segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

(2005) Grizzly Man


Alemanha (rodado no Alasca) | 103min | 35 mm | cor
Roteiro e direção: Werner Herzog
Produção: Walter Saxer
Som: Eric Spitzer
Montagem: Joe Bini
Fotografia: Peter Zeitlinger
Música: Richard Thompson, interpretado por ele mesmo e por Danielle de Grutola, John Hanes, James O’Rourke e Damon Smith
Elenco: Timothy Treadwell, Werner Herzog, Carol Dexter, Val Dexter, Sem Egli, Frank G Fallico, Willy Fulton, Mark Gaede, David Letterman


Descobri que, para além de um filme de vida selvagem, em seu material havia uma história de beleza e profundidade surpreendentes. Descobri um filme de êxtase humano e a mais escura perturbação interior.

Esse trecho da narração de Herzog em Grizzly Man (‘O Homem-Urso’, no Brasil) dá a perfeita medida do que se pode encontrar no filme, um documentário sobre o pseudoambientalista norte-americano Timothy Treadwell, nascido Timothy Dexter (1957–2003), um cara claramente com uns parafusos faltando e uma obsessão por ursos-pardos, que, durante 12 anos, visitou anualmente – muitas vezes violando regras de segurança do Katmai National Park And Reserve, no Alasca –, para viver por meses entre as grandes, peludas e perigosas criaturas, até que, no 13º ano, foi devorado, junto com sua namorada, por um dos ursos.

Só isso já seria daria um documentário interessante, porém, tudo fica ainda mais incrível quando ficamos sabendo que o próprio Timothy deixou gravadas mais de 100h de material filmado por ele mesmo, onde se revelam muitos aspectos de sua personalidade: seus medos, suas obsessões, seus métodos, suas incongruências, distúrbios de personalidade diversos e mais um tanto de coisas que só podemos supor.

Timothy já era conhecido, tanto pela aparente completa insanidade em morar com perigosos ursos (que sequer precisavam ser protegidos, como especialistas afirmam no filme), completamente desarmado, como por aparecer em programas de televisão, como entrevistado, e por suas visitas a escolas de todos os EUA, dando palestras (gratuitas) sobre ambientalismo e ursos-pardos. Era considerado um “maluco do bem”, inofensivo, embora quase todo mundo esperasse que, cedo ou tarde, ele se daria mal em suas estadias selvagens (os testemunhos de amigos e conhecidos dão conta igualmente desses dois fatos).

A crítica de cinema norte-americana Manohla Dargis reforça este ponto: “Ao longo de Grizzly Man, homens e mulheres prestam testemunho da amabilidade e ingenuidade de Treadwell. Alguns são gentis; outros menos. Cada testemunha parece capturar alguma qualidade autêntica de Treadwell, que, a partir da evidência de seus vídeos e da indagação simpática de Herzog, parecia igualmente gentil e ingênua, corajosa e tola. Em algum momento, essa loucura se transformou em uma confusão de ilusões sobre seu poder de sobreviver ao deserto em que ele tão imprudentemente tentou se encontrar. Sua morte, tão inevitável quanto evitável, poderia significar que ele pode ter mais se perdido que encontrado”. ¹

Mas, que fique claro, havia quem não aprovasse seu modo de vida, como lembra o estudioso norte-americano de cinema alemão Brad Prager: “As críticas mais duras a Treadwell sugeriram que ele usou o mito de proteger os ursos para se promover e acumular dinheiro [o que o próprio filme nega], aparecendo em talk shows com Tom Snyder e David Letterman e dizendo ao mundo que ele era a última linha de defesa dos ursos. Ainda outra perspectiva crítica sobre ele sugeria que o principal problema de seu trabalho era permitir que os ursos se acostumassem à sua presença, e que havia boas razões para as regras do parque serem contra se aproximarem deles". ²

                                           As normas do parque recomendam 90m de distância dos ursos...


Enquanto o filme vai pinçando características de Treadwell – além de depoimentos positivos e negativos –, ficamos sabendo, tanto por pessoas próximas quanto por reportagens, que ele era um rapaz que podia ser considerado “comum” (talvez as pessoas simplesmente não notassem que ele precisava de ajuda), aluno OK, bom em natação, sempre gostou de animais (com predileção pelos ursos), fez teste para a famosa sitcom Cheers (1982-1993), mas teria perdido o papel para Woody Harrelson, até que, em algum momento da juventude (anos 1980s), começou a usar muito álcool e outras drogas – o filme não detalha, mas Timothy chegou a ter uma overdose de heroína, quando resolveu canalizar suas angústias para os ursos-pardos, chegando a criar uma fundação, a Grizzly People. 

