Alemanha (Munique) | 14min | 16 mm | cor
Roteiro, produção e direção: Werner Herzog
Montagem: Beate Mainka-Jellinghaus
Fotografia: Jörg Schmidt-Reitwein
Som: Haymo Henry Heyder
Elenco: não creditado
“Tentei descobrir como crianças de cinco ou seis anos percebem as coisas.” ¹
Feito
sob encomenda para o Institut fur Film und Bild in Wissechaft um
Unterricht (Instituto para o Cinema Científico e Didático), este
adorável curta-metragem (cujo título significa "Ninguém quer brincar comigo") gira em torno de crianças da pré-escola (que,
aliás, atuam com muita naturalidade), e seu roteiro foi escrito com base
em experiências que os próprios atores-mirins contaram ao diretor.
Aparentemente
é uma tentativa de campanha para que as crianças sejam mais sociáveis e
compreensivas inclusive com os coleguinhas que acham “estranhos”. Para o
estudioso de cinema alemão Brad Prager, no entanto, “em sua essência,
esse filme é mais sobre a virtude de compartilhar”. ²
A história
é bem simples: Martin é um menino que fica isolado do resto da turma,
sozinho no canto da sala, porque ninguém quer brincar com ele. As outras
crianças comentam entre si que ele é sujo, usa roupas velhas, mora numa
casa feia, não tem o que comer (só come pipoca), e por isso o rejeitam.
Antes só... |
Com algum esforço, Martin convence uma colega de sala, Nicole, a ir até a casa dele, para ver seu corvo falante de estimação. E então conhecemos seu corvo, sua casa, e descobrimos o porquê de o garoto parecer meio abandonado.
Daí o filme alterna momentos muito bonitos, como a
alegria do saltitante Martin por finalmente ter uma amizade (ele até dá
seu corvo de presente à menina), e a descoberta desse sentimento por
parte de Nicole (“Esse idiota é meu amigo!”), com outros mais
melancólicos, quando conhecemos a dura realidade familiar do garoto. E o
final, apesar de tudo, é feliz e tocante, com direito à reconciliação
com a turma e a um par de porquinhos-da-índia.
Não tem cara de filme do Herzog, eu sei. É bem mais singelo, delicado, ingênuo mesmo, do que a filmografia costumeira do diretor. Afinal, sabemos que o alemão não costuma se envolver muito nos projetos que faz sob encomenda.
Também
não sei o que o tal Institut fur Film und Bild in Wissechaft um
Unterricht tinha na cabeça quando chamou Werner Herzog para fazer um
filme infantil – sim, pois o público-alvo, não se esqueçam, são crianças
da idade de Martin e Nicole.
O resultado, até pelo aparente
pouco interesse do diretor (não duvido de que ele nem se lembre deste
Mit Mir Will Keiner Spielen), é um filme tecnicamente cru (parece um
documentário) e de resolução final um tanto corrida (até pelo curto
tempo de projeção).
Mesmo assim, recomendo vê-lo, até porque é
bem curto. E, de certa forma, temos, em formato mirim, um autêntico
personagem hergoziano em Martim, inadequado, desolado, solitário, um
tanto esquisito. Não é uma ruptura em sua obra.
E vale o ensinamento que o filme traz:
“Não existem crianças-problema, apenas pais-problema.” ³
Curiosidade:
-
o corvo da história é uma óbvia referência ao animal que acompanhava a
solitária infância do protagonista de Die Große Ekstase Des Bildschnitzers Steiner.
¹
PAGANELLI, Grazia. Sinais De Vida: Werner Herzog E O Cinema (Segni Di
Vita: Werner Herzog E Il Cinema, 2008). Editora Indie Lisboa, 2009.
² PRAGER, Brad. The Cinema Of Werner Herzog: Aesthetic Ecstasy And Truth. Wallflower Press, 2007.
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