-small;">Imensidão</span></td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />No geral, filme OK, despretensioso, mais um só para aficionados em Werner Herzog, ou talvez em montanhismo <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "calisto mt" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">–</span></i> mas a película nem se aprofunda nisso, a despeito das belas imagens sob a trilha sonora dos colaboradores de longa data do Popol Vuh. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Curiosidade:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">– Quando perguntado se não havia ido muito longe no filme com os questionamentos sobre a morte do irmão de Messner, Herzog respondeu:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">“<i>Messner sabia que, ao fazer o filme, que eu estaria cavando fundo para as partes intocáveis dele, e poderia fazer perguntas difíceis sobre a expedição do Himalaia, onde seu irmão morreu. Antes de começarmos o filme que eu lhe disse: 'Haverá situações em que eu irei longe. Mas você é um cara esperto, sabe como se defender’.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Foi difícil decidir se manteríamos a sequência com ele chorando no filme, mas eu finalmente liguei para ele e disse: 'Você fez esses talk-shows sem vida toda a sua vida. Agora, de repente, algo muito pessoal foi trazido à luz, você está aqui como alguém que não é apenas mais um atleta perfeito ou que conquista cada montanha com perfeição fri<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a</span>. É por isso que eu decidi manter a cena'. E uma vez que Messner viu a obra acabada, ficou feliz por termos ido tão longe quanto nós fomos. </span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>O que foi difícil no início foi fazer com que ele aparecesse na câmera como ele mesmo. Então eu acordei Messner e coloquei-o frente da câmera, e imediatamente ele começou o tipo de ‘media-rap’ </i>[?] <i>que ele estava tão acostumado a dar. Parei a câmera imediatamente e disse: ‘Não é desse jeito que eu quero fazer um filme com você. Há sim algo de profundamente e completamente errado em continuar assim. Não um centímetro de filme será desperdiçado dessa forma. Eu preciso ver no fundo do seu coração'. Messner me olhou com cara de atordoado e ficou em silêncio a maior parte do resto do dia. À noite, ele veio até mim e disse: 'Eu acho que eu entendi’. Não haveria misericórdia para ele, como o filme em si não conhece misericórdia</i>”. ²</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: x-small;">¹ ² HERZOG, Werner. In: <i>Herzog On Herzog</i>, de Paul Cronin. Faber & Faber, 2001.</span></div>
Fábio Vanzohttp://www.blogger.com/profile/14722972525781966543noreply@blogger.com0