Ainda somos apresentados a diversos momentos do protagonista, sozinho (ou, pelo menos, na maior parte do tempo, pois sabe-se que ele levou namoradas para a reserva em diversos anos), falando em frente à câmera, interagindo com ursos e raposas ou apenas observando a natureza, além de muito falatório, sobre si (às vezes com sentido, às vezes não), sobre sua preocupação com a preservação daquele ambiente (o qual ele considerava ser o único humano digno de frequentar),e sim, sobre o perigo que ele corria a todo tempo – aparentemente, ele pretendia se tornar um urso-pardo, disputando espaço e sendo respeitado pelos bichos.

Como nota o especialista norte-americano em cinema alemão Eric Ames, “algumas cenas são até engraçadas, o jeito com que Timothy trata as raposas, que essas sim são amigáveis e dóceis, uma beleza da natureza. Sua voz sempre suave ao falar com os ursos, nos apresentando-os pelos nomes: Sargento Brown, Mickey, Saturno, Mr. Chocolate, e ele não se cansava de dizer o quanto os amava. Ao mesmo tempo sentimos carinho, pena e raiva desse ser humano que quis ultrapassar as leis da natureza. Cada vez mais solitário, percebemos que ele queria estar ali, não havia outro lugar no mundo em que preferisse estar”. ³

Outras sequências são mais perturbadoras, como sua ira contra os deuses porque estava chovendo pouco e os ursos-pardos estavam com poucos peixes para comer devido ao baixo fluxo do riacho, ou simplesmente porque ele insistia em burlar a regras de segurança do parque nacional, ralhando contra os funcionários que não só o ajudavam como faziam vista-grossa para sua total falta de respeito às regras; ou o modo como seu humor variava dessa raiva desmedida para uma emoção infantil ao ver um grande monte de excremento de urso, recém-expelido, e para uma tristeza de quem perdeu um parente muito próximo ao ver uma de “suas" raposas mortas no gramado.

Em outra sequência reveladora, ele fica questionando para si e para o mundo porque as garotas não queriam alguém como ele, e que se ele fosse gay, talvez fosse mais fácil de se relacionar e fazer sexo, mas ele dizia não ser gay, e insiste nisso algumas vezes, deixando certa sensação de que ele estava tentando se convencer/afirmar.

                                                                           Devaneios e divagações

Enfim, um poço de contradições, que talvez pudessem ser resolvidas com tratamento psicológico/psiquiátrico – que ele chegou a iniciar, mas interrompeu logo, dizendo que aquele temperamento ciclotímico fazia parte dele, que ele precisava daqueles altos e baixos emocionais para viver. E, assim, ele foi criando sobre si esse mito de grande protetor dos ursos-pardos, enquanto a vida aqui “na civilização”, enquanto não dissesse respeito a esse assunto, pouco interessava; até suas namoradas ele convencia a viver meses em uma região inóspita do parque nacional.

Ao mesmo tempo que ele perdia interesse no mundo onde nasceu, que devia lhe parecer degenerado e frustrante, cheio de seus fracassos, a floresta selvagem, cujos perigos ele, embora desafiasse, soubesse exatamente que corria o tempo todo, era onde ele pensava reinar solitário, forte e corajoso, respeitado pelos poderosos ursos, que precisariam dele para sobreviver.

O crítico de cinema Inácio Araújo dá sequência a meu raciocínio, pois chegou a hora de discutir sobre a relação fílmica entre o protagonista e o diretor de Grizzly Man: “Por meio dele, manifesta-se esse estranhamento do mundo que Werner Herzog tanto cultiva, essas situações aparentemente sem explicação (e profundamente, talvez, também), esses seres que buscam o limite da existência, para os quais muito mais importante do que o resultado é a trajetória, muito mais relevante do que a descoberta é a busca”. 4

Primeiramente, Timothy Treadwell é um personagem herzogiano puríssimo: desequilibrado, com delírios de grandeza numa alma quase sempre torturada, e um grande sonho de conquistar a natureza, que, na opinião de Herzog, tem como cerne “o caos, a hostilidade e o assassinato”. Para Herzog, a Criação deu muito errado, e o mundo selvagem onde o protagonista tentou se enfiar e acabou destroçado é só mais uma prova disso: a natureza é um mundo obscuro que não deve ser desafiado, mas sim mantido à parte do nosso, tendo seus limites respeitados.

Como  bem lembra Eric Ames, “toda a estruturação do trabalho do diretor alemão Werner Herzog se baseia na obsessão, seja ela sua mola impulsionadora, seja ela sua matéria-prima. (...) Grizzly Man não é simplesmente sobre Treadwell ou sua visão particular da natureza (seja ela qual for); antes, a perspectiva em primeira pessoa de seus vídeos, sua força emocional e aparente imediatismo, o conhecimento público das mortes de Treadwell e Huguenard [a namorada que foi morta junto] - todos esses elementos são colocados a serviço da verificação e autenticação de uma parte central da identidade de Herzog como cineasta: visão pessoal do mundo natural como brutalmente indiferente à existência humana”. 5

Além das características pessoais do protagonista, o modo, o método, o olhar que Treadwell tinha sobre o ato de filmar e o que registrar naquela situação absurda (em locais inóspitos e perigosos iguais aos que Herzog visitou tantas vezes) claramente fascina o alemão, que admira muitas de suas características e se identifica com elas.

Nas palavras de Brad Prager: “Existem semelhanças entre Herzog e Treadwell: a real sobreposição entre os dois tem a ver com suas afinidades como filmmakers. No filme de Herzog, Treadwell parece singularmente independente - ele produz a maioria de suas filmagens sozinho, sem uma equipe - e também participa da mesma combinação incomum de improvisação e encenação que caracteriza os documentários de Herzog. Treadwell não se importa em permitir que fantasia e invenção participem na documentação da natureza. Herzog nos mostra Treadwell fazendo inúmeras tomadas e o elogia: ‘como cineasta ele era metódico, muitas vezes repetindo takes 15 vezes’. Além de sua inventividade, às vezes inadvertidamente, Herzog fica mais impressionado com as cenas de paisagens silenciosas e juncos ao vento. Ele diz: ‘em seu modo de filme de ação, Treadwell provavelmente não percebeu que momentos aparentemente vazios tinham uma beleza estranha. Às vezes, as imagens desenvolvem sua própria vida, seu próprio estrelato misterioso’. Também vemos fotos inesperadas: em uma sequência, uma raposa entra no quadro, e Herzog diz: ‘Como cineasta, às vezes as coisas caem no seu colo, que você não poderia nem imaginar, há algo como inexplicável magia de cinema'. Herzog claramente encontra um eco de sua própria técnica no trabalho de Treadwell". 6

Herzog chega a dizer, não escondendo o fascínio (e ao mesmo tempo a falta de surpresa) que já viu acessos de fúria estilizados e dramáticos, como os que mencionei mais acima, em cena antes, numa clara alusão a Klaus Kinski; um diretor louco e inconsequente vendo um louco inconsequente em cena e lembrando das atitudes de outro louco inconsequente, com que tanto trabalhou. Ou seja, quanto mais vamos ficando perplexos com aquela espiral rumo às profundezas do ser humano, mais o alemão se mostra à vontade, “jogando em casa”.

Para a estudiosa italiana de cinema Grazia Paganelli, “Timothy Treadwell, ao filmar a si mesmo no Alasca com os ursos-pardos, modifica tão sutilmente a situação que lhe confere uma realidade que foge completamente a todos os princípios de realismo. Não se trata apenas de posar diante do objetivo e ‘representar’ um papel, mas, sobretudo, de escolher o que mostrar e como fazer confluir uma verdade absoluta (o lugar tão selvagem e a realidade de sua própria experiência) com o próprio olhar sobre si mesmo e sobre aquele mundo. Herzog efetua um trabalho posterior, sobretudo selecionando o material e depois criando, por meio da montagem, um percurso que se torna, pouco a pouco, cada vez mais hiperbólico, mas que parece cada vez mais autêntico. Trata-se da subversão genial de uma situação impossível de ‘verificar’, é um filme que exclui a mise-en-scène como estratagema de realismo e que, no entanto, nos aparece como uma reconstrução, com a insistência do olhar para a câmera de Treadwell (a quem se dirige?, a quem são dirigidas as suas ‘visões’?) e imagens tão belas que não parecem ‘verdadeiras’. Já não se pode distinguir o verdadeiro do falso, já não há dois territórios puros, há sinais dispersos pelos dois ‘campos’: para lá e para cá da câmera está o cinema visionário e lúcido de Herzog”. 7

                                                              A esmagadora indiferença da natureza


Ou seja, Werner Herzog desmembra o material, que já não era totalmente espontâneo, para alcançar sua tão querida verdade extática, manipulando o que já era manipulado. Da mesma maneira, a dissolução do protagonista, enquanto cidadão que recusava dia após dia a sociedade e enquanto personalidade problemática se fragmentando em sentimento conflitante e contraditórios, é mostrada não só com esse deslocamento das imagens e do vaivém cronológico da dramática história, mas também nas muitas vezes em que Timothy é mencionado ou mostrado “aos pedaços” (Herzog também só aparece de costas para a câmera).

Eric Ames explica: “Grizzly Man explora a relação entre Herzog e Treadwell não apenas por meio da figuração, mas também por meio de desfiguração. É habilitado por um princípio de sinédoque, que opera através da narração e do diálogo, bem como através dos procedimentos cinematográficos de encenação, enquadramento e edição. Ao longo do filme, somos confrontados com representações de corpos em pedaços: braços, pernas, mãos, patas, dedos, garras, cabeças, crânios, dentes, ossos - a lista continua. Em cada instância, o objeto é uma parte do corpo que permaneceu em uma relação contígua com um todo ausente que não pode ser reconstruído. Um exemplo é o braço e a mão decepados de Treadwell, que teriam sido encontrados no chão no local de sua morte. (...) Em uma cena, filmada por Treadwell, vemos a mão dele saindo de trás da câmera para tocar o nariz de um urso. Em outra cena, filmada (e ostensivamente encenada) por Herzog, o médico legista do estado abre o que ele chama de ‘bolsa de provas’, remove um relógio de plástico “ainda em execução” e declara: 'Isso foi retirado do pulso de Timothy'”. 8

Esse “esquartejamento” de tantos elementos no filme serve para nos mostrar que, além do tempo (representado pelo relógio que ainda funciona), as únicas coisas que resistem ao destino e à decrepitude são a própria natureza, enquanto representação da existência inexorável e inescapável, e a memória – seja no que Timothy deixou gravado, quanto nas histórias sobre ele que os entes queridos contam, e sobre nós, que vemos o filme e saímos por aqui e por aí falando dele.

Eric Ames concorda: “Grizzly Man também figura a morte como um encontro face-a-face, reenquadrando as imagens de outro cineasta. Aqui está um cenário de espelho que Herzog parece aceitar e até apreciar. Não é um simples reflexo, mas um reflexo do seu eu mesmo assim. Em face disso, Grizzly Man parece ser um filme sobre Treadwell, mas também funciona como um filme sobre Herzog, sobre sua atitude em relação à natureza e questões de vida e morte, e sobre o papel da câmera em sua encenação da subjetividade. A voice-over conclui com uma generalização: 'Treadwell se foi. O argumento de quão errado ou certo ele estava desaparece à distância, em uma névoa. O que resta é sua filmagem. E enquanto observamos os animais em suas alegrias de ser, em sua graça e ferocidade, um pensamento torna-se cada vez mais claro: que não é tanto um olhar para a natureza selvagem quanto uma percepção de nós mesmos, de nossa natureza. E isso, para mim, dá sentido à sua vida e à sua morte'”. 9

Eu vi o filme no cinema, à época (inclusive tem um post sobre ele aqui) e revê-lo depois de tanto tempo foi uma experiência tão perturbadora, e às vezes angustiante, quanto da primeira vez, com a vantagem de que, hoje, mais de uma década e meia #MaratonaHerzog depois, ter muito mais conhecimento dos elementos que a projeção apresenta, para além do óbvio drama pessoal do protagonista. É Herzog em estado bruto, e, a despeito do pouco entusiasmo com o qual ele fala da própria obra, ele não contém sua excitação ao colocar as mãos no material: “Havia imenso material e ele era extraordinariamente complexo. Envolve uma grande tragédia e imensas questões sobre nossa civilização, como nos relacionamos com o mundo natural e como o perdemos”. 10

É obviamente uma história triste e trágica, mas fica o questionamento: o que é a felicidade? Quem pode julgar Timothy por preferir arriscar a vida no meio dos ursos em vez de procurar ajuda médica? Cada um com suas escolhas: driblando todas as suas contradições e vicissitudes, ele viveu intensamente o que escolheu como viga-mestre para sua vida, e morreu, como ele mesmo afirma diversas vezes no filme, onde ele se sentia em casa, onde ninguém lhe frustrava ou julgava. Mesmo calculando melhor os riscos, o próprio Herzog colocou a vida em risco por muito mais tempo, só para filmar o que queria, do jeito que queria. O finado Timothy busca transcender sua finitude insatisfeita protegendo ursos que nem precisavam ser protegidos. Herzog viaja mundo afora registrando os filmes mais absurdos sobre os temas mais idiossincráticos, em busca de suas verdades. E você, qual sua busca? Qual é o porto pelo qual você anseia enquanto navega mar adentro todos os dias?

O alemão não me deixa mentir: "Eu não tenho certeza se o vejo como um personagem triste". (...) "Certamente ele estava cheio de depressão, e ele tinha momentos em que ele chorava e ficava desesperado. Mas ao mesmo tempo você veria essa alegria exuberante da vida, e ele se sentindo grandioso sobre o quão maravilhoso ele é, então ele está cheio de contradições. Ele tem toda a escuridão da alma humana, e ele tem toda a exuberância e alegria". 11

Não é um filme sobre ursos – e, quando flora e fauna aparecem, nunca são romantizadas, como em Marcha Dos Pinguins, só para citar um filme que surgiu na mesma época, ou aparecem pouco desafiadoras, como Na Natureza Selvagem –, nem simplesmente sobre Timothy ou Herzog: é um mergulho no que este chama de “a esmagadora indiferença da natureza”, e isso inclui nosso obscuro lugar diante e dentro dela.

Uma das maiores experiências que você vai ter na vida. Veja, e nunca mais será o mesmo, para o bem e para o mal. Obra-prima, digna de figurar entre os clássicos setentistas do diretor.



Curiosidades:

- Herzog filmou seu material em três semanas – tendo visto até então pouca coisa das fitas de Treadwell – e editou tudo (seleção, montagem, narração) em nove dias;

- o diretor recrutou quatro assistentes que viram a maior parte do material bruto de Treadwell, e selecionaram as partes mais significativas, de acordo com as instruções do ‘chefe’;

- Herzog, pessoalmente, viu 10h a 15h das mais de 100h das fitas de Timothy Treadwell;

- sobre a decisão de não mostrar o áudio de Timothy e sua companheira sendo devorados (a câmera estava ligada, porém, com a lente tampada), Herzog afirma: “É um momento muito trágico e para mim ficou imediatamente claro que de forma alguma poderia aparecer no filme. Há um limite que não pode ser atravessado. Mais uma vez dei comigo confrontado com a questão dos limites, uma questão com que tive que lidar desde o início de minha vida profissional. Há um limite que não deveria ser atravessado e o limite consiste na privacidade e dignidade da morte de um ser humano”. 12

- o filme ganhou o Los Angeles Film Critics Association Award, o New York Film Critics Circle Award, o San Francisco Film Critics Circle Award, o Alfred P. Sloan Prize e o Toronto Film Critics Association Award;

- quando Herzog descreve a última fita de Timothy Treadwell, e diz a sua amiga para nunca ouvi-la, e, se possível, destruí-la, pois seria sempre "um elefante branco na sala", comete um claro erro, pois “elefante branco" significa um projeto extravagante, mas inútil, então certamente ele queria dizer apenas “elefante na sala", que significa algo não dito que é, no entanto, óbvio (e incômodo);
   
- algumas imagens filmadas por Treadwell já haviam sido mostradas nos documentários televisivos The Grizzly Diaries (1999) e Anatomy Of A Bear Attack ( 2004);

- Timothy também tem uma autobiografia, Among Grizzlies: Living with Wild Bears in Alaska, de 1997.



¹ DARGIS, Manohla. In.: https://www.nytimes.com/2005/08/12/movies/exploring-one-mans-fate-in-the-alaskan-wilderness.html
² 6 PRAGER, Brad. The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth. Wallflower Press, 2007.
³ 5 8 9 AMES, Eric. Ferocious Reality - Documentary According To Werner Herzog. University Of Minnesota Press, 2012.
4 ARAÚJO, Inácio. In.: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0206200618.htm
7 PAGANELLI, Grazia. Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema (Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.
10 12 HERZOG, Werner. In.: Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema (Segni Di Vita: Werner Herzog E Il Cinema, 2008), de Grazia Pahanelli. Editora Indie Lisboa, 2009.
11 HERZOG, Werner. In.: https://www.chicagotribune.com/news/ct-xpm-2005-12-30-0512300195-story.html

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